Apesar do cansaço, todos os voluntários concordaram: as Olimpíadas do Rio foram uma experiência única que guardarão para sempre entre as suas melhores lembranças. Andrea Lavagnini, originário de Piombino, veio pela primeira vez ao Brasil. Desde Londres 2012 ele queria fazer uma experiência de voluntariado em Jogos, mas na época tinha apenas 18 anos.
— Foi algo que sempre me atraiu. Os meus pais me apoiaram e no final estão felizes, apesar de estarem um pouco preocupados porque estou longe de casa — contou o jovem italiano formado em mediação linguística e tradução, que se ocupava das traduções no Parque Aquático Maria Lenk.
Em seu segundo dia de trabalho, o voluntário teve a oportunidade de fazer a tradução simultânea para Francesca Dallapè que, em dupla com Tania Cagnotto, conquistou a medalha de prata nos saltos ornamentais.
Andrea ficou no Rio de Janeiro até dia 27 de agosto para aproveitar e conhecer melhor a cidade além do Parque Olímpico, e a bela Ilha Grande, na baía de Angra dos Reis. Ele visitou o Pão de Açúcar junto a outros voluntários italianos com os quais se comunicava através das redes sociais.
— Estamos em contato através de uma página no Facebook e de um perfil no Twitter, criados há quase um ano. Depois criamos um grupo no whatsapp para combinarmos de nos encontrar — explicou o jovem toscano.
Apesar de não serem remunerados, os voluntários recebem uniformes, transporte e refeições durante o horário de trabalho. Andrea acredita que vale a pena a experiência, apesar do gasto econômico, pois tem a possibilidade de ver os atletas de perto e de estar dentro das Olímpiadas.
Bisneto de imigrante que nasceu em Taubaté, italiano se emociona ao conhecer o Brasil
Da mesma opinião, Davide Gardina considera a oportunidade de trabalhar neste evento uma experiência belíssima porque se conhecem pessoas de todo mundo, num ambiente multicultural, onde se pode aprender muito.
— A galera é ótima e maravilhosa comigo! — soltou em português o italiano de 31 anos que, antes de chegar ao Rio, teve aulas particulares do idioma local.
Davide se ocupava do transporte dos jornalistas do Centro de Imprensa até as várias sedes das modalidades e também para os principais hotéis.
— Teve uma vez que um jornalista italiano me fez uma oferta de 100 euros para o meu relógio e eu recusei porque queria guardar como recordação o relógio oficial dos voluntários, que é belíssimo, como também o uniforme cheio de cores — relatou o italiano.
Originário de Rovigo, Davide conhece bem a história da emigração italiana no Brasil, em particular a da sua região, o Vêneto, de onde emigrou a família da sua bisavó, que nasceu em Taubaté (SP) e depois retornou à Itália.
— Eu queria visitar a cidade da minha bisavó, mas o Brasil é tão grande que não tive tempo de ir, pois trabalho todos os dias e tenho pouco tempo livre — afirmou o voluntário, que já pensa em voltar à terra tupiniquim.
Ele não economiza elogios quando o assunto é o povo brasileiro.
— É a primeira vez que venho para o Brasil, é um país maravilhoso. As pessoas são muito abertas, empáticas e muito prestativas para ajudar os outros. Encontrei pessoas que me ajudaram em todos os momentos: quando eu pedia informações, para falar mais devagar ou para saber qual era a parada do ônibus — contou o rapaz que, para vir à capital fluminense, pediu três semanas de férias no trabalho e com grande pesar não pôde participar do encerramento das Olimpíadas.
Funcionário da prefeitura, ele se ocupa de anagrafe, cidadania e estado civil, por isso conheceu vários brasileiros de origens italianas que foram até Rovigo com o objetivo de pedir cidadania.
— Os brasileiros que conheci na Itália me enviam sempre mensagens pelo whatsapp para saber como estou. Todas as manhãs, fico uma hora respondendo a todas as mensagens — comentou o voluntário, que gostaria de repetir a experiência, quem sabe em
Roma 2024.
Ex-atleta ítalo-brasileira realiza seu sonho no Rio
Os bisavôs de Viviane Tonietto vieram da mesma região de Davide e emigraram para Caxias do Sul (RS). A ex-atleta e campeã brasileira de esgrima, Viviane Tonietto, tem dupla cidadania e não queria ficar de fora dos primeiros Jogos Olímpicos sediados em seu país, por isso participou da seleção como voluntária.
— Tive leucemia e era um sonho de atleta vir para as Olímpiadas. Hoje só faço academia porque sou limitada devido às várias cirurgias pelas quais passei, então, estar nos Jogos Olímpicos é uma glória — frisou a gaúcha que mora em Florianópolis.
Entre as suas funções estava o controle de entrada dos atletas, da comissão técnica e dos jornalistas no Riocentro.
— No início tudo foi maravilhoso, depois vai ficando cansativo porque é muito trabalho. Deixei o meu filho de 17 anos em Florianópolis e enquanto estava aqui minha cachorrinha faleceu — relatou a atleta, que pratica esporte desde os sete anos.
De acordo com Viviane, o Rio de Janeiro conseguiu fazer os Jogos Olímpicos com excelência.
— Foi tudo lindo e as ocorrências foram poucas. Problemas de mobilidade e transporte existem em qualquer país que sedia um grande evento — finalizou a voluntária.
Na zona mista da piscina, voluntários veem de perto seus ídolos
Outra ítalo-brasileira que elogiou os Jogos foi Yasmine Gerbase, uma carioca que há cinco anos mora em Milão, onde estuda história da arte.
— No Brasil é sempre assim, no final tudo dá certo, porque quando querem, são organizados, porém sempre há pequenas falhas que poderiam ter sido resolvidas, mas no final conseguimos — avaliou Yasmine, que criticou o sistema de transporte: as finais de natação terminavam às duas da manhã e não havia mais o metrô para voltar para casa.
A voluntária trabalhava como assistente no serviço de tradução na zona mista do Estádio Aquático Olímpico, na Barra. Para ela foi uma experiência belíssima porque teve a oportunidade de conhecer pessoas novas e ver as competições nos bastidores, e não como um mero espectador.
— No começo era um pouco estranho. Eu tinha medo de falar com os outros, mas com o tempo me senti mais à vontade e agora é normal ver todos os dias os atletas, faz parte da rotina — contou a voluntária, que ajudou na tradução simultânea os nadadores italianos, entre os quais Gabriele Detti, bronze nos 400 metros e 1500 metros livre masculino. Yasmine mostrou as suas conquistas: os selfies com Detti e Gregorio Paltrinieri, ouro nos 1500 metros nado livre masculino, muito simpáticos e acessíveis.
— Quase todos na nossa equipe são estrangeiros e nos tornamos todos amigos. Já combinamos de participar dos Jogos de Inverno da Coreia 2018 como voluntários para continuar essa bela experiência — afirmou a carioca de 24 anos.
Entre os colegas de Yasmine havia um italiano que faz intercâmbio universitário no Rio de Janeiro, Marco Gambassa. Entusiasta da experiência como voluntário da Expo Milão em 2015, ele decidiu repeti-la nos Jogos Olímpicos.
— São experiências que dão muito em troca, talvez nem todo mundo entenda quando dizem que nos exploram, sem receber dinheiro, mas, na realidade, temos ganhos pessoais que vão além do valor econômico. Em primeiro lugar, fazer parte de uma organização que todo mundo está acompanhando, e segundo pelas habilidades e capacidade que se adquirem, em termos de línguas, gestão e várias outras coisas. Além disso, podemos ver os míticos atletas olímpicos — analisou o voluntário, originário da província de Brescia, que mora no Rio há seis meses.
Além de trabalhar no Parque Aquático, Marco participou de duas coreografias na cerimônia de encerramento com vestidos muito coloridos. O voluntário admitiu que as 40 provas demandaram muito esforço, porém foram divertidas e os membros que participaram se tornaram unidos.
Em relação à organização brasileira, Marco disse que foi superior as expectativas.
— Em nível geral foi boa, apesar de algumas falhas, comparada com a Expo. Há de se considerar que o evento italiano foi menor e mais simples de organizar. A Expo foi mais minuciosa, pensava mais nos detalhes e oferecia também alojamento aos voluntários que vieram de fora de Milão — finalizou Marco que, como os outros voluntários entrevistados, disse que Rio 2016 deixou muitas saudades.