Comunità Italiana

Carro compartilhado

Os serviços de car sharing viram moda e mudam a vida do milanês

O trânsito caótico de Milão está ganhando um aliado importante: a consciência coletiva de que os motoristas se tornam reféns de um modelo de vida sobre quatro rodas. As ruas, projetadas para carroças, com algumas largas artérias de exceção, acrescentadas nos anos do pós-guerra, simplesmente, não dão mais conta do recado. Somam-se a isso o alto custo do seguro obrigatório dos carros e a manutenção cara dos veículos novos, cada vez mais dependentes do mundo da eletrônica e, por isso mesmo, mais independentes dos mecânicos, ou seja, não se conserta mais nada, e sim se troca tudo, pagando pequenas fortunas por chips eletrônicos. Quando o tema da mobilidade pessoal toca o bolso do milanês, eis que as soluções começam a aparecer aqui e ali. Em Milão, o marco aconteceu em 2013, quando desembarcou o primeiro serviço de car-sharing, o alemão Car2Go, do grupo Daimler. Dali em diante, a concorrência aumentou. Surgiram o Enjoy (do grupo Eni), o Share’n Go e o DriveNow, da BMW. Milão conta com 323 mil usuários para uma frota de 1.900 carros — número que deve aumentar.
Em média, um motorista usa o seu carro apenas em 10% do tempo, mas com custos fixos que cobrem como se o período utilizado fosse de 100%, como o seguro e a inexorável desvalorização do bem. Isso significa que, durante 90% do tempo, um carro fica parado na garagem. As mentes mais lúcidas começaram a imaginar um serviço de aluguel de carros, personalizado e capilar nas principais metrópoles. Com isso, haveria menos veículos nas ruas e o trânsito fluiria melhor. Uma estratégia ambientalista até para evitar o aumento da poluição que é, em boa parte, provocada pelos escapamentos de gases dos automóveis.
Naturalmente, os preços do serviço variam em função da necessidade e da fidelidade do cliente final. Os aplicativos contribuem para o lançamento de serviços. A modalidade pay for use garante a produção de carros devido à necessidade constante da renovação de frotas. A expansão dos carros nas cidades coincidiu com o aumento desenfreado dos subúrbios. Alguns dados chamam atenção: cidades como Paris e Nova York possuem menos da metade de habitantes com carros. Os jovens ingleses, entre 17 e 24 anos, nem se interessam mais em ter uma carteira de motorista: basta e é suficiente que os meios de transportes públicos funcionem. Pelo menos esta é a leitura da diminuição em 41% dos exames na Inglaterra. Enfim, mesmo com tantas oportunidades, teve quem perdesse a aposta neste mercado. Na Itália, a operadora Twist, com 500 carros da Volkswagen, durou menos de um ano e encerrou as atividades em novembro de 2015. O GuidaMi também não decolou e tenta um renascimento sob outro nome, GirAci. Tudo por falta de planejamento adequado.
 
Empresas seduzem o cliente com frota moderna e serviços como gratuidade para mulheres na madrugada
A origem deste fenômeno foi em 2009, quando o colosso da Mercedes Benz apresentou o primeiro sistema criado por um grupo empresarial. Hoje, o serviço conta com 119 mil motoristas inscritos que, juntos, já percorreram 19 milhões de quilômetros, numa área de 14 mil metros quadrados. A frota é composta por 750 Smart de dois lugares e 50 Smart para quatro ocupantes. As tarifas variam de 24 a 26 centavos de euros, entre fórmulas que contemplam 59 euros por 24 horas de uso ou 13,90 euros por hora.
Às Smarts na corrida por um lugar ao sol, juntam-se os sofisticados BMW e os charmosos Mini, cartas na manga do DriveNow, que contam com a parceria da companhia de aluguel de carros Sixt. Até o fim do ano, 20 BMW elétricas irão fazer parte do serviço que opera numa zona de 126 quilômetros quadrados. Naturalmente, o serviço está negociando convênios com os aeroportos Malpensa e Linate. Já o concorrente Share’n Go apresenta 800 carros elétricos e propõe uma tarifa de 28 centavos de euro por hora, além de aluguéis gratuitos para mulheres entre uma hora da madrugada e seis da manhã. A Enjoy introduziu o uso de triciclos Piaggio na frota, ao custo de 35 centavos até 50 quilômetros de estrada batida, além de 50 Fiat 500 com cadeirinhas para crianças. Sem esquecer-se de ninguém e seduzindo o cliente com mimos e cuidados, o mercado automobilístico se mantém na pista, não derrapa e guia o futuro ao dar carona para a tendência.