Se você é daqueles que lamentam que os jovens só se interessam por redes sociais e games, deixando os estudos de lado, saiba que não é bem assim. Ainda existem muitos interessados pela Ciência. Um grupo de 345 adolescentes de São Paulo participou da expedição Missão XII, um programa do governo norte-americano de estímulo à pesquisa espacial entre os jovens. Durante três meses, temas tão curiosos quanto complexos, como o cultivo de alimentos no espaço, foram investigados por essa turma, que tem entre 11 e 13 anos de idade.
Três projetos nas áreas de saúde e construção civil já foram pré-selecionados por uma banca de professores e pesquisadores. Um deles será escolhido e testado por um astronauta numa estação da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), em junho do próximo ano. É a primeira vez que o Brasil participa da expedição Missão XII, um programa do Centro Nacional para Educação Científica para Terra e Espaço (NCESSE), que está na sua 12ª edição.
Os estudantes brasileiros inscritos na Missão XII cursam o sétimo ano do ensino fundamental. A maior parte deles estuda no colégio Dante Alighieri, mas também participaram alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Perimetral (EMEF) e do Projeto Âncora.
A coordenação do projeto no Brasil é feita pelo engenheiro espacial e diretor da Missão Garatéa, Lucas Fonseca.
— Esse projeto foi muito interessante porque proporcionou a esses jovens liberdade para sonharem e apresentarem projetos muito criativos. Recebemos 73 trabalhos com ideias que eu jamais teria imaginado, e algumas delas viáveis e com bom potencial para contribuir com a pesquisa espacial.
Os estudantes das três instituições trabalharam em parceria e de forma colaborativa com o apoio de professores, além de usarem os laboratórios e materiais do colégio Dante Alighieri. O desenvolvimento da questão-problema, da hipótese e da solução partiu exclusivamente dos alunos.
Visão pedagógica orientada para o século XXI
A coordenadora-geral pedagógica do Dante Alighieri, Sandra Tonidandel, afirma que o colégio abraçou o projeto porque ele traz uma proposta de valorização da Ciência e Tecnologia, muito identificada com os valores da escola.
— Essa visão pedagógica orientada para a Ciência e Tecnologia é importante para quem vive no século XXI. A Missão XII desafiou os alunos a criarem uma situação-problema, uma hipótese e uma solução. Conhecer o caminho da produção de Ciência é fundamental para o cidadão do atual século — afirma Sandra.
O aluno do sétimo ano do Dante, Pietro Labate, é um dos autores do projeto que está entre os três finalistas. Junto com os colegas do Dante, da EMEF Perimetral e do projeto Âncora, ele desenvolveu um estudo sobre o efeito da baixa gravidade do espaço sobre a coagulação do sangue:
— Achamos que essa ideia pode ter muita utilidade para os astronautas. A pesquisa vai comprovar se é possível fazer uma transfusão de sangue numa estação espacial, que é um ambiente de microgravidade — explica o pequeno cientista.
As 44 escolas dos países participantes da Missão XII estão convidadas a apresentar seus projetos em um congresso científico no Museu Aeroespacial, em Washington (EUA), em agosto de 2018. A equipe brasileira que for selecionada também viajará para o congresso a convite da Missão XII. O estudo vencedor será experimentado na estação espacial da empresa Space X durante um ano. Os resultados serão apresentados no próximo congresso científico, em 2019.
O Centro Nacional para Educação Científica para Terra e Espaço (NCESSE) avaliou a experiência com o Brasil como muito positiva e anunciou que essa parceria passará a ser anual, a partir do próximo ano.
— A expectativa da Missão Garatéa é receber a inscrição de cerca de 30 mil trabalhos nas próximas edições da Missão XII — afirma Fonseca.
O otimismo nas alturas é sustentado pelas conquistas da Missão Garatéa que, segundo o diretor, será patrocinado pelo Instituto TIM e contará com a parceria da Secretaria municipal de Educação de São Paulo em 2018.
Projetos brasileiros prestes a conquistar o espaço
Na última etapa da seleção, três projetos foram enviados para a equipe do Centro Nacional para Educação Científica para Terra e Espaço (NCESSE), que escolherá um deles para ser testado na estação espacial:
-“Sangue no espaço”: investiga como o sangue conservado para transfusão sanguínea se comporta em um ambiente de microgravidade, visando à possibilidade de atendimento de astronautas que venha a precisar de transfusão de sangue
-“Vacinas mais acessíveis”: indaga se o tungstato de prata pode inibir o desenvolvimento bacteriano no ambiente de microgravidade do espaço, com o objetivo de criar uma vacina mais barata para o tétano
-“Cimento espacial”: investiga como o cimento pode reagir em um ambiente de microgravidade para se descobrir se pode ser utilizado em outros planetas no caso de possível ocupação humana