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Coletes azuis do “Retake Roma” lutam contra degradação da cidade

07 de janeiro de 2019 - Por Matheus Sousa
Coletes azuis do “Retake Roma” lutam contra degradação da cidade

 

Organização voluntária realiza atividades pela capital para promover o cuidado com a cidade

Munidos com escovas, esfregões e produtos de limpeza e vestidos com seus coletes azuis, um grupo de voluntários atua por toda Roma com o objetivo de conter sua deterioração e degradação. São os membros do “Retake Roma” (Recupera Roma), uma organização cidadã, sem fins lucrativos e apolítica, que desde 2014 luta contra a deterioração da capital organizando “mutirões de limpeza” por todos os bairros.

“Não nos damos por satisfeitos por viver em uma cidade com um grande patrimônio artístico e cultural. Queremos que este patrimônio seja desfrutado por todos, sem ser ameaçado por sujeira, descuido e má educação. E por isso decidimos nos ocupar disso”, disse à Agência Efe Alessia Mollichella, vice-presidente do “Retake Roma”.

No sábado (6), como muitos outros dias, foi organizada uma atividade no Parque dos Aquedutos, um belo lugar a 8 quilômetros do centro de Roma, onde dezenas de pessoas, muitas jovens, coletaram lixo munidos com bolsas de plástico e luvas.

Os voluntários do “Retake Roma” não se dedicam apenas a limpar com seu arsenal de “armas de limpeza em massa” as várias pichações que sujam as paredes da cidade – inclusive as de edifícios e lugares de grande valor histórico – e a retirar cartazes e outros adesivos que degradam os muros, mas realizam também uma tarefa necessária de conscientização.

Desde os 300 “retakes” que foram organizados em 2015, no ano passado esse número chegou a quase 600 atividades, feitas em praças, escolas, estações de metrô, parques e outros lugares públicos.

“É preciso uma grande mudança cultural que afete a todos: autoridades e cidadãos devem respeitar Roma, senti-la como sua própria casa, ver os bens públicos como se fossem privados”, afirmou Mollichella.

“Ninguém pensa em sujar a casa na qual vive, jogar papel no chão ou bitucas de cigarros, escrever nas paredes. Por isso, devemos chegar ao ponto em que as ruas pelas quais caminhamos sejam percebidas como o prolongamento da nossa casa”.

Frente à resignação que parecem sentir muitos romanos em relação à endêmica sujeira e descuido da cidade, e à aparente incapacidade dos sucessivos governos de regular o problema, a responsável do “Retake” assegura: “Não perdemos a esperança e o nosso compromisso demonstra isso”.

“Em primeiro lugar, sensibilizamos as administrações sobre alguns assuntos, como o das pichações, que antes nem sequer eram percebidos como um problema, e também pedimos às instituições para que se mobilizem, para que nos apoiem e atuem, por exemplo a contratar serviços que atualmente não tão cobertos, como por exemplo a eliminação dos cartazes e dos graffitis”, ressaltou Mollichella.

Em dezembro, a organização teve seu trabalho reconhecido com a concessão da Ordem do Mérito da República Italiana por parte do presidente do país, Sergio Mattarella, dada a Rebecca Spitzmiller, uma de suas fundadoras, “por seu permanente compromisso na luta contra a degradação urbana e pela defesa dos bens comuns”.

Esta pesquisadora universitária americana residente em Roma, farta de ver as pichações e cartazes que sujavam sua rua, começou a limpá-la conta prórpia e, poucos anos depois, centenas de pessoas se uniram a ela e fundaram o “Retake Roma”.

“Fiz isso por dignidade pessoal, mas também porque penso que uma mudança de mentalidade é possível, e mais que possível é um dever, porque Roma é patrimônio de todos. O que vamos deixar para nossos filhos e netos?”, declarou Spitzmiller à Efe no Parque dos Aquedutos.

Ela acredita que a limpeza e cuidado da cidade é “responsabilidade das autoridades e dos cidadãos: a democracia funciona assim, uns devem não sujar e outros punir quem o faz, e limpar e recolher o lixo”.

“Nossa missão é divulgar a palavra de orgulho e dever cívico e estimular as instituições a fazer sua parte”.

Agora, milhares de voluntários são integrados em 85 grupos de bairros por toda Roma e a organização já se espalhou para 38 cidades italianas.

“Ser ‘retaker’ é uma escolha de vida, uma forma de ser. Você não é somente quando participa de uma atividade, mas sempre, atuando e vivendo responsavelmente em todos os momentos do dia, também enquanto está no seu trabalho, sensibilizando os que te cercam”, afirmou Mollichella.

De vez em quando o movimento consegue grandes conquistas, como há algumas semanas, quando depois de enviar várias notificações ao governo, a autoridade de Bens Culturais limpou a antiga Ponte Cestio que cruza o rio Tibre. (com informações da Agência EFE)

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.