O ator francês Vincent Cassel, ex-marido de Monica Bellucci e apaixonado pelo Rio de Janeiro, é a estrela do filme
O Conto dos Contos, do diretor italiano Matteo Garrone
Vincent Cassel fala português com sotaque carioca. Desde 2012 o ator francês tem uma casa no Rio, onde morou por três anos, dois deles com a então esposa Monica Bellucci. A ruidosa separação fez com que a atriz italiana deixasse a capital fluminense com os dois filhos do casal, após uma união de 14 anos. Cassel ficou.
— Adoro o Brasil. Sou o francês mais carioca do mundo. Não tenho ido muito à cidade nesse último ano, porque estou filmando e divulgando meu trabalho em várias partes do mundo, mas gosto bastante do Rio — revelou o ator à Comunitá durante o Festival de Cannes, onde esteve lançando seu mais novo trabalho, o longa O Conto dos Contos, dirigido pelo italiano Matteo Garrone.
Aos 49 anos, Cassel se dá ao luxo de escolher o trabalho que quer fazer. E ele escolheu trabalhar com Garrone, diretor de longas como Gomorra e Reality, ambos premiados no Festival de Cannes, de quem é admirador confesso.
— Quis fazer este filme especialmente pelo trabalho do cineasta. Gosto muito do Matteo Garrone. Creio que um bom filme está diretamente relacionado ao talento do diretor. Então, não penso tanto no roteiro, porque prefiro confiar no trabalho de quem dirige.
Multifacetado, Cassel poderia muito bem viver os mocinhos de filmes em diversos idiomas (além da língua pátria e do português, ele fala inglês e russo), mas prefere ser o vilão.
— Gosto dos vilões. Meus personagens sempre têm algum desvio, mas não são totalmente maus. Porque ninguém é totalmente mau. Todos podemos ter sentimentos ruins. Papeis que lidam com esses sentimentos me atraem mais — contou o ator, que no filme de Garrone vive um rei lascivo que se envolve com uma bruxa.
O Conto dos Contos é uma trama de realismo fantástico, baseado no livro do consagrado escritor italiano Giambattista Basile. Com um elenco globalizado — que conta, além do francês Cassel, com a mexicana Salma Hayek, o americano John C. Reilly e a italiana Alba Rohrwacher — Garrone optou por usar o inglês como idioma do filme. Vincent Cassel comentou sobre como é filmar em outro idioma.
— Há limites para se fazer um longa em outro idioma. Eu não tenho a mesma capacidade para improvisar em inglês ou em português, mas isso também é bom para o trabalho.
Sem conhecer o autor italiano, Cassel se guiou pelo trabalho de Garrone para fazer o longa.
— Este não é um filme óbvio, e isso me interessou bastante. Você não tem ideia de quem é o mocinho e de quem é o vilão, porque os personagens têm qualidades e defeitos — comentou.
Filmado na Itália e falado em inglês
A trama é falada em inglês, porém o filme foi rodado na Itália, o que agradou bastante ao ator francês.
— Minha vida já foi dividida entre Roma, Paris e Rio. E eu sou um grande fã do cinema italiano. Gosto, especialmente, da Era de Ouro. No mesmo filme havia humor, drama, comentários sociais. É um cinema sensível e sensual. E hoje, Matteo (Garrone), para mim, é um dos melhores diretores de sua geração na Itália — elogiou.
Cassel, no entanto, faz uma ressalva sobre a diferença entre o cinema italiano e o do resto do mundo.
— Acho curioso que, na Itália, Matteo seja considerado um jovem diretor aos 47 anos. Na França, um jovem diretor tem 23 anos. Eu acho que a indústria cinematográfica, em muitos lugares no mundo, não deixa os jovens diretores trabalharem de fato. Isso acontece na Itália, e também no Brasil, onde todos os jovens diretores estão fazendo TV agora. Esse é o problema. Eles vão direto para a TV e dessa forma o caminho para o cinema fica mais distante — criticou.
Depois de O Conto dos Contos, Vincent Cassel vai lançar O Filme da Minha Vida, de Selton Mello, e o novo longa da trilogia de Jason Bourne, ainda sem título definido, em que ele interpreta novamente um vilão.