Comunità Italiana

“Crescendo o dobro do Brasil”

O estado de Pernambuco ganha notoriedade pelos altos índices de desenvolvimento e de aprovação do seu governador, Eduardo Campos 

{mosimage}O governador de Pernambuco e economista Eduardo Henrique Accioly Campos tem 45 anos, é casado e pai de quatro filhos. Nasceu em Recife, em 10 de agosto de 1965, membro de família já consagrada na política – é neto do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e filho da atual deputada federal, Ana Arraes.

Campos começou a militância como presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Economia (UFPE), em 1985. No ano seguinte, abandonou o curso de mestrado para se tornar chefe de gabinete do avô. Em 1990, foi eleito deputado estadual pelo PSB. Quatro anos depois, foi a deputado federal, renunciando ao mandato para assumir a Secretaria de Governo de Pernambuco, nos dois anos posteriores. Até 1998, foi secretário da Fazenda. Em 2002, elegeu-se pela terceira vez deputado federal. Em 2003, foi nomeado ministro da Ciência e Tecnologia. Em 2005, retornou à Câmara. Nesse mesmo ano, foi eleito presidente nacional do PSB.

Carismático e visto como um forte candidato à presidência da República, após receber mais de 80% dos votos válidos para reeleger-se governador de Pernambuco, ao final do evento, em Roma, Eduardo Campos concedeu uma entrevista ao repórter Leandro Demori, que você confere a seguir.

CI – Quais os prazos para o início das operações da nova fábrica da FIAT?

Eduardo Campos – Assinamos no final de 2010 e a partir disso já passamos o terreno na cidade de Suape para a FIAT. É uma doação do estado e certamente reverterá em impostos e empregos quando a indústria começar a operar. Publicamos também nos jornais os editais para fornecimento de serviços de infra-estrutura no local onde será construída a planta.

CI – Haverá troca de tecnologia?

EC – Assinamos um acordo com o Instituto Politécnico de Turim para fazer um intercâmbio de engenheiros entre os dois países. Estudantes das nossas universidades passarão três anos aqui, terminando sua formação, e depois devem voltar ao Brasil pra trabalhar na fábrica. Queremos fazer uma ligação entre a nossa academia e a indústria.

CI – O senhor fez uma apresentação na embaixada brasileira em Roma para centenas empresários e possíveis investidores no mercado brasileiro. Pernambuco foi sempre considerada uma ilha em meio ao deserto do Nordeste, visto como economicamente problemático, coronelista, atrasado, dispendioso. Essa imagem da região ainda corresponde à realidade?

EC – Estamos vivendo um novo momento no Brasil, com retomada de crescimento e desenvolvimento. E nesse período, a região que mais cresce é o Nordeste. Boa parte dos problemas que enfrentamos, eram por conta da situação do próprio país. As desigualdades que o Brasil foi se permitindo se manifestavam com mais intensidade na região, até por conta da ação de políticos que nunca cuidaram do povo. Essas lideranças foram ultrapassadas pelo tempo. As últimas eleições serviram para varrer da política nordestina a velha prática patrimonialista e descolada de qualquer espírito público. Conforme melhora a educação, a inclusão, conforme se reduzem os desequilíbrios também melhoramos a política. Isso tudo faz com que o Nordeste se apresente hoje não mais como parte do problema, mas como parte da solução. O Pernambuco está vivendo um momento muito positivo da sua economia, vem crescendo mais que o dobro do Brasil nos últimos quatro anos, sendo reindustrializado. Isso tudo tem um sentido que é reduzir as desigualdades.

CI – A Itália terá em junho um plebiscito sobre a retomada do programa nuclear nacional em um momento delicado para o setor, que sofre uma de suas maiores crises. Durante a sua campanha, admitiu-se a possibilidade de que Pernambuco possa sediar uma usina nuclear caso o Brasil construa novas centrais. Já foi ativado algum tipo de programa estadual?

EC – De fato nós não manifestamos esse interesse, durante a campanha política se falou…

CI – …haveria até mesmo uma cidade já designada, o município de Itacuruba…

EC – O Brasil tem um programa nuclear há mais de 40 anos que fez com que o país construísse duas usinas (Angra I e Angra II) e parasse a terceira (Angra III). Mais recentemente o Brasil decidiu retomar Angra III, que está em obras, e reexaminar o plano dos anos 70 que previa seis usinas no nordeste brasileiro. Entre esses, um seria o de Itacuruba. Esse estudo não é feito pelo governo do Pernambuco, é feito pela Eletronuclear, federal. Até porque nossa constituição estadual veta a construção.

CI – O senhor tem uma posição sobre o tema?

EC – Não está na nossa pauta e nem mesmo consta em nenhum programa de investimentos nos próximos 10 anos.

CI – Que tipo de investimento o senhor veio buscar na Itália?

EC – Viemos mostrar as oportunidades na área de petróleo, gás, naval, automotivo, fármacos, bens duráveis, alimentos e turismo. Nós vamos abrigar jogos da Copa e podemos abrigar também delegações para as Olimpíadas. Isso trará muitas vantagens para o entretenimento do estado.

CI – O senhor é um dos nomes cotados para as eleições nacionais de 2014. Teve a maior votação percentual do Brasil (82% dos votos válidos) e tem uma tradição familiar importante no mundo da política (é neto do ex-governador Miguel Arraes e filho da senadora Ana Arraes). Cogitou-se que ao sair do DEM, Gilberto Kassab fosse para as fileiras do seu partido, o PSB (da qual é presidente nacional). A fundação do PSD por parte do prefeito de São Paulo esfriou um pouco seus ânimos?

EC – Não estamos discutindo 2014 ainda. Nosso projeto é fazer com que Dilma chegue bem e dispute a reeleição. A saída do Kassab era prevista e aconteceu o que se sabia, ele saiu do DEM e montou um novo partido. E esse partido vai nos ajudar nos estados para termos, todos, mais tempo de televisão. Em alguns estados será natural, em outros vamos conversar.

CI – Pode haver futuramente uma fusão entre PSD e PSB?

EC – Não estamos tratando de fusão, estamos tratando de uma força nova que vai precisar se afirmar no país e que quer dialogar com partidos que estão na base de sustentação do governo Dilma. Eu tenho uma boa relação com o Kassab, fomos deputados juntos. Nesse momento ele está buscando apoio de várias lideranças regionais para fundar seu partido, e isso exige um posicionamento de todos. No nosso caso é se colocar na posição de diálogo e ver onde é possível fazer alianças.

CI – Para os empresários, o senhor defendeu que o Brasil é um laboratório de política. O esvaziamento do DEM é mais um enxugamento pelo qual a oposição brasileira passa. A oposição no laboratório de política acabou?

EC – A oposição diminuiu de tamanho pela expressão do voto, do apoio que a população deu ao presidente Lula e à presidente Dilma. Mas ela merece nosso respeito, tem grandes brasileiros na oposição, gente com quem dialogamos. Não é bom para o Brasil e para nenhum lugar do mundo que não exista oposição, é da natureza da democracia. É bom para o governo que haja uma oposição vigilante para que possamos corrigir nossos erros.