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Crise cidadã

A Itália completa 25 anos de “Mani pulite”. O mesmo processo que inspira o juiz Sérgio Moro e se transformou na Lava Jato brasileira não teve, porém, o efeito comemorado no país europeu. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Magistrados italianos, Piercamillo Davigo, “é dramático o quanto pouco mudou a situação e o quanto piorou a corrupção do país no cenário internacional”. Ele participou de um fórum em Milão para discutir o sistema judiciário e, junto a outros especialistas, a conclusão foi a de que não adianta simplesmente penalizar. É necessário uma revolução cultural que comece pelas escolas.
Como na Igreja existe o sacerdote que vende objetos sacros, no Estado existe o funcionário público que vende coisas que vão contra o seu compromisso com o público. Após a operação italiana, observamos exatamente que o jogo dos deputados e senadores era o de criar leis para beneficiar os envolvidos. Houve prisões exemplares sim, mas a administração pública continuou nas mãos de funcionários incompetentes e comprometidos. Os mecanismos de corrupção se sofisticaram ao longo dos anos e novos partidos surgiram como se fossem a renovação política através de um código de ética, mas mostram, como no caso do “5 Stelle”, que continuam com as mesmas práticas e não são poucos os casos de envolvimento de quadros do partido em escândalos.
Mais do que cartilhas partidárias, os parlamentos deveriam prezar por um código de comportamento em que os colegas parlamentares, ao invés de fazer corporativismo, deveriam punir seus pares, sem moralismo, mas com bom senso. Para os magistrados reunidos em Milão, as injustiças também estão nas leis que são feitas pelos homens, pois muitas delas são contrárias ao senso comum de justiça. “Atrás das grades vão os que deslizam e se deixam pegar em flagrante ou aqueles que fazem parte do crime organizado. Outros, muito espertos, se utilizam das próprias leis para serem soltos ou continuarem soltos”, declara Davigo. E ele faz ainda uma analogia. “Os juízes do tribunal são como os pais, severos quando necessário, e os da Corte de apelo como os avós, em regra geral estragam os netos”.
Na Itália e no Brasil, guardadas as devidas proporções e os avanços históricos na sociedade italiana, o número de processos é absurdamente alto e existe a hipocrisia social.
Como princípio, trazemos, a cada mês, as oportunidades e os exemplos que podem servir para ilustrar ou até mesmo serem adaptados entre os dois países. Portanto, além de trazermos nesta edição entrevistas exclusivas e matérias que mostram muito além das belezas brasileiras e italianas, buscamos dar aos nossos leitores a mais completa ferramenta de informação para que seja usada como uma bússola que indique caminhos ou ainda como ferramenta de estudo e para seu entretenimento.
Boa leitura!