Terceira maior economia da zona do euro, a Itália mergulha novamente em uma crise política, após a implosão da coalizão de governo. Qual pode ser o impacto desta mudança?
Assim que os mercados abriram nesta sexta-feira (9), a proporção entre os títulos públicos da Itália e da Alemanha deu um salto de 25 pontos, a 235, refletindo a preocupação dos círculos financeiros.
A Bolsa de Milão fechou em baixa, com queda de 2,48%.
“A incerteza tem um preço, se chama ‘spread’, e implica a possível redução da nota da Itália das agências de classificação” de risco, explicou Carlo Alberto Carnavale Maffe, professor da Universidade Bocconi de Milão.
Por acaso, a agência de classificação Fitch deve revisar a nota da Itália nesta sexta-feira. Atualmente, ela é “BBB” – dois níveis acima da categoria especulativa, chamada de “lixo” – e pode tender para o negativo.
Analistas estão divididos sobre a decisão da agência, que não terá tempo de considerar o impacto da crise política deflagrada nesta quinta-feira.
Em outubro de 2018, a Moody’s reduziu a classificação da Itália para “Baa3”, logo acima da categoria especulativa. A agência explicou que tinha preocupações orçamentárias com a coalizão populista no poder nos últimos meses.
De acordo com a Maffe, “agosto é um mês com volume baixo de comércio (nas bolsas de valores), e as pequenas variações têm um impacto muito grande”.
Economia apertada
A terceira maior economia da zona do euro não está em um bom momento. Após registrar uma “recessão técnica” na segunda metade de 2018, a Itália teve crescimento zero do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros seis meses do ano.
Em 2019, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) calculam um crescimento italiano de apenas 0,1%, e o governo, de 0,2%.
Alguns especialistas são ainda mais pessimistas e acreditam que o país pode voltar à recessão.
A economia italiana é afetada pela desaceleração que atinge a Europa toda, bem como pelas tensões comerciais entre China e EUA e pela cautela das empresas, que acabam investindo menos diante da situação global e da instabilidade política local.
Como resultado, a taxa de desemprego está em 9,7%, chegando a 28,1% entre os jovens de 15 a 24 anos. O índice é bem superior à média da zona do euro, de 7,5% e 15,4%, respectivamente.
Soma-se a isso a dívida colossal de 2,3 trilhões de euros, 132% de seu PIB, a mais alta da zona do euro depois da Grécia.
Bruxelas pressiona a Itália constantemente para reduzir seu déficit público. Em várias ocasiões, houve atritos entre a Comissão Europeia e o governo italiano, que acabou anunciando que o déficit público em 2019 não vai superar os 2,04% do PIB – contra os 2,4% previstos a princípio.
O que pode acontecer se Matteo Salvini vencer as eleições antecipadas?
O líder de extrema direita da Liga sempre criticou a intervenção da União Europeia e estima que o atual ministro italiano da Economia, Giovanni Tria, é muito conciliador com Bruxelas.
Em declarações recentes, Salvini garantiu que o próximo orçamento não pode ficar “abaixo do déficit de 2%”.
“Os dogmas de Bruxelas não são sagrados”, alertou.
“Certamente vamos ter confrontos com a Europa, mas com um governo e um Parlamento legitimados pelo voto dos italianos”, antecipou.
Salvini, cujo eleitorado é composto por pequenos empresários e artesãos do próspero norte industrializado do país, afirma ser preciso adotar um orçamento “corajoso”, com cortes de impostos significativos e grandes obras públicas, para impulsionar o crescimento.
Ele também prometeu evitar o aumento do imposto sobre produtos, o IVA, já aprovado pelo atual Parlamento – apesar de precisar de 23 bilhões de euros adicionais para executar seus programas. (AFP)