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As rivalidades se exaltam cada vez mais em nossos dias. É curioso observar como ofensas ganharam tons imediatistas inclusive entre governos, instituições, nações, tudo ali, nos dedos e na boca de líderes do nosso tempo. Assim como brasileiros e argentinos, italianos e franceses sempre tiveram rivalidades, os primeiros mais no campo do futebol, já os europeus em diversos episódios históricos como a colonização da Córsega ou no confronto militar conhecido como Cerco de Turim, em 1640.
Novamente os tons subiram entre duas das maiores economias da Europa. E é curioso ver como quase nada tem consenso entre as duas forças do governo italiano, mas Emmanuel Macron é uma unanimidade entre Lega e Movimento 5 Estrelas (M5S). Especialistas dizem que polêmica acontece no âmbito da crescente batalha movida pela Itália, na busca por criar um antagonismo com a França dentro da União Europeia, em vista das eleições para renovar o Parlamento do bloco, entre 23 e 26 de maio. Aliadas de longa data, Roma e Paris viram suas relações bilaterais azedarem desde a chegada, em junho, do antagônico Governo italiano. Ao entrar no Palácio Chigi, sede governamental, o antissistema M5S e a nacionalista Lega olharam para o vizinho e viram um Emmanuel Macron já impopular e que sofria para implantar o liberalismo social que derrotara a extrema-direita de Marine Le Pen um ano antes. Desde então, o presidente da França se tornou o alvo favorito dos vice-primeiros-ministros italianos, Matteo Salvini (Liga) e Luigi Di Maio (M5S). “Senhorzinho que se excede no champanhe” e “hipócrita” foram alguns dos epítetos contra Macron, defensor do bloco europeu, em linha com a Alemanha. Por sua vez, o francês ataca dizendo que “a Itália merecia lideres à altura de sua história”.
Mas hoje a economia entre os dois países é tão ligada que é impossível de se permitir uma quebra de relações. Uma coisa é buscar o respeito do líder francês, outra é fazer propaganda com insultos que levam somente a novos likes nas redes sociais. Por sorte, existe um líder da estatura de Sergio Mattarella, presidente capaz de dialogar em nível adequado com os destinos de duas nações indiscutivelmente ligadas pela geografia e cultura. Os povos muitas vezes não se suportam, mas devem se respeitar.
E essa palavra é a base de tudo. Ela vem do latim respectus, re-espicere: olhar mais vezes, rever com atenção. Ao contrário de despeito, que deriva de despectus, de-espicere, olhar do alto pra baixo, desprezar. Um olhar nunca é neutro. A vida é enriquecida pelo que tem capacidade de colher e o olhar é o interruptor que ilumina os resultados. No outro caso, vemos somente embates, gritos de infelicidade, escuridão.
Seguir em frente com soluções para pessoas ou instituições depende de caminhos pavimentados de respeito e diálogo. E isso não é para qualquer líder. É preciso sabedoria para rever a história e coragem para encontrar caminhos alternativos. Numa era onde é cada vez mais raro encontrar pessoas, onde todos se protegem de seus pares atrás de telas, encontrar soluções razoáveis não dependerá certamente das mais de seis horas em média que passamos diariamente na Internet, ou das duas horas que passamos nas redes sociais, ou ainda das três horas diárias diante das tvs (seja broadcast, streaming, vídeo on demand). Sem mudança no centro de gravidade, que é o respeito, encontramos a indiferença e a intolerância. Permitir-se um passo atrás, prestar atenção, não fugir por medo de deixar-se ferir, são princípios do diálogo, e por que não, do amor.
Boa leitura!