Comunità Italiana

De olho no Brasil

Stefano Tarascio, gerente geral da Luxottica, a gigante italiana que produz e distribui as marcas de óculos mais cobiçadas do planeta, acredita no potencial de crescimento no país

Ele chegou ao Brasil em outubro de 2015. Por conta disso, ainda tem certa dificuldade em falar português, misturando um pouco as palavras com o italiano ou o inglês. Mas nada que impeça a clara compreensão das ideias que deseja transmitir.
— Até novembro do ano passado, eu me comunicava mais em inglês ou italiano. Mas decidi me aprofundar no português, estudar mais e fazer aulas particulares. Se estou no Brasil, preciso me comunicar com todos em português — conta Stefano Tarascio, de 39 anos, gerente geral da Luxottica no Brasil.
Nascido em Bolzano, na região do Trentino Alto-Ádige, com formação em Business e Administration pela Universidade Comercial Luigi Bocconi, de Milão, Tarascio começou a trabalhar na sede da Luxottica, em 2005. Nesses dez anos foi um dos principais executivos da empresa, líder mundial na produção e distribuição de óculos solares, de luxo, esportivos e de grau, sempre atuando no sentido de aumentar as vendas das várias marcas próprias ou licenciadas produzidas pela empresa.
— Embora continuasse a morar em Milão, nesse período viajei por mais de 50 países para conhecer nossas subsidiárias. Também aprendi muito na sede — conta Stefano.
Com essa vasta experiência, não tardou a receber o convite para comandar a Luxottica no Brasil.
— Assim que cheguei, estranhei um pouco. Mas, depois, percebi que o país é muito parecido com a Itália, e São Paulo é uma grande Milão. E isso posso dizer com certeza, pois morei mais de 20 anos naquela cidade. Também percebi que os brasileiros são muito receptivos e os funcionários da Luxottica daqui são semelhantes aos de outros países. Aliás, essa é uma de nossas características. A empresa é global, tem 77 mil funcionários em vários países do mundo e todos trabalham com a mesma energia e vibração — avalia.
Campinas sedia a produção de armações em plástico e metal para o mercado brasileiro
O fato de Tarascio estar se esforçando para se comunicar cada vez melhor em português é mais uma evidência que demonstra a crescente relevância do país para o grupo. Uma das primeiras empresas italianas do setor óptico a chegar ao Brasil, ainda no início da década de 90, dez anos depois, em janeiro de 2012, deu um importante passo para fortalecer ainda mais a operação ao adquirir 100% do capital do Grupo Tecnol. Com isso, incorporou uma importante planta industrial em Campinas (antiga fábrica da Tecnol), onde passou a produzir vários tipos de armações em plástico ou metal para o mercado brasileiro. Em setembro daquele mesmo ano, lançou sua primeira coleção Vogue Eyewear produzida no Brasil. Aos poucos, outras linhas começaram a ser feitas aqui, como alguns modelos de óculos Ray-Ban, Arnette e Oakley, que, entre 2013 e 2014, passaram a sair da linha de produção da fábrica em Campinas.
— O crescimento foi contínuo. Até que, em 2014, a planta industrial brasileira produziu cerca de 50% de todos os óculos vendidos pela Luxottica no país. É importante esclarecer que tudo que é feito aqui tem o mesmo padrão e a mesma excelência de qualidade do que é fabricado na Itália — conta Terascio.
Além da fábrica em Campinas, a empresa mantém um centro logístico em Jundiaí, também no interior de São Paulo. No Brasil, ela opera tanto no atacado como no varejo, com a marca Sunglass Hut. É claro que o atual cenário de retração econômica desacelerou um pouco o ritmo de crescimento da empresa. Mesmo assim, o executivo acredita que a aposta dará bons resultados no futuro.
— Quando cheguei aqui, em outubro do ano passado, já se falava muito em crise e que o cenário pioraria. É verdade. Mas também é fato que nossa indústria, e não somente a Luxottica, é um pouco mais resiliente. O mercado de óculos, tanto os solares como os de receituário médico, tem tido um crescimento contínuo. E no Brasil não será diferente — prevê.
Outro ponto positivo, segundo o executivo italiano, é que as marcas da empresa, tanto as próprias como as licenciadas, são muito fortes no mercado, e experiência não lhes falta para enfrentar esse desafio.
— Em 2009, na Europa, também passamos por um momento complicado e soubemos lidar com a situação. Para isso, um dos pontos mais importantes é ter um forte apoio operacional local, com uma fábrica e uma logística eficiente — afirma Stefano Terascio.
Ao que tudo indica, para este setor, dias melhores virão. Segundo um estudo chamado Euromonitor Internacinal, que fez uma das maiores pesquisas de mercado sobre os hábitos de consumo da população de cerca de 80 países, a venda de óculos nos próximos cinco anos deve crescer cerca de 40%. A produção anual deve saltar de 35 milhões de armações para 50 milhões, sendo que o segmento Premium e de luxo deverá crescer mais rápido que o de menor valor econômico.
— Todos esses fatores nos fazem ver que o Brasil oferece diversas oportunidades interessantes. O país ainda é um mercado emergente, claro, mas com grande maturidade para os negócios. Para nós, isso é uma excelente notícia. Afinal de contas, é mais fácil crescer em um país com mais de 200 milhões de habitantes do que na Europa, por exemplo, que é um mercado maduro, mas estável — analisa Stefano.
Segundo a empresa, como muitos outros mercados em todo o mundo, o Brasil está evoluindo e sua base de consumidores está se tornando cada vez mais orientada pela moda. Nos últimos anos, muitos brasileiros começaram a perceber que as armações dos óculos também podem ser um importante acessório, como uma bolsa ou um par de sapatos, e não apenas como um aparelho feito para ajudá-lo a enxergar melhor. Além disso, os óculos podem dar um toque de personalidade e estilo à pessoa.
— Por isso, algumas coleções lançadas aqui têm feito muito sucesso — acrescenta Tarascio.

Produção independente começou na década de 1970
O que a Luxottica pretende para o Brasil — e, a partir daqui para toda a América Latina, responsável por 6% das vendas líquidas da empresa — é dar continuidade a uma receita de sucesso que nasceu em 1961, quando Leonardo Del Vecchio fundou a Luxottica Del Vecchio, na pequena cidade de Agordo, na região do Vêneto. Primeiro, ela funcionava como uma pequena oficina contratada para produzir corantes, componentes metálicos e produtos semiacabados para as empresas da indústria óptica da Itália. Aos poucos, Del Vechhio passou a ampliar as atividades de sua pequena fábrica, até que conseguiu produzir seu primeiro par de óculos. Seu grande salto se deu em 1971, quando a empresa apresentou sua primeira coleção de óculos de prescrição médica em uma feira internacional de ótica realizada em Milão. Foi um grande sucesso, o que permitiu a Del Vecchio se tornar um produtor independente de óculos.
— Em Agordo, ainda funciona o coração da empresa e, mesmo com uma certa idade, Del Vechio ainda trabalha conosco — conta Stefano.
Nesses 55 anos, seus produtos se caracterizaram pela qualidade, design e elegância. Todos os anos, a Luxottica acrescenta aproximadamente dois mil novos estilos para suas coleções de óculos para marcas próprias e licenciadas. Cada estilo é produzido em dois tamanhos e cinco cores.
— Cada lançamento é o resultado de um processo contínuo de pesquisa e desenvolvimento, cujo objetivo é antecipar e interpretar necessidades, desejos e aspirações dos consumidores em todo o mundo. Cada armação manifesta alguns conceitos fundamentais da Luxottica: como o uso de materiais, processos e tecnologias inovadoras. É isso que garante a mais alta tecnologia e design de nossos produtos — explica Tarascio.
Pelo que se vê, não será difícil para a Luxottica repetir aqui a trajetória de sucesso que trilhou na Itália. Afinal, sem trocadilhos, ao apostar num mercado ainda a ser desbravado, tem se mostrado uma empresa de visão no futuro.

Vendas em 2014: 7,6 bilhões de euros
77 mil funcionários
12 fábricas: seis na Itália, três na China, uma no Brasil, uma nos Estados Unidos e uma na Índia (apenas para o mercado local)
Em 2014, a produção mundial do grupo somou  83 milhões de unidades de óculos
A rede de distribuição atinge 130 países e conta com 50 filiais comerciais