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Sem orientação ou coordenação, uma pluralidade de forças parece agir, sem conhecer o que está em jogo, em favor de uma política extrema contra a democracia. A amplificação das vozes, que propagam a indignação popular contra a classe política, e as investigações do judiciário, que tocam pontos nevrálgicos da vida pública, mostram a fraqueza de políticos que não conseguem nem mesmo contrapor em defesa própria.
Neste período, como em outros da história, é importante não cairmos numa hegemonia cultural produzida. A manipulação de fatos nunca esteve tão presente entre nós. Na Europa, como no Brasil e no mundo, existem grupos especializados em atacar a democracia representativa na busca pela desconstrução simplesmente pelo poder.
Fato é que a globalização criou mais vencedores e perdedores por todo o planeta. Na Europa, como nos EUA ou na América Latina, o crescimento da desigualdade social estimula o voto em partidos e políticas nacionalistas e protecionistas. Um fenômeno que se manifesta com força e que coloca economia e política lado a lado, mas ambas são incapazes de promover soluções adequadas.
A concorrência global e o livre mercado acentuaram essa distancia entre vencedores e perdedores. Vejam a concorrência praticada pela China que desvalorizou o setor manufatureiro com mão de obra barata e cópias de produtos de todo jeito. Também as mudanças tecnológicas aumentaram significativamente a perda de postos de trabalho. Com a emergência em torno da imigração na Europa, muito da crise do bloco é atribuída à falta de políticas de repressão à entrada de ilegais e alimentam ainda mais partidos que defendem ações contrárias aos refugiados. E na raiz do populismo está o pensamento de que o povo é puro e a elite é corrupta.
Certo que a solução não é o fim do livre comércio, porque limitar as trocas comerciais quer dizer reduzir a produtividade, fundamental para o crescimento. A inquietude vem da combinação de diversos fatores que causam a “tempestade perfeita” e chegam ao resultado de termos hoje Donald Trump na Casa Branca.
Na contramão da visão de mercado, é interessante observarmos a lição que nosso colunista e sociólogo Domenico De Masi nos traz da Índia, com “o desapego das coisas materiais, a intensa espiritualidade, a alegria tranquila e a relação serena com a morte e com o desejo de felicidade”.
Boa leitura!