Comunità Italiana

Editorial

{mosimage}Utopias

A inda ontem, 11 de janeiro, o premier Mario Monti foi recebido pela chanceler alemã Angela Merkel em Berlim. A Itália desta vez não se encontrou com a mulher mais poderosa do mundo com na mala os deboches de Silvio Berlusconi, mas com um pacote de medidas sérias. Medidas que exigem grande sacrifício dos italianos que foram convocados compulsoriamente a assumirem com responsabilidade a agenda imposta pelos erros do passado. Como resultado da conduta dos dois meses do atual governo, que promove com maturidade reformas para que o país e a Europa possam seguir em frente com estabilidade e crescimento sustentável, Merkel foi pontual: “foram atitudes de extraordinária importância e relevância, seja pela velocidade como pelo conteúdo. Estas reformas reforçarão a Itália e vão melhorar suas perspectivas econômicas”.
 
A determinação italiana em resolver os problemas de casa já rende a Monti pelo menos um ambiente favorável, longe da atmosfera pesada da última fase berlusconiana. 
 
Esse reconhecimento de um partner fundamental como a Alemanha mostra que a Itália virou a página e está em busca de disciplinar-se com seu balanço e débito público. Uma demonstração, sobretudo, de grande nação, que respeita os compromissos históricos. Assim, quando no fim do mês acontecer o Conselho europeu, Mario Monti estará de cabeça erguida e pronto para questionar também os mercados que especulam sobre os altos juros pagos pelos títulos italianos.
 
Sem dúvida essa fase européia serve de lição para países como o Brasil. Por aqui, parece que vivemos numa utopia perigosa. Enquanto comemoramos a entrada do país no sexto lugar da economia mundial – superou a Grã Bretanha recentemente – o problema do desenvolvimento vigoroso tem seu lado obscuro e duvidoso. Ao mesmo tempo que o ritmo de crescimento brasileiro, baseado numa sociedade democrática e ordenada, recebe elogios do mundo, observamos mazelas herdadas de um subdesenvolvimento recente.
 
Ao pagarmos a conta de um restaurante na zona Sul do Rio de Janeiro hoje, parece que ignora-se os problemas básicos de saneamento precário, falta de moradias dignas, morte por dengue, violência, educação etc.  E se comparamos fatores como a renda per capita de um cidadão brasileiro e um italiano, três vezes inferior, ou a qualidade de vida daqui e a da Europa, como o próprio ministro da Economia Guido Mantega admite, “será preciso décadas para se alcançar os níveis do velho continente”, constatamos que essa expansão é contraditória. Mas o que assusta agora é a previsão de crescimento de 3% para o Brasil em 2012. Esse índice não é suficiente para a distribuição da riqueza e consequente redução da pobreza.
 
O governo brasileiro precisa estar atento para que o vento a favor não vire repentinamente. Não pode se esquecer da inflação, que está em 6,5% e dos juros, que estão entre os mais altos do mundo. Para que a nave vá adiante, é bom olhar com muita atenção para as reformas estruturais européias e assumir sua posição de liderança mundial sem esquecer do péssimo histórico de índices sociais.
 
Toda vitória exige sacrifícios. Na crise é que nos damos conta de muitos valores. Enquanto os europeus buscam sair da crise mais unidos e fortes, é hora de assimilar exemplos e de ter vontade política para aplicar melhorias para o bem da nação.

Boa leitura!