{mosimage}Política em descrédito, Justiça em alta
Se no Brasil, nos últimos meses, a população acompanha atentamente o enredo que se passa no plenário do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, da Ação Penal 470, conhecida como mensalão, a Itália passa por uma explosão de escândalos de corrupção na máquina pública de norte a sul do país. E se por aqui, o número de votos nulos para as eleições municipais foi elevado, por lá projeções indicam que os italianos simplesmente ficarão em casa ao invés de votarem nas próximas eleições gerais que acontecerão na primavera européia de 2013, tamanho é o descrédito dos políticos.
No último dia 10 de outubro, o comissário de Habitação e político italiano Domenico Zambetti, da região da Lombardia, foi preso acusado de pagar 200 mil euros nas eleições regionais de 2010 para a máfia calabresa em troca de votos. A prisão mostrou como a ‘ndrangheta, que tem sua sede na empobrecida Calábria, estendeu seus tentáculos para o rico norte do país e formou uma forte base em Milão, capital industrial e financeira italiana. O capitão da polícia paramilitar italiana, Paolo Saliani, disse que Zambetti foi acusado de corrupção, associação mafiosa e compra de votos nas eleições regionais lombardas de 2010. Em troca da entrega dos votos, além da soma inicial, a ‘ndrangheta também esperava favores futuros do político na administração regional. Ao pagar o dinheiro, Zambetti comprou o equivalente a quatro mil votos (50 euros por voto) na região lombarda. O prefeito de Milão, cidade com 1,5 milhão de habitantes, Giuliano Pisapia, pediu a demissão do governador da região da Lombardia, Roberto Formigoni, que esteve no Brasil em junho, durante a Rio+20. “Depois desse fato, não é possível continuar”, disse Pisapia. Formigoni, um ex-democrata-cristão que se aliou ao ex-primeiro-ministro e magnata Silvio Berlusconi, governa a Lombardia desde 1995, tendo vencido três reeleições para governador. No dia anterior à prisão de Zambetti, quinto político e funcionário público detido e investigado nos últimos meses, o governo central de Roma destituiu o prefeito e todos os 20 vereadores de Reggio Calábria, após um vereador ter sido preso acusado de associação à ‘ndrangheta. Reggio Calábria, com 180 mil habitantes e terceira maior cidade do sul da Itália após Nápoles e Bari, ficará sob intervenção durante 18 meses. Os escândalos não estão só nos extremos da bota. No mês passado, a governadora da região Lazio, Renata Polverini, líder regional do partido Povo da Liberdade (PDL), de Silvio Berlusconi, foi forçada a renunciar após políticos serem acusados de usar dinheiro público para pagar festas privadas. O imprevisível Berlusconi aos 76 anos descarta disputar o cargo de primeiro-ministro nas próximas eleições.Por um lado existe grande indignação diante de tamanha degradação do sistema político, por outro, a sensação de que a impunidade está em decadência.
A Itália, historicamente processa e manda corruptos para a cadeia. Mas, no Brasil, o protagonista e mentor intelectual do mensalão, ministro do STF Joaquim Barbosa tornou-se celebridade pelo desempenho moral diante da sujeira apresentada ao público como nunca. Aliás, ele mesmo fez duras críticas também a cobertura midiática que julga racista e revelou ao jornal Folha de São Paulo que admira e vota em Lula e Dilma, pois o caso não desqualifica políticos de um determinado partido e não pode criar rótulos. É sim, o início de uma mudança de interpretação das leis sobre corrupção. A leitura rigorosa feita pelos ministros do STF torna a Justiça brasileira mais próxima daquela que vigora em países maduros e mais condizente com o patamar que o país atinge no cenário internacional. Este é o caminho que faz do Brasil um país ainda mais respeitado pela sua democracia e instituições sólidas.
Boa leitura!