Comunità Italiana

Editorial

{mosimage}Em jogo, soberania

Política italiana não é brincadeira, ou, para muitos, parece uma imensa brincadeira. Pode um líder que renunciou ao cargo de primeiro-ministro há um ano sob pressão pela desastrosa administração da crise econômica em seu país e está envolvido em vários processos polêmicos, condenado inclusive a prisão por fraude fiscal, dar as cartas do jogo? Se esse homem for Silvio Berlusconi pode. Mais uma vez o Cavaliere, de 76 anos, é o centro das atenções com suas movimentações inesperadas. Dessa vez, seu partido (PDL) abandonou a bancada, no Senado, durante o voto de uma moção de confiança ao governo tecnocrata de Mario Monti no dia 5 de dezembro. A perda do apoio, o qual Monti considerou como traição porque mantinha coalizão com a centro-direita, fez com que o premier técnico pedisse demissão em comunicado oficial ao presidente da República, Giorgio Napolitano.
Com isso, as eleições, que já ocorreriam em abril de 2013, serão antecipadas para fevereiro do ano que vem. E, até o fechamento desta edição, Silvio Berlusconi será candidato pela sexta vez, centrando sua campanha na bandeira do nacionalismo anti-Alemanha e contra a Europa, na falta de crescimento e no combate aos impostos altos que esmagam a classe média.
Assim, Berlusconi, que tem a seu favor 15% da população italiana, irá buscar votos nos insatisfeitos com as duras reformas implantadas pelo governo Monti, naqueles que não se veem representados pela esquerda do PD e naqueles que votaram no comediante Beppe Grillo como forma de protesto nas últimas eleições. Não se ilude em vencer como em 2001 ou em 2008, mas, no fundo, consegue tirar as atenções do candidato do PD, Pier Luigi Bersani, que tinha até então favoritismo em pesquisas, com uma provável entrada na disputa do próprio Professor Mario Monti, que é aclamado pela imprensa internacional e é o candidato da Europa e dos EUA.
O chamado “risco-Itália”, com a possibilidade de um retrocesso nas medidas tomadas por Monti, causa tremor no cenário mundial e principalmente na Europa dominada por Angela Merkel e na América de Barack Obama. Um desvio de estrada da via de recuperação econômica de um país importante para economia global como a Itália acarretaria numa tragédia para as finanças muitas vezes maior do que o ocorrido com a Grécia.
Neste jogo está em pauta se os italianos querem ser levados a sério numa Europa unida ou se vão optar por um caminho desconhecido em nome da soberania. Um euro-premier ou um político que deverá demonstrar garantias importantes para navegar num mar de especulações. A Itália tem um papel chave para a economia mundial e todos os holofotes estarão voltados para essa corrida eleitoral. Até fevereiro tudo pode acontecer.

Boa leitura!