Comunità Italiana

Editorial

{mosimage}Voto de honra

Para um cidadão com passaporte italiano no exterior votar nas eleições parlamentares de fevereiro é uma grande ocasião. O direito, não obrigatório, porém, implica numa complexidade que vai além do simples exercício da cidadania. Informar-se é o primeiro passo. Saber quem representa qual corrente política e o histórico de cada personagem é fundamental. Depois, saber quem defende o quê, como, por exemplo, aquele que é a favor de que o país continue sendo um player importante para a União Europeia; ou ainda quem defende aumento ou retirada de impostos; ou aqueles que são a favor ou contra o casamento gay… São questões a serem levadas em consideração, mas, sobretudo, para quem vota no exterior, o mais importante é o que o candidato fará para manter acesa a representatividade de milhões de pessoas que construíram outra Itália fora das fronteiras da bota.
Historicamente, os migrantes italianos pelo mundo tiveram êxito, a duras custas, em criar agremiações e entidades que representam desde uma determinada região, ou categoria, ou até uma filosofia. Muitos foram os casos em que imigrantes criaram junto com a população local movimentos que se tornaram marcos que influenciam até hoje legislações de outros países. O grande êxodo, é sempre bom recordar, surgiu depois das guerras mundiais que destruíram o país que tinha uma economia marcadamente camponesa. O fluxo de capital enviado por estes cidadãos no exterior para suas famílias e reinvestidos dentro do território ajudou a Itália a se reerguer e se tornar uma das principais economias do planeta. Com isso, o governo central e as regiões italianas sentiram a obrigação de apoiar e dar o mínimo de suporte às atividades destes trabalhadores radicados em outras nações. A conquista, porém, de representatividade em outras sociedades está ameaçada pela grave crise que as associações passam pela falta de verbas.
O sistema eleitoral deveria garantir que esses políticos fossem uma voz ativa em favor dos italianos pelo mundo e que obtivessem conquistas para que se mantenha a cultura, a memória e as atividades sociais e comerciais. Mas o poder de negociação de 12 deputados e seis senadores num universo de 630 componentes na Câmara e 315 no Senado se dilui muito em pautas que são consideradas mais emergenciais, principalmente em tempos de crise, e as despesas com esses cargos muitas vezes são maiores que as conquistas. A burocracia para o processo eleitoral que se aproxima e a falta de tempo para discussões são agravantes para um escasso número de votos.
Por outro lado, esses deputados e senadores – que estão a serviço dos italianos no mundo! –, são os que ainda podem e devem salvaguardar a história e dar vida a novas conquistas. Para que isso aconteça é imprescindível o exercício da cidadania que compreende participação. Um grande índice de votos demonstraria um peso em favor da representatividade e o acompanhamento e a cobrança de iniciativas depois de eleitos é o segundo passo.
Portanto, espero que os eleitores votem e, quando receberem os envelopes com as cédulas em suas residências, façam jus ao passaporte italiano. Com os tantos outros leitores que nos leem por afinidade ou admiração à arte, à cultura e aos variados interesses que ligam Brasil e Itália, e que nos honram com o tempo dedicado, brindemos à saúde da história que liga italianos e brasileiros.

Boa leitura!