Quando lançamos a primeira edição da Comunità Italiana, em 1994, o pensador Umberto Eco lançou seu livro “A ilha do dia anterior”. Nesta obra, traduzida para o português pelo nosso não menos brilhante colunista poeta Marco Lucchesi, Eco narrava a história de um jovem piemontês da pequena nobreza de Monferrato que sofre um naufrágio nos mares do Sul. Agarrado numa tábua, ele chega a outro navio, à deriva, não tripulado, mas cheio de objetos e recordações. O náufrago revive, então, em sua memória, histórias que descortinam a cultura, como o fato de uma das ilhas em questão ser a famosa ilha onde se encontrava a linha imaginária sobre a exata mudança de fuso horário, pois acreditava-se ser plano, e não uma esfera o planeta Terra, a filosofia e a sociedade do século XVII. Uma lenta viagem de volta aos anos seiscentos da nova ciência, da Guerra dos Trinta Anos, de um cosmos em que a Terra não é mais o centro do universo.

A Comunità, em 22 anos de existência, pratica jornalismo que busca não só o valor e o resgate das origens, mas a ligação íntima entre dois países e garante o direito de informação de qualidade aos cidadãos ítalo-brasileiros e a todos aqueles admiradores da cultura e do universo social, político, econômico entre o Brasil e a Itália. Quando a velocidade das mudanças em nosso tempo parece afogar-nos muitas vezes com um excesso de conteúdo, buscamos, quase como náufragos no imenso mar da comunicação, levar a leitores qualificados o entretenimento através da beleza.

Nossa capa não poderia ser outra. Este gênio da literatura, italiano que virou marco na cultura ocidental e que ensinou até o fim as transformações do mundo. Eco, ativo, de uma inteligência extraordinária e de uma compreensão do contemporâneo sem igual, refletiu muito sobre a sociedade literalmente invadida pela cultura de massa. Já em 1964, tratava profundamente do assunto na obra “Apocalípticos e Integrados”, onde falava do desafio em encontrar uma linha tênue entre os furiosos apocalípticos e os velozes integrados.

Inspirados e encorajados pelo Eco que deixará uma enorme lacuna neste mundo, apresentamos esta edição repleta de conhecimento e, mesmo diante de uma séria crise, plena de entusiasmo por acreditarmos no poder de recuperação deste país que tem capacidade de se reinventar através de suas riquezas. Entregamos a você leitor a nossa dedicação nestes 22 anos.

Boa leitura!