{mosimage}Estudiosos discutem no Rio os movimentos políticos e sociais relacionados à ideologia fascista na Itália e no Brasil
Recentemente, várias ocorrências revelaram o preocupante crescimento do nazifascismo, não apenas na Europa como também no Brasil. Na Itália, lembranças do fascismo ressurgiram no governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Em 2011, seu partido Povo da Liberdade (PDL), apresentou um projeto de lei que procurou revogar a proibição do movimento no país. Giovanni Iotti, vereador da cidade de Pieve Saliceto, também membro do PDL, propôs em 2012, uma homenagem a Benito Mussolini, atribuindo a uma escola o nome do antigo líder e ditador fascista, que tinha sido professor no local. Até mesmo nos supermercados os regimes autoritários são lembrados, como aconteceu em Verona, onde um estabelecimento este ano colocou à venda garrafas de vinho com a foto de Adolf Hitler no rótulo, o que levou a procuradoria local a abrir uma investigação por apologia ao nazismo. Mesmo com tantas reminiscências do nazifascismo, existe uma lei italiana de 1952 que proíbe a manifestação favorável ou a militância a esses movimentos totalitários.
E para discutir um tema que faz parte da história, mas que está tão presente no cotidiano, entre agosto e setembro, na Universiade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), uma conferência abordou os 90 anos da Marcha sobre Roma — evento que culminou no fascismo. Nas palestras foram apresentadas as facetas publicitária, nacionalista e repressiva desses movimentos através de estudiosos do assunto, como o professor da Universidade de Padova, Giorgio Sacchetti. Ele lembrou dos antifascistas, representados pelos sindicalistas, contrários à ideologia de massa e ao fanatismo nacional. Sacchetti trouxe à tona momentos importantes, como o Biênio Vermelho marcado pelos anarquistas ocupando as fábricas na Itália. Em contrapartida, medidas repressivas como prisão, exílio e holocausto foram o ápice da consolidação do regime, o que desencadeou a resistência, lembrou Giorgio.
— A Primeira Guerra Mundial foi o laboratório ideológico do fascismo. Durante aquele período, houve um nacionalismo exagerado acompanhado da intervenção violenta do Estado, personificado por Mussolini. Por outro lado, havia os socialistas, que eram a favor do antimilitarismo e do pacifismo — acrescentou.
A violência política e o racismo
O professor de História Contemporânea da Unirio, Ricardo Salles, recorre à teoria de Antonio Gramsci que foi preso e vítima do fascismo, para explicar a atual violência social e política. O pensador italiano acreditava que o poder exercido pelas classes dominantes sobre as classes subalternas não estava relacionado apenas à pressão ideológica do Estado, mas tinha a ver, sobretudo, com o controle do sistema educacional, das instituições religiosas e dos meios de comunicação pelos poucos que detinham o poder. O professor Giordano Guerri, da Universidade de Roma, por isso mesmo, acredita que o fascismo foi incorporado pelo direito italiano, tendo firmado uma aliança com o movimento nacional de assistência social. Gramsci, segundo o professor Ricardo, alerta contra a adoração ao Estado, que resultaria na obediência cega da sociedade.
— Do cárcere fascista, Gramsci refletiu de forma ampla sobre seu tempo, principalmente através dos Cadernos do Cárcere, escritos na prisão fascista. A princípio, ele considerou o fascismo apenas como uma forma a mais de reação da direita, depois começou a incentivar a união dos partidos de esquerda contra essa corrente — ressaltou Salles.
João Bertonha, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), e René Gertz da PUC-RS, explicaram sobre o fascismo que floresceu no Brasil. Os dois possuem trabalhos sobre o integralismo e sua organização partidária, a Ação Integralista Brasileira (AIB), ativa em meados dos anos 1930 e 1940. Além disso, eles também têm estudos dedicados ao Estado Novo da era Getúlio Vargas. Assim como fascistas europeus, os integralistas se cumprimentavam com o braço esticado e a mão espalmada, proferindo a frase “eis-me aqui”. Os professores lembraram que atualmente existe um movimento neofascista que guarda resquícios do original, mas que incorpora novas ideias e grupos sociais, além de usar novas tecnologias de comunicação. Os grupos nazifascistas contemporâneos são portadores de valores intolerantes, marcados pelo racismo e pelo discurso contra os imigrantes. A extrema direita faz parte da cultura política violenta do século XXI e também atua em países latino-americanos como o Brasil — ressaltaram os pesquisadores.