A presença de um estande da editora abertamente neofascista Altaforte na Feira do Livro de Turim, que se inicia nesta quinta-feira (09), provocou uma forte polêmica na Itália e um debate sobre a pertinência de boicotear o evento ou não
Próxima ao movimento neofascista CasaPound, a principal participação da Altaforte no evento literário de Turim é um livro com entrevistas do ministro do Interior italiano e líder da extrema-direita Matteo Salvini, “Eu sou Salvini”, assinado pela jornalista Chiara Giannini.
“Estávamos preparados para as polêmicas, mas não neste nível tão alucinante de crueldade. Alguns anunciaram claramente na internet que virão a Turim para lançar coquetéis Molotov contra nós”, disse, indignado, o diretor da Altaforte, Francesco Polacchi.
“Tudo isso por um livro sobre um homem político apoiado por um de cada três italianos”, acrescentou, na terça-feira (07), no jornal da cidade italiana La Stampa, o editor – que se declara abertamente fascista e não titubeou ao classificar Benito Mussolini como o “melhor homem de Estado italiano”.
Salvini foi consultado sobre a polêmica e defendeu o confronto de ideias. “Acho que cultura é cultura, venha de onde vier. Quando há ideias diferentes, é bom confrontá-las. Não não sou eu quem organiza e quem convida”.
“Eu sou antifascista, anticomunista, antirracista, antinazista, todos os ‘anti’ possíveis, e não falo de futebol”, acrescentou, em tom jocoso.
Vários editores e autores protestaram contra a presença da Altaforte na feira.
Alguns, como o coletivo de escritores italianos Wu Ming ou o caricaturista Zerocalcare, anunciaram que vão boicotar o evento, um dos mais importantes promovido anualmente pelo setor editorial italiano.
Em carta dirigida na segunda ao comitê organizador, uma sobrevivente do Holocausto e o diretor do museu de Auschwitz, Piotr Cywinski, pediram a retirada do estande da Altaforte. Caso contrário, também cancelarão sua participação.
Outros, como o editor Stefano Mauri, confirmou sua presença ao defender que “prefere combater a ignorância com bons livros”.
(AFP)