No verão deste ano, os italianos privilegiaram o turismo nacional e descobriram lugares únicos e cheios de encantos, como as praias banhadas pelo mar Jônico. Quem foi para o exterior, optou por roteiros alternativos e rede de hospedagem gratuita para economizar
No verão de 2015, os italianos escolheram o litoral para relaxar e curtir a estação. Após a queda dos últimos anos, este ano foi marcado pelo retorno às localidades balneárias, escolhidas por 54% dos italianos.
— Graças ao sol e ao clima favorável, finalmente houve uma reviravolta em comparação às estações magras dos últimos anos — observa o responsável pela Cna Balneatori, Cristiano Tomei.
De acordo com a pesquisa de Federalberghi, a principal organização hoteleira, de junho a setembro deste ano, 30,4 milhões de italianos viajaram ou estão viajando, ou seja, cerca da metade da população. O resultado é satisfatório se comparado com os dados do ano passado. Em 2014, 28 milhões de pessoas viajaram. Apesar dos bons resultados, a pesquisa mostra que os italianos ainda sentem os efeitos da crise econômica: 81%, ou seja, quase 25 milhões, optaram pelas belezas nacionais.
— As mudanças culturais e econômicas alteraram o tipo de férias dos italianos. A duração se encurta e se tenta estender com os finais de semana e os feriados durante o ano. Apesar de agosto ser o mês preferido dos italianos, houve um aumento em outros períodos — explica o presidente de Federalberghi, Bernabò Bocca.
Em setembro, por exemplo, a quantidade de viajantes de férias aumentou em um milhão em comparação ao mesmo período do ano passado. Bocca acredita que a escolha é fruto de preços mais convenientes por causa da menor procura.
As belas praias do sul da Bota conquistam os italianos
Entre as metas preferidas dos turistas este ano, se destacam as praias da Puglia, Sicília, Sardenha e Calábria, todas no sul da península. A região meridional foi escolhida pela romagnola Sara Palazzini e pelo seu marido de San Marino, Davide Vergnani. No início de setembro, eles viajaram para a Puglia.
— Escolhemos essa região porque queríamos passar as férias na praia e também porque era possível chegar de carro, uma comodidade para mim, que estou no sexto mês de gravidez — conta à Comunità Palazzini.
O jovem casal adora viajar e conhecer lugares novos. No ano passado foram aos Estados Unidos, enquanto este ano optaram por férias mais tranquilas — mas não menos emocionantes.
— O que mais me impressionou da Puglia foi o mar. É belíssimo! — afirma Sara, ainda com brilho nos olhos.
Quem conhece o Salento (território no extremo sul da Puglia que ganhou o apelido de Salto da Bota) concorda com ela: a vista para o mar Jônico é um espetáculo da natureza em meio a águas transparentes e areia finíssima.
O casal dividiu a viagem em várias etapas. Em Alberobello e Cisternino, visitaram e dormiram em um local classificado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco: os trulli, antigas construções de pedra com telhados cônicos. Depois, passearam pelas pequenas ruas de Ostuni e Lecce, no sul da Puglia, conhecida como a Florença do sul.
— Lecce é maravilhosamente barroca. Todos os seus palácios e ruas parecem um cartão-postal — comenta a italiana, que trabalha como educadora.
Para conhecer melhor o litoral do mar Adriático, se hospedaram em Roca Vecchia, onde mergulharam em uma das dez piscinas naturais mais bonitas do mundo, na sugestiva gruta da Poesia. Em seguida, prosseguiram para Torre Lapillo, que serviu de base para conhecer as praias do litoral jônico.
Web, uma aliada na hora de planejar a viagem sem gastar muito
A Itália não foi a única meta dos italianos nesse verão. Cinco milhões de pessoas não abriram mão de ir para fora do país. Porém, em época de vacas magras, a opção foi substituir destinos distantes pelas capitais europeias, mais acessíveis. Foi o caso da professora de uma escola primária de Bolonha, Laura Castellani.
— Eu queria muito viajar, mas tinha duas limitações. A primeira é que eu não tinha muitos recursos à disposição; a segunda é que não tinha amigos livres para viajar comigo naquela época. Ao navegar pela internet, achei o site cercocompagnidiviaggio.it, que conecta pessoas que querem viajar — relata à Comunità.
Em poucos dias, Laura, de 30 anos, entrou em contato com várias pessoas, até que um rapaz de Milão lhe propôs preparar as malas rumo à Holanda, conhecendo Amsterdã e outras cidades de bicicleta durante uma semana. Para a hospedagem, ela recorreu mais uma vez à internet e acessou o couchsurfing, uma rede que conecta turistas de todo o mundo em busca de hospedagem grátis e companhia.
— A escolha do couchsurfing juntou tanto a ideia de economizar, pois a Holanda é bastante cara, quanto a oportunidade de conhecer pessoas que vivem nas cidades que visitamos. Isso nos permitiu conhecer melhor o lugar — salienta a turista, que considerou a experiência muito positiva.
O que mais a impressionou foi a recepção e a confiança dos anfitriões: alguns prepararam pratos, outros os levaram de passeio pela cidade e teve até quem lhes deixou as chaves de casa. Laura ficou encantada com as paisagens holandesas e já está pensando nas próximas férias: “quem sabe no Brasil”.
Capital europeia da cultura de 2019
Nessas férias, muitos turistas visitaram Matera, a cittá dei sassi, capital europeia da cultura de 2019. Com seus nove mil anos de história, a capital da Basilicata encanta, com as suas magníficas igrejas rupestres. A particularidade são as casas escavadas na rocha, onde as fendas naturais serviam de abrigo aos povos nômades.
— Parece congelada no tempo. Ao passear pelas ruas, me senti como num presépio. Cada canto merece ser fotografado. É uma cidade mágica, especialmente com a luz do crepúsculo — relata a italiana da Emília-Romanha Sara Palazzini, que visitou a cidade em setembro.