Em ocasião do 68º aniversário da República Italiana, entidades mobilizam milhares de pessoas e aproveitam para convidar os brasileiros para a Expo 2015
Em Roma, a Festa da República impressionou a todos os que se encontravam na Piazza Venezia com o desfile militar e a passagem das Frecce Tricolori (esquadrilha da fumaça), deixando um rastro vermelho, branco e verde sobre o Altare della Patria. No Brasil, o dia 2 de junho foi comemorado na Embaixada e nos consulados italianos com uma noite de gala para a comunidade ítalo-brasileira. O Ministério italiano das Relações Exteriores, este ano, dedicou o Dia da República à apresentação da Expo Milão 2015, que acontecerá de 1º de maio até o final de outubro, sob o tema “Nutrir o planeta, Energia para a Vida”. A ministra Federica Mogherini destacou a Exposição Universal na sua mensagem enviada aos italianos no exterior através do canal internacional da Rai Itália, agradecendo-lhes por “representarem a Itália com entusiasmo, energia e determinação”. Ela definiu o evento como “uma grande vitrine para o nosso país e uma ocasião de trabalhar junto aos 147 países participantes”. Por isso, durante as comemorações pela República, os consulados e as embaixadas italianas em todo o mundo apresentaram um pequeno vídeo sobre a Exposição, que deve receber 20 milhões de visitantes.
No Brasil, a comunidade ítalo-brasileira se reuniu, como faz todos os anos, nas sedes de representação do governo italiano, que organizaram diferentes eventos. Em Brasília, a Embaixada comemorou os 68 anos da República em grande estilo na noite de 3 de junho, diante de 650 convidados, entre políticos, empresários e personalidades, no belo prédio projetado pelo arquiteto italiano Pier Luigi Nervi. A cantora Mafalda Minnozzi realizou a execução dos hinos nacionais da Itália e do Brasil. O diretor de Turismo da Expo Milão 2015, Alessandro Mancini, convidado especial do evento, entregou ao embaixador italiano no Brasil, Raffaele Trombetta, um dos primeiros convites emitidos em todo o mundo para participar da Exposição Universal. Durante o evento, Trombetta entregou a cidadania e o passaporte italianos ao senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
Novo terraço da Casa Itália é inaugurado no Rio
Na capital fluminense, a Festa da República reuniu mais de 300 pessoas e foi uma oportunidade para inaugurar o terraço da Casa Itália no 9° andar, com vista para o centro do Rio de Janeiro e a Baía de Guanabara. Seis dos oito andares, além da entrada e do terraço do prédio que abriga o Consulado italiano e o Instituto Italiano de Cultura, passaram por uma reforma estrutural.
— É uma maneira de devolver à comunidade o que ela mesma doou em 1935 ao governo italiano. Por isso, agora posso dizer que tenho o prazer e o orgulho de devolver um bem que é do Estado italiano, mas que está a serviço da comunidade. Três anos atrás, o prédio estava em condições precárias, a partir do teto, que tinha problemas de infiltrações de água. Esse foi o início de um percurso que hoje já alcançou 70% da reforma total do edifício — declarou à Comunità o cônsul italiano no Rio de Janeiro, Mario Panaro.
Em seu discurso, Panaro disse que a primeira vez que olhou para a Casa Itália lhe vieram à mente os versos de A Casa, de Vinicius de Moraes, que dizem “era uma casa / muito engraçada / não tinha teto / não tinha nada / mas era feita com muito esmero na rua dos bobos número zero”, descrevendo, de forma irônica, a situação na qual estavam os escritórios italianos. A reforma foi possível graças ao financiamento do governo italiano, aos aluguéis das empresas situadas no oitavo andar e à contribuição de empresas italianas, como a Enel Green Power, que instalou o teto solar que permite economizar até 20% no consumo da eletricidade.
O amplo terraço, aberto ao público pela primeira vez na noite de 2 de junho, oferece uma vista privilegiada, entre os imponentes arranhas-céu do centro carioca para a Baía de Guanabara e a Floresta da Tijuca, de onde se vê a estátua do Cristo Redentor. O ângulo à direita está reservado para a preparação de comida italiana, com forno a lenha e máquinas de café. Na outra ponta do terraço, à esquerda, ergue-se a bandeira italiana, que pode ser vista desde a entrada do prédio.
Um concerto de jazz dos italianos Luigi Cinque e Sal Bonafede, e do brasileiro Armandinho Macedo, considerado o mais importante instrumentista de violão baiano, fechou com chave de ouro a noite da República no recém-reformado Instituto Italiano de Cultura.
São Paulo reúne nata empresarial de origem italiana no Circolo
Na capital paulista, o cenário da festa foi o tradicional Circolo Italiano, edifício de 44 andares localizado no cruzamento das avenidas Ipiranga e São Luís, no coração da cidade — local que, por si só, já remete a uma viagem à história da imigração italiana, fundamental para o desenvolvimento econômico e social de São Paulo. Na entrada do salão de festa, a exposição de motocicletas modelos vespa recebeu os cerca de 600 convidados. O evento foi realizado através da parceria entre o Consulado, o Museu da Casa Brasileira, o Instituto Italiano de Cultura e o governo do estado. O sentimento de orgulho da pátria acolhedora e da terra natal foi expresso ao som dos hinos dos dois países, conduzidos pelo tenor Leon Viola, a soprano Roseane Soares e a pianista Karin Uzun.
O cônsul-geral Mauro Marsili agradeceu a presença dos convidados, entre eles o ex-governador José Serra.
— A comunidade ítalo-brasileira está se renovando e vem contribuindo para o crescimento de São Paulo, marcada pela presença de empresários e cidadãos italianos, fundamentais para o desenvolvimento social, cultural e econômico. Os últimos quatro anos em que estive aqui foram gratificantes e intensos, para mim e minha família.
Marcaram presença personalidades como Luigi Bauducco, presidente da fabricante de alimentos; Sergio Comolatti, presidente do Grupo Comolatti, atuante na indústria automotiva; e Claudia Matarazzo, jornalista especialista em etiqueta e comportamento; além da cônsul de Malta, Fiorella Biasoli, e o de San Marino, Giuseppe Lanterno; do secretário municipal de relações internacionais e federativas Leonardo Barchini; e de Alessandro Mancino, do Gerenciamento da Expo Milano 2015.
— Por estarem fora da Itália, as pessoas acabam comemorando, às vezes até mais do que comemoram a Festa da República do Brasil. Há menos pessoas, porém com mais calor. Acho interessante o encontro, e também que seja em locais diferentes, a cada ano — disse Comolatti, filho do imigrante Evaristo Comolatti, um dos primeiros sócios do Circolo Italiano.
Para o italiano Venceslao Soligo, presidente da Associazione Stampa Italiana in Brasile, no país há 60 anos, a República Italiana enfrenta entraves que poderiam ter sido evitados.
— Sou filho da guerra, lembro velhos ideais do início da república, e acho que eles não estão indo muito bem. A minha posição é de que, quando a Itália foi unificada (em 1861), quiseram fazer o Estado unitário, mas acho que foi um erro. Deveriam ter feito a federação, no modelo suíço, distribuindo poder para as províncias. Isso teria dado mais certo e não teríamos os problemas sociais que temos hoje — defendeu o jornalista, que definiu o premier Matteo Renzi como alguém “com ideias inovadoras, mas que o sistema não vai permitir que faça muitas coisas”.
Em Belo Horizonte, a Savassi se transforma em um grande palco de música e gastronomia para 100 mil pessoas
Na capital mineira, a data foi comemorada no próprio dia 2 de junho, na segunda-feira, e mobilizou mais de 100 mil pessoas, reunidas no coração da Savassi, com música, dança e gastronomia que promoveu a união entre italianos, descendentes e brasileiros numa grande confraternização. Em sua oitava edição, intitulada “Dois lados, uma paixão – Azurri ou Canarinhos – o Importante é Festejar”, a festa já faz parte do calendário turístico de Belo Horizonte.
Oitenta barracas serviram comidas típicas e vinhos italianos, com associações representando as diversas regiões da Itália, durante todo o dia, das 10h às 22h. Segundo o presidente da Associação Cultural Ítalo-Brasileira de Minas Gerais (Acibra), Rafaelle Peano, a comemoração do Dia da República cresce a cada ano: aumento o número de participantes e de barracas com produtos tipicamente italianos e se mostra o melhor do design, da tecnologia, das tendências automotivas e de vários outros produtos.
— Esta festa tem o seu caráter maior, que é a promoção da cultura italiana e a integração com as tradições mineiras e brasileiras — afirma Peano.
Pelo palco principal, passaram atrações da música italiana para todas as idades, com apresentações de artistas como Sonia Gargiulo, Sergio Di Napoli, Paula Gianinni e danças folclóricas como os grupos Tarantolato de Juiz de Fora e o Folclorico Volare-Treze Tilias, de Santa Catarina, espetáculos infantis, além de apresentações teatrais, palestras sobre arte e vídeos, no palco montado pelo Comites.
Para o deputado italiano Fabio Porta, cidadão honorário de Belo Horizonte, que participa das comemorações todos os anos, não existe uma celebração igual a esta em outra cidade, pois “aqui todos se envolvem com a comunidade, as organizações e associações, o Comites e empresas”:
— É um resgate de nossa identidade — resumiu.
Já para o senador Fausto Longo, a festa é uma lição de casa para os deputados, senadores e governantes da Itália, “pois todos deveriam vir ao Brasil para assistir, conhecer e lembrar que todos os nossos antepassados que vieram para cá, em péssimas condições, ludibriados pelo próprio governo italiano e pelo próprio Império do Brasil para trabalhar como escravos”.
— Eles fizeram história e, hoje, vivem nas mesmas condições que os italianos lá. Cada sorriso, cada rosto, a juventude e a boa energia servem como uma luz para a retomada da auto estima dos italianos. Vou levar imagens e mostrar a todos — afirmou.