{mosimage}Romana de nascimento e baiana de coração, madrinha do Projeto Axé, fundado em Salvador por um advogado fiorentino, a cantora Fiorella Manoia se apresenta em turnê pela Itália acompanhada de jovens baianos saídos da exclusão social
O que é que essa ruiva tem? Tem, tem! Tem saia engomada, tem! Sandália enfeitada, tem! Tem graça como ninguém. Como ela requebra bem! Os versos de Dorival Caymmi, em homenagem à mulher da Bahia, poderiam ter sido inspirados em uma italiana que é baiana como ninguém: Fiorella Mannoia. Considerada uma espécie de embaixadora da música brasileira na Itália, a cantora romana teve parceiros musicais como Chico Barque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Milton Nascimento, Lenine, Chico César, Jorge Benjor, Carlinhos Brown e Adriana Calcanhoto. Todos reunidos no álbum Onda Tropicale (2006). Como se não bastasse, ela abraça ainda mais amigos brasileiros: crianças e jovens carentes.
Fiorella é madrinha do Projeto Axé, uma organização sem fins de lucro, fundada em 1990 em Salvador pelo advogado fiorentino Cesare De Florio La Rocca. O objetivo do projeto é recuperar crianças e adolescentes de rua, excluídos da vida social, afetiva e institucional com acolhimento e inclusão. Neste mês, a cantora vai apresentar seu novo álbum Sud, em turnê por várias cidades italianas, acompanhada por jovens baianos do Projeto. Esta união de música, dança e capoeira nos seus shows não é inédita: em 2010, eles se apresentaram no festival Úmbria Jazz, em uma apresentação que foi sucesso de público e crítica.
O Projeto Axé tem como princípio a educação através da arte, como diz La Rocca:
— “Arteducação” é uma só palavra porque representa uma integração.
O projeto envolve escolas, professores, assistentes sociais e patrocinadores. Os resultados são concretos. Desde a sua fundação, mais de 18 mil crianças e adolescentes foram acompanhados no percurso de recuperação, que estimula valores e auto-estima. Os dados apontam que 85% deles não caíram na armadilha da droga e do crime.
Reaprender a sonhar
A palavra axé é herança da língua africana iorubá, antigamente falada entre os povos ao sul do deserto do Saara. Ao longo do tempo, virou uma expressão muito usada na Bahia, que significa a energia positiva que permite a criação.
O advogado Cesare La Rocca explica que neste projeto as crianças são ensinadas a desejar e a sonhar:
— Para quem não tem nada, para os excluídos, constitui um passo essencial, pois as crianças descobrem a beleza e a arte, além de coisas que pensavam a que não tinham direito. Quando o direito adquire maior valor, é natural que venha acompanhado pelo conceito prático do dever — pondera.
Nas escolas, as crianças e os jovens aprendem também dança, moda, capoeira música e artes visuais.
Fiorella Mannoia conheceu o Projeto Axé há alguns anos, quando estava em Salvador.
— Muita gente me falava deste trabalho de Cesare La Rocca. Quando o conheci pessoalmente, constatei o valor do Projeto, no qual é possível compreender o poder exercido pela arte, principalmente entre as pessoas em dificuldade. Quem conhece o Brasil sabe que a palavra pobreza é bem diferente de miséria — afirma a cantora.
Em 2009, foi criada a Fundação Axé Italia, uma ONG para divulgar internacionalmente o projeto e seus resultados. A responsável pela fundação sediada em Roma, Roberta Giassetti, se empenha também em recolher fundos destinados aos alunos baianos.
— Como os efeitos da crise econômica, podemos ajudar apenas 900 crianças por ano — explica Giassette, captadora de recursos.
— O sonho de uma sociedade mais justa passa pela solidariedade internacional. Pela compreensão e não pela esmola — acrescenta Cesare La Rocca.
Fiorella completa:
— Quando estou em contato com estes jovens, dançando e cantando, me pergunto quantos deles serão futuros profissionais. Acho que o talento é como a sorte: beija só alguns. Em compensação, tenho certeza que, após concluir este percurso, cada um de nós nunca mais será o mesmo.