Com uma linguagem simples e acessível usada para explicar conceitos de física quântica, livro do cientista italiano Carlo Rovelli entra para a lista dos mais vendidos em vários países. Em entrevista à Comunità, ele revela que ficou surpreso com o sucesso da obra

A física está longe de ser a mais amada das disciplinas. Ao combinar matemática e inúmeras fórmulas, ela causa temor entre os alunos e alívio a quem nunca mais terá de encará-la ao deixar a escola. Mas, para o professor italiano Carlo Rovelli, a matéria não precisa ser assim, chata e maçante. Com o objetivo de mostrar o lado interessante e fascinante da disciplina, ele lançou Sete Breves Lições de Física, onde explica conceitos básicos de forma simples e lúdica. Natural de Verona, no norte da Itália, Rovelli se graduou em física em 1986, na Universidade de Bolonha, e se doutorou pela Universidade de Padova. Atualmente, é responsável pelo centro de pesquisas sobre gravidade quântica da Universidade Aix-Marseille, na França.
Ele contou à Comunità como surgiu a ideia de fazer um livro sobre física direcionado para o público em geral.
— Não foi uma ideia minha. Eu tinha escrito alguns artigos sobre física para o suplemento cultural Domenica, do jornal italiano Sole 24 Ore. A editora Adelphi sugeriu juntar estes artigos e expandi-los em um livro. No início, eu não pensava que seria uma boa ideia. Mas eu estava seduzido pelo fato de que a Adelphi é uma editora lendária na Itália, e ser um “autor Adelphi” foi uma oferta difícil de recusar. Então, eu comecei a trabalhar. O público que eu tinha em mente era de jornal: as pessoas são curiosas, mas não sabem nada sobre a física moderna — explica Rovelli.
Apesar da modesta tiragem inicial de três mil cópias, o livro surpreendeu e se tornou um sucesso de vendas na Itália e no mundo. Passado pouco mais de um ano, já se encontra na 18ª edição, com um total de 300 mil exemplares vendidos na Itália, um resultado extraordinário para um título de ciência.  Ficou à frente de autores consagrados, como Umberto Eco e o prêmio Nobel Dario Fo, além de ter desbancado o best-seller Cinquenta Tons de Cinza. Na Inglaterra, entrou na lista de mais vendidos do jornal Sunday Times. Traduzido para 28 idiomas, foi publicado pela editora Objetiva no Brasil.
— Eu fiquei muito surpreso e agradecido aos leitores. Sempre me senti um pouco como um estranho no mundo. O calor que recebi, vindo de tantas pessoas, todos esses meus irmãos me dizendo “venha aqui, nós gostamos de você, mesmo com suas ideias estranhas”. É um sentimento maravilhoso —conta o professor.

Física moderna é mágica, porém real: nela está o segredo do sucesso da obra
Perguntado sobre a razão do sucesso de livros como Uma Breve História do Tempo, de Stephen Hawking, e de filmes como Interstellar e Teoria do tudo, ele lembra que a física moderna é absolutamente fascinante e inclui temas como buracos negros, viagens no tempo e nascimento do universo:
— É como uma grande mágica. Mas é sobre a realidade real — define.
Na obra, Rovelli explica de forma simples conceitos por trás da Teoria da Relatividade Geral, da arquitetura do universo, das partículas elementares, da probabilidade e dos buracos negros. No primeiro capítulo, o autor nos leva de volta ao seu tempo de estudante universitário, quando passava as férias na Calábria e se dedicava à leitura da Teoria Geral da Relatividade, de Einstein, classificada por Rovelli como “uma obra de arte pela sua capacidade de abrir nossos olhos para as novas perspectivas existentes no mundo”. Em seguida, ele nos apresenta ao mundo da mecânica quântica e explica conceitos fundamentais, como átomos, elétrons e as leis da probabilidade que regem o mundo subatômico. Outros capítulos são dedicados à cosmologia, à gravidade quântica e ao lugar da humanidade no universo.
Com o sucesso da publicação, Rovelli passou a dar entrevistas às TVs e rádios italianas, durante as quais mostra um lado da física totalmente diferente daquele ensinado nas salas de aulas.
— A escola, com frequência, tem o efeito de transformar temas maravilhosos em assuntos chatos. É porque os alunos são obrigados a aprender, mas não há nenhuma maneira de aprender algo bem se você é forçado. Apenas a curiosidade leva à aprendizagem real — explica o professor.
Como bom professor, ele passa a receita para que a física conquiste o coração dos jovens e, assim, seja formada uma nova geração de cientistas.
— Basta ser honesto e não tentar exagerar. Falar sobre o que nós ainda não sabemos, sobre os mistérios atuais, as maravilhas do universo e os limites de nosso conhecimento atual — finaliza.