{mosimage}Conferência em Roma reúne autoridades e empresários dos dois países em evento que discutiu o crescimento acelerado da AL e soluções para crise europeia
Em meio aos temores europeus de uma nova grande crise econômica, a ideia de que a América Latina e — principalmente, o Brasil — deixaram de ser o problema do mundo para se tornarem parte da solução, dominou os debates da V Conferência Itália-América-Latina e Caribe, realizada entre os dias 5 e 6 de outubro na sede do Ministério das Relações Exteriores da Itália, em Roma. O evento, que representa o principal fórum de encontro e confronto entre a Itália e os países da América Latina e do Caribe, se concluiu com os principais articuladores italianos, como o ex-premier Massimo D’Alema e o ministro italiano das Relações Exteriores Franco Frattini, repetindo as palavras do ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, que esteve presente na conferência representando a presidente Dilma Rousseff.
— O Brasil não é mais problema, mas parte das soluções dos problemas internacionais — afirmou o ministro brasileiro em entrevista à Comunità Italiana, ao elencar os motivos que colocam o Brasil em um papel de destaque na economia mundial e na política internacional, como o fato de possuir um mercado interno de consumo de massa muito forte.
Mercadante afirma que “foram 40 milhões de pessoas que chegaram à classe média nos últimos anos, e esta é a diferença do Brasil neste mundo em crise”. Ele também reitera que o governo brasileiro está pronto para contribuir com a União Europeia (UE) na superação “rápida e eficaz desta crise”.
Durante sua exposição diante de um público formado por representantes dos governos dos países latino-americanos, líderes de organizações internacionais e regionais e expoentes de instituições econômicas italianas, Mercadante afirmou que a economia brasileira, apesar de preparada para enfrentar uma crise econômica, com uma reserva cambial que aumentou US$ 150 bilhões desde a crise de 2008, “não é uma ilha” e depende da economia europeia.
— Os países emergentes da Ásia e da América Latina não podem sustentar o crescimento mundial sozinhos — afirmou, deixando clara a posição brasileira de que a UE “precisa de agilidade e comando nas decisões”. “Não há mais tempo a perder”, concluiu o ministro, cujo discurso foi endossado por outras lideranças latino-americanas presentes no evento.
Respeito pelo Brasil
O Brasil se apresentou deste modo como um dos grandes destaques do evento, que ocorre a cada dois anos, organizado pelo Ministério das Relações Exteriores da Itália (MAE) em colaboração com o Instituto LatinoAmericano (IILA), o Centro Estudos de Política Internacional, o governo da região da Lombardia e outras entidades que integram o Comitê Consultivo para as Conferências Nacionais Itália-América Latina. A quinta edição do evento se articulou em três sessões de debates dedicadas a aprofundar temas sugeridos pelos países membros, como as possibilidades de cooperação com o Brasil, principalmente em nível de pequenas e médias empresas.
Para o subsecretário do Ministério das Relações Exteriores da Itália, Vincenzo Scotti, principal articulador da Conferência e grande especialista em temas latino-americanos, “o Brasil esteve no centro dos debates da conferência porque é fundamental para a integração entre a América Latina e a Europa”, explicando também que a relação bilateral entre Brasil e Itália serviu como modelo para os outros países latino-americanos de integração comercial em nível de pequenas e médias empresas, mas também no âmbito da criação de pólos produtivos em torno de grandes setores industriais, como o automobilístico.
Segundo os dados apresentados pelo embaixador da Itália no Brasil, Gherardo La Francesca, nos primeiros seis meses de 2011 houve um crescimento de 37% no intercâmbio comercial entre brasileiros e italianos e, no último ano, 200 novas empresas italianas passaram a atuar no país, somando atualmente 585 empresas que atestam o “forte crescimento do mercado brasileiro”. Entre os setores da economia brasileira que formam o chamado “mapa das oportunidades” para os empresários italianos, está o automobilístico, impulsionado pela abertura da nova fábrica da Fiat em Pernambuco; o setor náutico, especialmente pelas oportunidades nos estados de Santa Catarina e Amazonas; e o setor de mármore e granito, especialmente no Espírito Santo, um estado rico em matéria-prima, mas carente de tecnologias avançadas para o corte do mármore — setor no qual a Itália é líder mundial.
Fiat em Pernambuco
A experiência da Fiat no Brasil, e, principalmente, o anúncio recente de abertura de uma nova unidade no estado de Pernambuco, foi um dos principais temas discutidos na sessão temática que abordou a cooperação industrial e financeira com o Brasil.
Valentino Rizzioli, italiano radicado há mais de 40 anos no Brasil e um dos precursores da Fiat em terras brasileiras, participou da conferência para ilustrar a sua experiência naquele que, hoje, é o principal mercado mundial da fabricante de automóveis de Turim. Além da experiência já consolidada da Fiat, que atualmente emprega mais de 42 mil funcionários nas unidades de Minas Gerais, São Paulo e Córdoba, na Argentina, Rizzioli também ilustrou o projeto piloto para a futura unidade de Pernambuco, que deve começar a operar em 2014, empregar 4.500 pessoas direta e indiretamente, e será baseado na experiência da fábrica de Betim (MG).
— O objetivo é criar um pólo de fornecedores localizados a não mais do que 150 km da matriz
— explicou o executivo, acrescentando que a Fiat possui hoje mais de oito mil fornecedores em toda a América Latina e que o futuro pólo de Pernambuco será uma grande oportunidade para pequenos e médios empresários italianos do setor automobilístico.
Único governador brasileiro convidado para participar do evento, Eduardo Campos, de Pernambuco, apresentou aos diplomatas italianos e latino-americanos as potencialidades do Nordeste, até há pouco tempo desconhecida dos empresários europeus. Hoje, não por acaso, é a escolhida da Fiat para o seu novo investimento.
— Pernambuco vive hoje um momento de reindustrialização. Em vários setores estratégicos, temos a presença de grandes empresas italianas, como no setor automotivo, com a Fiat, no setor de energias renováveis com a Enel, e na área de bebidas com a Campari — afirmou. Campos lembrou que o PIB pernambucano cresceu 15,7% no último ano, um dos mais altos índices do Brasil.
Empreendedorismo
O presidente do Sebrae, Luiz Barreto, foi o responsável por apresentar a nova menina dos olhos dos investidores italianos no Brasil: o setor das médias e pequenas empresas.
— Este setor é fundamental na economia brasileira. Trata-se do maior gerador de emprego e principal fator de desenvolvimento atual e futuro do país, pois teremos uma sociedade do futuro com muitos empreendedores com papel cada vez mais importante para o Brasil — declarou Barreto, ex-ministro do Turismo do governo Lula. A economia brasileira possui hoje quase seis milhões de micro e pequenas empresas, responsáveis por 72% dos empregos formais em 2010 e 20% do PIB nacional, comentou.
Barreto também ressaltou a importância de uma cooperação neste setor com a Itália, que possui um forte desenvolvimento histórico no assunto. O presidente do Sebrae citou o caso dos distritos industriais italianos nascidos no pós-guerra e responsáveis pela industrialização do país, como o de Pesaro, na região de Le Marche, com o qual o Sebrae mantém um consolidado acordo de intercâmbio tecnológico no setor de madeira e móveis.
Nata do empresariado em Roma
Por ocasião da V Conferência Itália-América Latina e Caribe, de 5 a 11 de outubro, ocorreu, também em Roma, outro encontro que reuniu autoridades e empresários brasileiros para discutir formas de colaboração comercial e industrial com a Itália. O 16º Meeting Internacional, promovido pelo LIDE (Grupo de Líderes Empresariais), que tem como presidente o empresário brasileiro João Doria Jr., reuniu, em plena sede da poderosa Confederação das Indústrias Italianas (Cofindustria), mais de 150 empresários brasileiros para trocarem informações com industriais italianos sobre as possibilidades de investimentos entre os dois países. Um dos participantes era o presidente da TAM, Líbano Barroso.