Preocupados com o impacto no meio ambiente e com a saúde dos filhos, muitos pais italianos estão optando pelo uso de fraldas laváveis, o que também gera economia
Dizem que quando nasce um bebê nascem também uma mãe e um pai. Para eles, abre-se um mundo completamente novo, feito de noites maldormidas, choros para decifrar, sorrisos para ficarem extasiados e muitas fraldas para trocar. No geral, uma criança, nos três primeiros anos de vida, consome cerca de seis mil fraldas descartáveis, correspondente a cerca de uma tonelada de resíduos não recicláveis, que têm um tempo de decomposição de até 500 anos. A primeira fralda descartável foi inventada pelo americano Victor Mills em 1961. Segundo os cálculos, ainda faltam 450 anos para a mesma desaparecer do planeta Terra. Por isso, é em constante aumento o número de pais que preferem usar, como décadas atrás, fraldas laváveis: elas são amigas do meio ambiente, evitam alergias e ajudam a poupar dinheiro.
Há mais de dez anos, existe na Itália a associação Non solo ciripà, que promove o uso de fraldas laváveis como alternativa às fraldas descartáveis.
— No começo, apenas algumas mães se uniram em torno dessa causa comum e mais tarde formaram uma associação em nível nacional — afirma à Comunità Sara Mandalà, que há três anos faz parte da diretoria da associação, sediada em Bolonha.
Além de organizar encontros para explicar o uso de fraldas laváveis aos pais, os associados também sensibilizam as instituições italianas a criarem incentivos que ajudem na compra inicial das fraldas ou a oferecerem uma redução na taxa dos resíduos aos pais que, graças a essa escolha, produzem uma quantidade menor de lixo.
Aos mais céticos que torcem o nariz ao ouvir falar de fraldas laváveis, Mandalà argumenta que os modelos atuais são bem diferentes das antigas fraldas de pano, chamadas de ciripà, que não impediam vazamentos. As novas fraldas laváveis dispensam alfinetes, fita crepe ou fixadores.
— As fraldas de agora são um substituto perfeito daquelas descartáveis. Têm o mesmo formato e são usadas da mesma forma. A diferença é que, ao invés de jogá-las na lixeira, são jogadas na máquina de lavar — analisa a conselheira da associação, originária de Pordenone.
Mandalà e o seu companheiro descobriram as fraldas reutilizáveis há quatro anos e meio, quando nasceram os seus gêmeos Mattia e Emanuele.
— Posso garantir que os pais de gêmeos não têm muito tempo. Por isso, se tivesse sido algo muito difícil, mesmo que a causa fosse justa, não conseguiríamos usá-las. É realmente algo muito simples, que não exige muito esforço e fadiga — salienta a mãe de primeira viagem.
Durante esses anos, Mandalà se tornou a especialista no assunto e a paixão se transformou em uma profissão: desde 2014, ela mantém a Ecobaby, uma loja virtual de fraldas laváveis.
As pannolinoteche, bibliotecas de fraldas, se espalham pela Itália
Nos últimos anos, têm se espalhado por toda a Itália as pannolinoteche, espécie de bibliotecas onde é possível alugar um kit de diferentes modelos de fraldas laváveis para saber qual delas se adapta melhor ao bebê antes da adquiri-las.
Dificilmente há lojas físicas que vendem esses tipos de fraldas. Em geral, é preciso recorrer à internet. Por isso, as “fraldatecas” são muito úteis.
— No norte do país, o número de pannolinoteche é maior. Esse ano se associaram muitas pessoas do sul e isso nós dá muita esperança. Recentemente foi inaugurada a primeira na periferia de Nápoles, no bairro de Scampia, uma demonstração do crescimento da consciência ambiental — destaca a conselheira de Non solo ciripà.
Segundo Mandalà, a escolha das fraldas não é só uma questão que atrai o interesse das mães, pois muitos pais participam dos encontros informativos.
— O público que participa das reuniões é muito heterogêneo. Acredito que seja mais uma questão de sensibilidade. Quem se aproxima desse mundo se preocupa mais com a saúde, com o meio ambiente e é consciente de estar fazendo algo bom para o seu filho, que pode servir para o seu futuro — analisa a friulana.
Já durante a gravidez, a educadora romagnola Sara Palazzini começou a se aventurar no mundo das fraldas reutilizáveis.
— Decidi usar esse tipo de fraldas principalmente porque não queria colocar em contato com a pele do meu bebê produtos derivados do petróleo, que poderiam causar irritações. Além disso, as fraldas descartáveis demoram 500 anos para se decomporem. Para produzir apenas uma fralda, é necessário 34 litros de água, uma quantidade muito maior do que uso para lavar todas as minhas fraldas ecológicas em uma máquina de lavar roupas — explica à Comunità Palazzini, mãe de Tommaso, de seis meses.
Para escolher o modelo mais confortável, Sara participou de um encontro organizado por uma voluntaria de Non solo ciripà, que até emprestava aos pais um kit completo para testes.
— Até agora, estou usando o modelo all in two, porque é mais fácil também para o pai e é confeccionado como uma fralda descartável — relata a mãe.
Entre as vantagens, ela cita também o fator financeiro, pois até agora nem chegou a gastar 100 euros com as fraldas que adquiriu. Segundo a Non solo ciripà, as famílias que usam fraldas laváveis economizam bem mais da metade em relação aos pais que compram descartáveis por dois ou três anos. As autoproduzidas permitem uma economia ainda maior. Além disso, é possível utilizar a mesma fralda ecológica em outros bebês.
— Para cada criança são necessárias em torno de 20 a 25 fraldas laváveis. Se forem de boa qualidade, podem servir até três filhos antes de serem eliminadas — comenta Mandalà, que também garante um desfralde mais rápido e fácil, como aconteceu com os seus gêmeos.
O mercado mundial das fraldas descartáveis
Dos resíduos produzidos todos os anos na Itália, 20% são compostos por fraldas descartáveis, constituídas em grande parte de plástico. De acordo com uma pesquisa da consultoria Nielsen de agosto de 2015, a América do Norte lidera o ranking da compra das fraldas descartáveis, mas o crescimento mais elevado se registra na América Latina.
Prefeituras do norte da Itália investem nas fraldas ecológicas
Em 2013, a Agência Regional de Proteção Ambiental do Friuli Venezia-Giulia (ARPA FVG) lançou a iniciativa Nati per non inquinare, com objetivo de sensibilizar as instituições públicas, creches, pediatras e centros de saúde.
— Através da nossa ação, várias prefeituras decidiram conceder incentivos às famílias residentes, enquanto outras investiram na abertura de pannolinoteche — declara à Comunità Giada Quaino, responsável pelo projeto ainda ativo.
Em particular, a província de Gorizia concedeu incentivos às famílias e também às creches que pretendem comprar e usar as fraldas ecológicas para seus alunos mirins.
— Eu também utilizei esse tipo de fraldas com meu filho, que agora tem cinco anos. A minha experiência é absolutamente positiva! Eu usava cinco fraldas por dia e as lavava cada duas ou três dias na máquina de lavar, junto com a roupa branca — relata Quaino.
Tais iniciativas estão ajudando a difundir o uso de fraldas laváveis. Além de ser uma escolha ecológica e saudável, está se tornando uma peça de vestuário de tendência.
— Eu acho que as mães italianas ainda têm um olhar para a beleza e a moda. As fraldas são bonitas e coloridas, e isso atrai muito. Há um mercado crescente das fraldas personalizadas, porque é possível decorá-las com o nome do bebê. Para as meninas, colocam até uma saia por cima — finaliza Sara Mandalà, a conselheira da associação.