Comunità Italiana

Futuro incerto

Governo decide adiar por um ano os estudos de programa nuclear. Em junho, referendo decide destino das construções

As consequências da tragédia no Japão vãoalém das fronteiras. Devido ao acidente nuclear provocado pelas explosões das usinas, sobretudo em Fukushima,em 22 de março, a Itália declarou moratória de um ano para retomar o estudo de produção de nuclear. O projeto foi aprovado em 2008, constituindo um dos destaques da plataforma de governo do primeiro-ministro, Silvio Berlusconi. Será realizado, entre os dias 12 e 13de junho, um referendo nacional que defina a construção de usinas nucleares no país. Em 1987, um referendo também foi aplicado e aopinião pública optou por cancelar o projeto. Na ocasião, a catástrofese deu na Ucrânia, com o acidente de Chernobyl.

A Itália é a única nação industrializada do Grupo dos Oito sem usina nuclear e permanece deficitária em produções de energia. Segundo Gian Antonio Stella, autor do livro “La Deriva. Perché l’Italia rischia il naufrágio”, 88% de energia que o país importa vem do norte da Europa, da Rússia e da Líbia. Para o físico italiano, Enrico Pedemonte, a catástrofe japonesanão deve cancelar o projeto italiano.

— As centrais construídas pela Itália têm capacidade para aguentar o impacto de um avião e são muito mais confiáveis que as de Fukushima.

O professor do Departamento de Mineralogia e Geotectônica do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Caetano Juliani, explica que as usinas são planejadas para resistir a terremotos intensos e são desenhadas para cada região em particular, levando-se em conta sua história sísmica.

— No Japão nunca havia sido registrado um tremor tão forte. Todas as plantas nucleares desligam automaticamente quando ocorre um terremoto de um certo grau, para evitar acidentes. No caso do Japão, a tsunami inundou as casas de máquinas e os geradores deixaram de funcionar e, como não havia energia elétrica externa devido ao rompimento dos cabos de alta tensão ,assim que as baterias do no-break se esgotaram, o sistema de refrigeração deixou de funcionar e os reatoresaqueceram. Acreditava-se que as [usinas]do Japão fossem as mais bem protegidas, até esse acidente. Mas são usinas muito antigas também. Certamente haverá necessidade de repensar todas essas normas de segurança, não só no Japão, mas em todo mundo — alerta Juliani.

O acidente nuclear no Pacífico ocorreu após um terremoto de 9 graus de intensidade, segundo a escala Richter, que atingiu várias cidades japonesas, entre elas, Sendai eTóquio. Os tremores desencadearam uma tsunami que assolou grande parte do território asiático.

O estudante Willian Hirata, de 23 anos, que estava em Yamanashi, descreve o momento do terremoto.

— Eu estava fazendo o check-in das minhas bagagens e não achava que o terremoto estivesse tão forte, mas quando olhei ao redor do aeroporto, vi todas as estruturas se mexendo.

Terror este que parte da população italiana não deseja enfrentar. No ano passado, em Milão, foi realizada a manifestação “No Nuclear Day”, cujo slogan era “melhor ativos hoje do que radioativos amanhã”.

Eventos esportivos são suspensos
A seleção japonesa, comandada pelo italiano Alberto Zaccheroni tinha dois amistosos agendados: contra Montenegro, em 25 de março e Nova Zelândia, dia 29. A Federação Japonesade Futebol não confirmou as partidas. Após o desastre, Zaccheroni retornou à Itália a pedido da família.

Pizzaiollo italiano se recusa a voltar
Giuseppe Erricchiello, 26 anos, vive no Japão há 5 anos. Após sofrer um atentado, sendo esfaqueado e ficado em coma, Peppe, como é conhecido, não quis permanecer em sua terra natal, Afragola. Com aajuda da avó, aprendeu a fazer pizza. Juntou dinheiro e se mudou para Tóquio. Começou como ajudante de cozinha. Hoje, é pizzaiollo do próprio restaurante, batizado de “La Bicocca”. Após o terremoto e a tsunami que devastaram a região, Vincenzo Petrone, embaixador da Itália no Japão, garantiu auxílio a todos os italianos que estivessem em solo japonês. Peppe, ao contrário, preferiu ficar.

— A minha vida é tudo nesta cidade. — conclui.