Viajar é bom e todo mundo gosta. Mas quando chegam as férias são muitas as coisas para pensar antes de colocar o pé na estrada, e uma delas é a hospedagem, que geralmente representa cerca de 50 % do custo de uma viagem.
Uma cidade turística como o Rio de Janeiro, além dos tradicionais hotéis com os mais variados preços, dispõe de uma variedade de opções de hospedagem como pousadas, hostels e bed and breakfast. Entre estas inúmeras opções, há aquelas pouco convencionais, e melhor, de graça, como o Couchsurfing.
O CS, como é conhecido pelos íntimos, é uma rede social que oferece hospedagem de graça a turistas ao redor do mundo. Em uma tradução livre, o nome significa surfista de sofá. O projeto foi criado pelo americano Casey Fenton em 1999. A ideia nasceu depois de Fenton ter achado um voo barato de Boston para a Islândia. Ele enviou randomicamente cerca de 1500 emails para estudantes da Universidade da Islândia perguntando se eles possuíam algum lugar onde ele poderia ficar. Imediatamente ele recebeu 50 respostas e, na sua volta aos Estados Unidos, começou a trabalhar em sua ideia.
Hoje, o serviço que está disponível em 100 mil cidades conta com uma rede de cerca de 6 milhões de usuários cadastrados em 207 países. O Brasil é o oitavo país em número de “surfers” cadastrados: a Itália se encontra na sétima posição segundo dados do próprio site.
Para quem deseja se tornar usuário, basta fazer um cadastro no site, onde se preenche uma ficha com suas informações, bem longa por sinal, mas necessária, a fim de evitar fraudes e garantir um mínimo de segurança para os usuários. Feito o cadastro, pode-se começar a procurar por uma vaga ou oferecer um couch, dependendo da disponibilidade, já que não é obrigatório oferecer hospedagem para utilizar o serviço. Para os mais céticos existe a opção de busca por um usuário verificado, que são membros que tiveram sua identidade e endereço comprovados através do cartão de crédito. Quem desejar se tornar um membro verificado basta pagar uma taxa, que varia de acordo com o país de origem, e o Couchsurfing verificará as informações fornecidas. Após o pagamento online, o usuário recebe uma correspondência que servirá de confirmação do endereço e terá um símbolo adicionado no canto da sua foto de perfil, uma letra “V” na cor verde.
Para quem pretende viajar e está em busca de um couch, basta escolher o país e a cidade para onde pretende ir, fazer uma busca no site e entrar em contato com moradores por meio de mensagens privadas ou, se preferir, deixando um anúncio em um quadro pedindo por hospedagem. Caso o usuário queira, ele pode filtrar sua busca e procurar por pessoas com quem tenha interesses afins. Se você gosta de fazer trilha, pode procurar e achar alguém que também goste; isso facilitará em muito sua convivência com seu host.
Muitos procuram o Couchsurfing não somente pela possibilidade de se conseguir uma hospedagem grátis, mas também para compartilhar de uma experiência única. A ideia é proporcionar tanto ao anfitrião quanto ao hóspede desfrutar de um intercâmbio, conhecer uma nova cultura, aprender uma nova língua e fazer novas amizades, que em muitos casos podem durar para o resto da vida.
O perfil de quem procura por esse serviço é um pouco diferente do turista tradicional. Os “surfistas”, como são conhecidos os usuários, geralmente são jovens entre 20 e 29 anos, viajam de forma independente e de mochilão, falam em média três línguas e procuram fazer um turismo um pouco diferente do tradicional. Na busca desse turismo, o host muitas vezes exerce o papel de guia, mostrando ao seu hóspede um pouco de sua vida, da cidade onde mora ou uma experiência que ele não encontraria num guia de viagens comum.
As regras variam e sempre dependem do dono da casa, que no primeiro contato deve explicá-las para não haver conflitos futuros.
A Comunità conversou com brasileiros e italianos que optaram por usar o serviço ao escolher uma hospedagem tanto no Brasil quanto na Itália e descobriu um pouco mais sobre essa experiência tão incomum para muitos, mas que é quase uma regra para qualquer mochileiro que se preze.
O administrador gaúcho Franz Huber mora no Rio desde os quatro anos de idade e escolheu a Itália como parte de sua viagem. Formado em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Franz conta que largou o emprego para fazer uma volta ao mundo, quando tomou conhecimento do concurso de uma companhia aérea suíça que procurava alguém para percorrer, durante seis meses, 26 rotas distintas, visitando hotéis e restaurantes para escrever sobre o serviço. Como Franz conseguiu se classificar para as fases seguintes, a própria Swiss Airlines bancou sua passagem para a Suíça. Apesar de ter chegado à fase final da competição, Franz não foi o vencedor do grande prêmio, mas isso não desanimou o brasileiro de continuar com seus planos de conhecer o mundo. Com vontade de conhecer os mais variados países e pessoas de mais diferentes culturas, ele se cadastrou e começou a utilizar o site. Como acontece com muitos usuários, Franz sentiu o mesmo receio que outros membros sentem ao procurar hospedagem com pessoas totalmente desconhecidas.
— Nunca tinha usado e tive um pouco de receio. Mas, depois de entrar e encontrar tantas pessoas interessantes e com pensamentos similares, enviei algumas mensagens perguntando se poderíamos nos encontrar para tomar um café e trocar experiências nas cidades que iria visitar. Em Roma, me ofereceram uma vaga em um local central e de ótimo acesso, então pensei ser esta a minha primeira oportunidade para vivenciar efetivamente o Couchsurfing e aceitei — conta ele.
Franz chegou a Roma, vindo da Alemanha, e foi recebido pela sua anfitriã Valentina, que deixou a sua disposição um quarto que dias antes um estudante deixara, ao voltar ao seu país de origem.
Valentina também conversou com a Comunità e explicou o que a faz abrir sua casa para receber estranhos de passagem por Roma.
— Pessoas que viajam muitas vezes são abertas e dispostas a compartilhar e o Couchsurfing é um serviço feito apenas para aqueles que querem conhecer a fundo a realidade de um país — conta a italiana, que tem intenção de vir para o Brasil ainda esse ano.
Durante seu tempo na Cidade Eterna, o brasileiro visitou o Vaticano e o Coliseu e também participou de uma festa com sua anfitriã. Continuou sua viagem pela Itália, passando por Florença, Pisa, Veneza e Trieste, antes de seguir para a Eslovênia e continuar seu tour ao redor do mundo.
Sobre a sua primeira vez ao usar o Couchsurfing, Franz se mostrou muito satisfeito.
— Foi uma experiência muito agradável, pois além da minha anfitriã ser muito bacana, ela me convidou para uma festa surpresa de um amigo e eu pude ver de perto uma comemoração local e conhecer um pouco mais da cultura italiana, sua culinária e suas formas de festejar. No final, ainda deu pra economizar dinheiro para viajar — contou o estudante, que já estava com mochila pronta para seguir viagem.
A italiana Jade, 23 anos, de Vimercate, norte da Itália, decidiu vir ao Brasil passar férias. Lá se vão dois meses desde sua chegada e a intenção é de ficar pelo menos mais um mês. Jade também optou por usar o Couchsurfing.
— A maior vantagem é conhecer a cidade pelos olhos de um morador local e desfrutar o que há de melhor. Tive um pouco de dificuldade com a língua, no começo, já que não entendia nada, mas agora já sei um pouco — diz a italiana já quase adaptada à vida no Rio de Janeiro.
Assim como muitos membros da rede, Jade aponta que a maior vantagem não é a hospedagem de graça, mas sim a possibilidade de conhecer outra cultura de modo profundo.
Franz, Jade e Valentina são apenas alguns exemplos de uma comunidade de milhões que não para de crescer. O Couchsurfing tem se mostrado uma inesgotável fonte de intercâmbio cultural, onde a gentileza proporciona experiências mais humanas e cria conexões. A regra é deixar o melhor de si por onde passar.