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Globalizada e volátil

16 de agosto de 2012 - Por Comunità Italiana

{mosimage}Juiz do processo histórico contra Cosa Nostra nos anos 80 revela as novas características da máfia italiana, que agora atua em conjunto com organizações de outros países, falsifica mercadorias de grifes e não deixa o rastro do dinheiro. Ele também indica falhas no sistema judiciário brasileiro

O procurador antimáfia da República italiana Pietro Grasso vive sob escolta desde 1985, quando foi juiz do famoso maxiprocesso de Palermo, na Sicília, que condenou 19 réus à prisão perpétua e a um total de 2600 anos de cárcere 475 acusados de envolvimento com a organização mafiosa Casa Nostra. Concluída a histórica tarefa, Grasso foi nomeado consultor da comissão antimáfia. Depois, virou conselheiro da Direzione affari penali do Ministério italiano da Justiça. É procurador da direção italiana antimáfia desde 2005. Antes disso, de 2000 a 2004, atuou como procurador em Palermo, capital da Sicília, período em que foram presas 1.779 pessoas por crime de máfia, além de terem sido decretadas 380 prisões perpétuas.
Em julho, ele esteve no Brasil para apresentar seu novo livro, Liberi tutti. Lettera a um ragazzo che non vuole morire di mafia. Diante de um auditório repleto, no Consulado italiano do Rio, Grasso falou sobre o combate à máfia.
Ele conta que sua obra fala de “um fenômeno complexo, social e econômico, pois o crime frequentemente dá trabalho aos jovens, o que é um problema”.
Liberi tutti também serve para mostrar que não apenas quem está diretamente envolvido com a máfia “morre” do mal: também aqueles que silenciam são suas vítimas, analisa.
— No livro, procuro fazer entender que não morre de máfia somente quem é vítima da violência mafiosa. Privação de liberdade e da democracia, prepotência, opressão, corrupção, tudo isso, e não reagir à máfia, significa morrer, não viver livre. Portanto, morre de máfia quem comete crimes e ainda aqueles que são indiferentes, os conformados, os que não reagem. É preciso reagir por meio de um movimento que não seja somente contraste, mas que também procure tirar o consenso em torno da organização para que nos voltemos para o Estado e trabalhemos em busca de um futuro melhor, sobretudo para os jovens.
Ao longo de quatro décadas no calcanhar dos criminosos, o magistrado italiano identifica as novas características da máfia, que caminhou rumo à internacionalização de suas ações, deixando de limitar-se a redutos ou a povoados italianos, como mostravam clássicos do cinema. Tudo, porém, sem perder o contato com a terra originária.
— A máfia se internacionalizou. Colocou-se em contato com outras organizações criminosas estrangeiras. Mudou e adaptou-se à demanda dos mercados globalizados. Por isso, dedica-se a outras atividades como a falsificação de mercadorias de grifes, e o tráfico de lixo nocivo, de obras de arte e de seres humanos. A máfia italiana, no entanto, permanece ligada ao território de origem, e isto lhe dá força e poder — explica à Comunità.
Outra novidade em termos de estratégia é o que Grasso chama de “multitráfico”, através da qual algumas rotas são seguidas para mais de uma atividade, entre um país e outro, como o tráfico de armas e de seres humanos.
Além disso, a volatilidade de redes tem dificultado as investigações da justiça italiana.
— Temos percebido que, frequentemente, pequenas networks são criadas para executar uma operação criminosa de entorpecentes. Elas são caracterizadas pelo fato de se dispersarem logo que a operação é concluída. Durante as investigações, não chegamos mais às pistas dos chefes ou dos adeptos da organização — revela.

O dinheiro inodoro da máfia
É difícil também seguir o movimento do dinheiro, seja entrada, seja saída, conta o procurador italiano.
— O que parece é que quase há outra via, diferente, que leva a droga, mas que não recebe o dinheiro na transação. São como dois canais diversos. Nós conseguimos interceptar um canal, mas não o outro, talvez porque o outro se sirva de meios legais. Ou que parecem legais, mais difíceis de indagar. Confunde-se o dinheiro da criminalidade com o da corrupção econômica e política, e que vem da sonegação.
O Brasil virou um lugar de trânsito para a droga que vai para a Europa, sobretudo através da África, o que reforça as ligações entre as máfias italiana e brasileira, revela Grasso.
Os investigadores italianos, por meio de uma cooperação internacional que inclui o Brasil, acabaram descobrindo recentemente uma rota marítima que parte do norte ou do extremo sul do Brasil, ou da Argentina, e segue em para Cabo Verde ou a Nigéria, de onde a droga chega aos países europeus.
— Há dois anos, descobrimos uma organização na qual estavam envolvidos vários países. Na cabeça da organização estavam criminosos sérvio-montenegros. Havia ramificações na Eslovênia, na Croácia, na Itália, na Suíça, no Brasil e na Argentina. Em cada país, existia uma tarefa no tráfico, que podia ser a parte econômica e de transporte. A droga, em quantidades enormes, chegava do Brasil e Argentina.
A cooperação internacional, coordenada pela procuradoria italiana antimáfia, saiu-se vitoriosa, exulta o magistrado.
— Estamos colocando em ato uma grande cooperação internacional para obter esses resultados. Nesse caso, conseguimos operar, ligados, em todos os países. Capturamos pessoas em todos eles, no mesmo dia, o que foi um grande resultado. Houve colaborações de procuradores de Bari, Milão e Roma, da Sérvia, e de outros países. O trajeto do dinheiro, no entanto, não conseguimos identificar.

As brechas do sistema brasileiro
Para o procurador italiano, um dos instrumentos mais eficazes de combate à criminalidade — o sequestro e o confisco de bens — não é explorado em todas as suas possibilidades pelo sistema judiciário brasileiro.
— No Brasil, pelo que sei, é possível confiscar os bens somente depois da condenação definitiva, e apenas por tráfico de drogas. Porém, àquela altura, você não encontra mais os bens, pois os criminosos já os venderam ou os repassaram para outras pessoas. Na Itália, se há bens imóveis, carros ou empresas comerciais, nós fazemos um sequestro preventivo para evitar que tais pessoas possam vendê-los. Se são condenados, aqueles bens são confiscados e passam para o Estado.
As investigações, pelas quais a Justiça italiana faz uso de interceptações telefônicas e ambientais, ajudam a desmascarar os prestanomi — os chamados “laranjas”. Um exemplo ocorrido na Itália envolveu um supermercado que estava no nome de um “laranja”. Um colaborador da procuradoria italiana informou que, todas as noites, o responsável recolhia o dinheiro do caixa e o levava ao capo. O supermercado foi confiscado ainda durante as investigações. Com esse sistema, em cerca de quatro anos, 40 bilhões de euros foram seqüestrados em bens e repassados ao Estado, conta Pietro Grasso, que  também defende a prisão perpétua, pena inexistente no Brasil, como instrumento eficaz para combater o crime, pois “o risco de se passar a vida toda na prisão faz com que muitos pensem antes de cometer um crime”.  

 

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.