Como o toscano Nedo Nadi contribuiu com suas vitórias para o vitorioso retrospecto italiano no esporte
A esgrima não é o esporte mais popular da Itália, mas é aquele com o melhor retrospecto do país em todos os Jogos Olímpicos, com 121 medalhas. E um dos seus maiores heróis entrou para a história há mais de cem anos. Nedo Nadi tem nada menos do que seis medalhas de ouro, uma delas conquistada na Olimpíada de 1912, em Estocolmo, Suécia, quando tinha apenas 18 anos, e cinco em 1920 na edição de Antuérpia, na Bélgica.
Nadi veio ao mundo em 9 de junho de 1894 com a esgrima no sangue. O pai, Giuseppe, conhecido como Beppe, fundou o Círculo de Esgrima Fides, de Livorno, terra natal de Nedo, na Toscana. Foi mestre rigoroso com seus atletas, entre os quais os próprios filhos Nedo e seu irmão Aldo. Papà Beppe os tornou exímios esgrimistas e lhes ensinou os segredos do florete e do sabre, além de estimular a rivalidade entre os pupilos. A espada, outra arma desse esporte, era considerada indisciplinada pelo pai. Por isso, Nedo e Aldo tiveram de praticá-la escondidos de Beppe. E a desobediência valeu a pena, pois uma das medalhas olímpicas de Nedo foi conquistada justamente com “a arma proibida”.
Este herói começou a habituar-se muito cedo às grandes conquistas. Aos 18 anos, em 1912, levou o ouro no florete individual. Na ocasião, chamou também muita atenção por ter sido a única medalha conquistada pela equipe italiana de esgrima nos Jogos de Estocolmo. Dois anos depois, estourou a Primeira Guerra Mundial e os Jogos seguintes, que seriam disputados em 1916, foram cancelados. Nedo interrompeu as competições para alistar-se no Exército italiano: serviu no regimento de cavalaria Alessandria e foi condecorado com duas medalhas. Apesar das honrarias por bravura, quase parou na corte marcial. Seu crime: ter-se confraternizado com um prisioneiro austríaco, inimigo da Itália, que tinha conhecido em competições de esgrima. Mas Nadi teve a felicidade de ser poupado. A guerra acabou em 1918 e ele voltou a competir.
O maior ganhador de títulos em uma única Olimpíada da época
Em 1920, ele atingiu o ponto máximo de sua carreira. Porta-bandeira da Itália, foi campeão por equipe nas três armas, além de ganhar os títulos individuais no florete e sabre na Olimpíada de Antuérpia. Só não disputou a competição individual de espada porque sofreu sérios problemas intestinais. Com os cinco ouros conquistados na cidade belga, tornou-se na época o maior ganhador de títulos numa só Olimpíada. Em 1924, a façanha foi igualada pelo corredor finlandês Paavo Nurmi e só foi superada em 1972 pelo nadador americano Mark Spitz, ganhador de sete ouros. Em 2008, o também nadador dos Estados Unidos Michael Phelps estabeleceria o recorde ainda em vigor: oito medalhas no degrau mais alto do pódio.
“Está ainda aqui, senhor Nadi?”, perguntou, bem-humorado, Alberto I, rei da Bélgica, quando o italiano recebia a terceira medalha de ouro em Antuérpia.
“Com a sua permissão espero voltar de novo diante de Vossa Majestade”, respondeu o atleta.
Dito e feito: Nadi, capitão da squadra italiana, levou mais dois ouros naqueles Jogos de 1920 e na final do sabre venceu o próprio irmão Aldo.
Depois, enveredou pela via do profissionalismo. Na época, as Olimpíadas eram para amadores. Ele aceitou o convite para atuar como atleta e instrutor de esgrima no Jockey Club de Buenos Aires. Na Argentina, adoeceu e teve de voltar para a Itália em 1923.
Morte aos 45 anos
Casou-se com Roma Ferralasco, professora de educação física. Em 1931, abandonou as competições como atleta e tornou-se técnico da seleção italiana de esgrima a pedido do próprio ditador Benito Mussolini, que governava o país. Isso tudo apesar de no passado Nadi ter-se recusado a se inscrever no partido fascista. A recusa lhe valeu diversas ameaças de camisas negras, não concretizadas graças à intervenção de Augusto Turati, secretário do partido e conhecido esgrimista.
Como técnico e dirigente, também foi grande vencedor nas Olimpíadas de 1932, em Los Angeles, e em 1936, em Berlim, nesta última quando já era presidente da Federação Italiana de Esgrima. Sob o seu comando, a Itália ganhou um total de seis medalhas de ouro, sete de prata e quatro de bronze. Morreu em 29 de janeiro de 1940, com 45 anos, em sua casa, em Portofino, fulminado por um acidente vascular cerebral quando estava rezando. Ele segurou a mão de sua esposa antes de partir. Hoje, está imortalizado no hall da fama da esgrima.