Comunità Italiana

Homens do gelo

{mosimage}Exposições sobre a pré-história inspiram uma visita ao Museu Arqueológico do Alto Ádige, onde está guardado o corpo de Ötzi, conhecido como a Múmia de Similaun

A partir de janeiro, o público que estiver no norte da Itália terá a oportunidade de ver um grande apanhado de objetos de uso prático e votivo dos povos que ocuparam a península séculos antes do surgimento de Roma e que participaram da transição da Idade da Pedra para a era dos metais. Com megalíticos, vídeos e animações, a mostra L’età del Rame, la Pianura Padana e le Alpi ai tempi di Ötzi abre no dia 26 de janeiro no Museu Diocesano de Brescia, onde fica até 15 de maio de 2013. Já a exposição MysteriX reúne as peças mais enigmáticas da Idade do Bronze, do Ferro e da época romana, cuja existência a ciência arqueológica até hoje não conseguiu explicar. A mostra será inaugurada no dia 22 de janeiro no Museu Arqueológico do Alto Ádige, em Bolzano, lugar que já merece uma visita por um único fato: hospeda Ötzi, conhecido como o Homem do Gelo, descoberto em 1991 por um casal de  alpinistas perto do monte de Similaun, na fronteira entre Áustria e Itália.
Um dos principais achados arqueológicos dos últimos tempos, o corpo do caçador ente 45 e 47 anos que viveu por volta de 3.300 a.C., conservado quase que inteiramente pelo gelo com capa, casaco e sapatos de couro, pode ser visto através de uma janela junto ao frigorífico onde é mantido. Em entrevista à Comunità, o cientista responsável pela conservação e pelo estudo da Múmia de Similaun, o anatomopatólogo Edoardo Egarter Vigl, conta que uma das últimas análises da múmia levanta a hipótese da prática de acupuntura: 52 marcas tatuadas não eram de uso ornamental e estão situadas em pontos relacionados à prática terapêutica hoje atribuída aos chineses.

ComunitàItaliana: Como podemos medir a importância do achado da múmia de Similaun para a arqueologia?
Edoardo Egarter Vigl: As informações sobre a vida humana nos Alpes no período pré-histórico são escassas. Por causa da geografia e das condições climáticas e ambientais adversas e apesar das intensas pesquisas, poucos restos de civilização humana e de povoamentos se conservaram. Até mesmo tumbas e sepulcros são raríssimos. A descoberta de Ötzi, por estes motivos, foi um caso único e aconteceu por acaso. Assim, as informações que a múmia nos fornece são muito preciosas.

CI: O que a múmia permitiu saber-se sobre a vida naquele período?
EEV: Analisamos o contexto gástrico, ou seja, o que comeu e quanto tempo antes de morrer consumiu a sua última refeição, e também os tecidos e o patrimônio genético. Fizemos ainda exames radiológicos e endoscópicos. O seu corpo reúne 52 tatuagens. Não são de caráter ornamental e sim de tipo médico, terapêutico. Talvez, por causa da posição em que estão no corpo, fossem sinais de acupuntura. Faltam, porém, provas científicas para poder afirmá-lo com certeza.

CI: Em que região entre a Áustria e a Itália Ötzi vivia?
EEV: Não é possível estabelecer. A fronteira entre os dois países foi criada somente em 1918 ao final da primeira guerra mundial. Provavelmente, ele vivia nas regiões alpinas e, entre o verão e o inverno, mudava zona e altitude, caminhando desde o alto norte até o alto sul do arco alpino, quem sabe deixando os vales para chegar à planície. Mas são especulações. O Alto Ádige é uma pequena província do norte da Itália. De acordo com a lei que protege a autonomia política e cultural da região, a múmia é conservada em sua capital, Bolzano.

CI: É confirmado que ele foi assassinado?
EEV: Encontramos, através de pesquisas radiológicas, uma ponta de flecha. Dali, pôde-se estabelecer que a causa da morte foi uma hemorragia na artéria do braço esquerdo, consequência da ferida da flechada recebida.

CI: Como era a sua dieta e o seu biotipo?
EEV: Era mista, com prevalência de cereais e carne de caça. O componente de gordura animal era elevado. Apresentava estatura atlética, de tipo musculoso, com altura de 1,60 e peso em torno de 52 kg. Possuía cabelos longos castanhos escuros e olhos escuros. Tais características são relativamente frequentes na população nativa do Tirol e de todo o arco alpino.