A igreja católica italiana denunciou hoje "um muro de silêncio" frente ao que definiu como o avanço de uma "limpeza étnica" pior que a executada por qualquer totalitarismo, ao comentar o caso do aborto seletivo realizado em Milão, no qual uma mãe grávida de gêmeos teve um feto sadio extraído no lugar do outro com alterações cromossômicas.
O Avvenire, jornal da Conferência Episcopal Italiana (CEI), escreveu que uma "pesada capa de silêncio e indiferença cobre a terrível marcha que estamos realizando em direção à seleção genética, disfarçada de livre escolha dos pais, levando a resultados de limpeza étnica que nem sequer a pior violência racista dos governos totalitários conseguiu obter".
Esta é a opinião expressada no editorial do jornal da CEI, que dedica um artigo à lei 194 sobre o aborto, do qual deseja uma mudança.
"São escritos artigos sobre a recepção de crianças com Down, são feitos filmes emocionantes com protagonistas deficientes, mas logo se fecham os olhos frente à realidade de uma prática de seleção genética que se converteu em uma rotina comum. Parece que não se pode fazer nada, que se trata de uma deriva impossível de deter, permitida pela lei, mas não é assim", prosseguiu o jornal.
A intervenção foi feita no meio de junho em uma italiana de 40 anos, grávida de gêmeos, um dos quais apresentava uma alteração cromossômica que o levaria a nascer com síndrome de Down. Ao ser investigado o caso foi qualificado como "uma fatalidade".
"Foi uma situação excepcional, de uma raridade absoluta", afirmou a ginecologista, considerara especialista, que realizou o aborto seletivo no hospital San Paolo de Milão.
Monsenhor Mauro Cozzoli, professor de teologia moral na Universidade Letranense de Roma, qualificou o ocorrido como um "caso inquietante" por seu "enfoque utilitarista", em declarações realizadas no domingo.
"A eugenética consiste na busca de uma vida de qualidade, isenta de defeitos", acrescentou monsenhor Cazzoli, segundo o qual mediante a seleção se suprimem "vidas que não respondem as expectativas de quem reivindica um direito sobre elas".
Segundo Cazzoli, o caso ocorrido em Milão, "em sua dramaticidade, é a denúncia não de erro mas sim um enfoque utilitarista e hedonista da vida que nasce".
Fonte: Ansa