Homenageado durante a Mostra de São Paulo, cineasta Marco Bellocchio revela que vai filmar seu novo longa no Brasil
Depois da ausência no Festival do Cinema Italiano do ano passado, o cineasta Marco Bellocchio foi um dos homenageados da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O tradicional evento exibiu 12 títulos do diretor, que esteve na capital paulista para acompanhar o lançamento de Belos Sonhos, e também participar de uma Masterclass, no Cinesesc. Além disso, foi homenageado com o Prêmio Leon Cakoff. Bellocchio contribuiu diretamente com a realização da Mostra, desenhando o cartaz da edição deste ano e participando do projeto Memórias do Cinema, onde contou os filmes que influenciaram sua carreira.
Nascido em Bobbio, na Emília-Romanha, aos 76 anos, é considerado uma das lendas vivas do cinema italiano. Suas obras, cercadas de conotação política, já foram alvo de polêmica dentro e fora da Itália. Uma das maiores brigas públicas de Bellocchio é com o Festival de Veneza, que volta e meia escolhe o veterano cineasta para a sua mostra competitiva, mas que nunca lhe deu a premiação máxima do evento — fora um Leão de Ouro pela carreira, em 2011.
Após concorrer no ano passado com Sangue do Meu Sangue, e mais uma vez sair “de mãos abanando”, o diretor decidiu não participar mais da mostra de cinema mais antiga do mundo. Em maio, integrou com Belos Sonhos a seleção da Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes, principal rival do Festival de Veneza. Para o crítico de cinema italiano Roberto Vitali, ele nunca teve o reconhecimento merecido na Itália.
— O fato de fazer filmes que sempre têm um viés político nunca passou despercebido na Itália. Por isso, Bellocchio acaba não tendo apoio dos próprios representantes italianos dentro dos júris do Festival de Veneza. Ele sempre aparece como favorito, seus filmes são adorados pelo público e pela crítica, mas na hora do prêmio, nada acontece. Uma pena. Ele tem uma carreira ativa, faz filmes com frequência, sempre com boas bilheterias, além de ter fama internacional. Mas, infelizmente, seu país nunca o valorizou — comentou o crítico, ressaltando que o cineasta também nunca é lembrado para ser o representante italiano no Oscar.
Cineasta esteve nas cidades brasileiras à procura de locações
Mesmo com toda a polêmica envolvida na relação do cineasta com o Festival de Veneza, o cineasta liberou a apresentação exclusiva de seu curta Pagliacci para o evento deste ano. No entanto, ele não compareceu à exibição no Lido. Já no Brasil, não só esteve em São Paulo para a Mostra de Cinema, como visitou cidades de Minas Gerais, além de ir ao Rio de Janeiro. O motivo é a busca por locações para seu novo filme, Il Traditore (O Traidor), baseado na vida de Tommaso Buscetta, o delator da Cosa Nostra (a máfia siciliana) que viveu no Brasil entre os anos 1970 e 1980.
— É um tema complexo, e o filme vai abordar esse período em que Tommaso esteve refugiado no Brasil. Ainda não sei quando vamos filmar, mas farei muitas cenas por aqui — revelou à Comunità.
O cineasta também falou dos filmes selecionados para sua retrospectiva na Mostra.
— O público pode acompanhar dois novos filmes meus (Belos Sonhos e Pagliacci), e fazer um passeio por toda a minha carreira — comentou.
O ‘passeio’ a que Bellocchio se referiu incluiu títulos considerados os mais importantes do cinema político recente, como O Diabo no Corpo (1986) e Bom dia, noite (2003), que o próprio diretor considera seu filme mais importante e “o eixo” do seu trabalho.
O novo longa de Belloccio, Belos Sonhos, inspirado no livro autobiográfico Fai Bei Sogni, do jornalista Massimo Gramellini, narra a história de um homem de meia-idade que se vê incapaz de superar a morte da mãe. Depois da estreia na Mostra de Cinema de São Paulo, a produção deve chegar aos cinemas brasileiros no ano que vem.