Comunità Italiana

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Aos 17 anos, o patriarca da família Di Cunto, Donato, emigrou para o Brasil. Natural da província de Salerno, no sul da Itália, ele embarcou, em 1878, com destino a Montevidéu, capital do Uruguai, onde sua mãe tinha parentes. Como era analfabeto, recebeu a orientação de desembarcar no terceiro porto, contado após a travessia do Atlântico: Rio de Janeiro (1º), Santos (2º), e Montevidéu (3º). Porém, um surto de doença contagiosa obrigou o navio a fazer uma parada adicional. Esse imprevisto o confundiu e fez com que ele desembarcasse no estado de São Paulo, onde daria início a uma das panificadoras italianas de referência em qualidade. Marco Alfredo Di Cunto Junior, bisneto de Donato, e Joana Gagliardi Di Cunto, nora do imigrante, contam essa história, em depoimento à repórter Caroline Pellegrino.

Apesar de jovem, trazia consigo o espírito indômito que o ajudou a encontrar abrigo na cidade desconhecida. Como tinha experiência em carpintaria, iniciou trabalhos em uma grande empresa da época, o Banco União. Ligado à instituição financeira, ele teve condições de estudar, tornando-se mestre de obras. Mesmo trabalhando para o banco, juntamente com o irmão José, recém-chegado da Itália, fundou, na Rua Visconde de Parnaíba, uma das primeiras padarias da capital paulista. Eram anos que antecediam a Proclamação da República.
Em 1895, viajou para a Itália, com a finalidade de visitar a mãe, e casou-se com Rosália Marrone. Voltou para o Brasil e inaugurou a segunda padaria, localizada na então Alameda Taubaté, atual Rua Borges de Figueiredo, no bairro paulista da Mooca, em 1896. Em 1900, já com dois filhos (depois viriam outros oito), retornou para a sua terra natal. Em razão de problemas familiares, ficou impedido de voltar para o Brasil, mas orientou os filhos na direção deste, onde antevia um futuro promissor. Por mais de 30 anos, manteve em solo italiano atividades renomadas, mas sempre manifestou saudades do Brasil.
Donato faleceu em 1932 e, dois anos depois, os filhos que os sucederam em uma carpintaria, decidiram, por iniciativa de Vicente, partir para o Brasil, seguindo a orientação do falecido pai, com a determinação de reabrirem a antiga padaria por ele fundada. O filho Lorenzo, carpinteiro, tinha como tarefa colocar a casa em condições de habitação, a fim de dar início ao processo de reabertura do negócio. Após adaptações, no dia 14 de março de 1935, os irmãos Di Cunto — Vicente, Lorenzo, Roberto e Alfredo — reacenderam o forno restaurado, iniciando-se na atividade de padeiros. Fazia-se a entrega em domicílios e para pequenos revendedores. Primeiro com veículo em tração animal e depois com “furgão”.
O período de 1942 a 1948 foi difícil para os irmãos, em razão da Segunda Guerra Mundial, que gerou racionamento de gasolina, lenha, farinha de trigo e sal. Em 1945, termina o racionamento do combustível. Em 1949, com a normalização do abastecimento, foi inaugurada a seção de confeitaria, que veio atrelada à melhoria na qualidade dos produtos. Nos anos 60, é concebida a moderna “rotisserie”, especializada em massas frescas, recheadas, semiprontas e prontas. Atualmente, a Di Cunto é sinônimo da gastronomia, tanto na moderna filial instalada no bairro do Tatuapé, em uma área de 5 mil m², como nas outras três unidades nas zonas sul e leste de São Paulo, com especialidades de panificação, confeitaria, rotisseria e alimentação completa.
À frente dos negócios, estão os descendentes Reinaldo, Marco Alfredo, Antonio Carlos e Paula, que conduzem a casa com o mesmo empenho e valores morais dos fundadores. “Se contarmos os filhos e netos de Donato e Rosália, são mais de 80. As reuniões familiares sempre foram muito marcantes”, conta Joana Di Cunto.
“Nove dos dez filhos de Donato e Rosália se estabeleceram no Brasil. Ainda hoje existe um contato frequente e cada ramo da família mantém a tradição de reunir-se aos domingos”, completa Marco Di Cunto.

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