Carlinho Rizzatti em depoimento ao repórter Maurício Cannone.
Um dos descendentes dos Rizzatti, o empresário do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade, consultoria e gestão organizacional que articula pequenas e médias empresas em todo o Rio Grande do Sul, Carlinho, conta a saga da família originária da província de Verona.
— Meu avô Pietro Ferdinando Rizzatti, nascido em Veronella em 29 de janeiro de 1859, chegou ao Rio Grande do Sul na quarta colonização italiana. Ele veio com meu bisavô Francesco. Minha bisavó se chamava Maria Broggiani. Na época, os imigrantes, até a quinta colonização, trabalhavam na terra, com o objetivo de comer e produzir. Recebiam a terra e as ferramentas; não havia ainda máquinas. Mas meu avô e meu bisavô faziam ferrovias e participaram também da construção da Rede Ferroviária Federal. A construção era artesanal. Tinham de fazer as coisas à base da força — conta.
A Quarta Colônia Imperial de Imigração Italiana foi a quarta área com terras distribuídas aos italianos que se estabeleceram em fins do século XIX no Rio Grande do Sul. Fundada em 1877, chamava-se Silveira Martins, em homenagem ao senador gaúcho Gaspar Silveira Martins, defensor da imigração. O lugar, distante dos demais núcleos de imigração italiana, situava-se na região central, na Serra de São Martinho, parte da Serra Geral. As 70 famílias dos primeiros colonos viajaram de barco pelo Rio Jacuí até Rio Pardo e de lá seguiram de carreta até a serra. Naquele tempo não havia conforto e higiene. As famílias passaram por inúmeras dificuldades. Era preciso traçar caminhos e derrubar o mato.
Os avós de Rizzatti já estavam prometidos, ou melhor, comprometidos, desde a viagem em que a família migrou para o Brasil:
— Minha avó Eosa Scalfo, nascida em Sommacampagna, filha de Bernardo Scalfo e de Maria Scalfo, casou-se no navio quando tinha apenas dez anos. Mas só ficou com o marido quando completou 18. Não sei por que motivo se casaram tão jovens — comenta o neto, hoje com 61 anos.
Nem Carlos, nem Carlo. Carlinho é mesmo o seu nome próprio:
— Meu pai Fiorello ouvia tantos diminutivos que resolveu registrar-me assim. Éramos dez irmãos. Eu, o mais novo, ficava até chateado quando era criança porque as outras famílias tinham 12, 14 filhos, e achavam que a nossa tinha poucos.
Da agricultura e da ferrovia, a família prosperou:
— Os imigrantes receberam terras, plantavam batata inglesa. Meu pai, Fiorello casou-se e montou serraria. Com a madeira de araucária gaúcha exportavam matéria-prima para a Alemanha.
A presença de imigrantes do Belpaese era maciça, mas a língua dominante não era o italiano, e sim um dialeto. Isso até quando o Brasil entrou na guerra ao lado das forças aliadas. E nada que fizesse menção à Itália, inimiga na época do conflito mundial, ou às demais forças do Eixo, era permitido:
— Naquele tempo, tanto meu pai, que nasceu em Silveira Martins, no Rio Grande do Sul, quanto meu avô, mal falavam português. Falavam vêneto até a Segunda Guerra Mundial, quando foram proibidos. Na época, padres e professores precisavam utilizar o dialeto para se comunicarem. Noventa por cento da população da região era de origem italiana. Meus irmãos mais velhos falavam vêneto no colégio. Hoje, o dialeto é muito utilizado na região. Há inclusive rádios que transmitem a programação em Vêneto.
Carlinho não perdeu as raízes com a Itália:
— Estive lá uma vez e descobri que tinha parentes. Sou conselheiro da Associação Italiana de Santa Maria, que tem muito contato principalmente com as regiões do Vêneto e do Friuli. Temos muitos livros escritos em vêneto e as pessoas que nos visitaram de lá disseram que os nossos costumes estão mais ligados às origens do que os deles próprios na Itália. Imigrantes que vieram para cá perderam o contato com o que acontecia lá e mantiveram as tradições e as raízes mais intactas — constata.