Comunità Italiana

IlLettoreRacconta

Em depoimento ao repórter Maurício Cannone, poucos dias antes de viajar à Itália para acompanhar o Grande Prêmio de F-1 em Monza, o campeão da categoria máxima do automobilismo em 1972 e 1974 contou um pouco da história de sua família, que saiu do Sul da Itália, na Região da Basilicata, há mais de 100 anos, para estabelecer-se em São Paulo.

Quem abriu o caminho para os títulos brasileiros na Fórmula-1 tem também sangue italiano: Emerson Fittipaldi, paulistano que em 12 de dezembro vai completar 68 anos. O primeiro Fittipaldi a chegar ao Brasil foi Pasquale, avô de Emerson. O nonno ganhava a vida numa atividade que tinha até alguma relação com o setor de seu neto mais famoso:
— Meu avô emigrou de Trecchina, Província de Potenza, no fim do século 19, nos últimos anos da década de 1890, quase em 1900 — conta Emerson. — Ele vendia baterias para automóveis no começo do século 20 e viajava muito pelo interior, tanto que meu pai, Wilson Fittipaldi, nasceu em Santo André em 1920.
O avô e o pai de Emerson viveram nos tempos dos primeiros automóveis no Brasil e em São Paulo. Wilson, que se casaria com Juze, mãe de Emerson, vinda da Rússia quando era uma menina de seis anos, desde garoto apaixonou-se pelos motores. Foi piloto e também comentarista de corridas:
— Uma vez meu pai pegou carona na garupa de uma moto em uma oficina e se encantou. Como narrador da Rádio Panamericana transmitiu a vitória de Chico Landi no Grande Prêmio de Bari, na Costa Adriática, pilotando uma Ferrari no fim da década de 40. Além disso, criou as Mil Milhas Brasileiras.
E como narrador esportivo, Wilson, conhecido como “Barão”, também narrou o primeiro título de Emerson na Fórmula 1, em 1972. Onde? Monza. O então paulistano de 25 anos, quase 26, era na época o mais novo campeão da máxima categoria do automobilismo. O recorde só foi quebrado em 2005, com Fernando Alonso, com 24. Depois Lewis Hamilton e Sebastian Vettel foram campeões com 23 anos.
Ainda sobre os pais de Emerson. Wilson despediu-se da vida aos 92 anos, em março de 2013. A mãe, Juze, viveu 85 anos: faleceu em 2006. Família longeva. E a paixão pelos motores começou cedo para Emerson:
— Com 5 anos de idade, meus pais me levaram a um autódromo. Vi logo que era isso que eu queria fazer na vida. Meu irmão, Wilsinho, três anos mais velho do que eu, já gostava de automobilismo.
Emerson já morou na Inglaterra, na Suíça de língua francesa, nos Estados Unidos. Além do português, fala mais quatro línguas e dos idiomas estrangeiros o que mais domina é o de seus ancestrais por parte de pai.
— O italiano foi mais fácil de aprender do que o inglês, o espanhol, o francês, pela minha origem. Está no sangue. Meus sete filhos e meus netos têm passaportes italianos. Eu tenho o meu desde 1980.
O campeão esteve várias vezes na Itália mas ainda não conhece a terra do nonno Pasquale.
— Meu pai e minha mãe já estiveram em Trecchina. Disseram que é muito bonita. Quero ir lá.
Falar em automobilismo e em Itália significa falar em Ferrari. A escuderia do cavalinho é uma paixão no Belpaese, concentrando muito mais torcida do que os pilotos italianos. Emerson teve oportunidades de pilotar um carro da escuderia vermelha na Fórmula 1, mas não pôde aproveitá-las.
— Houve duas situações. Uma, no começo dos anos 70. Não pude ir porque tinha contrato com a Lotus. Outra, em 1976, para substituir o Nick Lauda, que tinha sofrido um acidente. Mas ele se recuperou logo e voltou a correr. De qualquer maneira, eu não poderia ir porque também tinha compromisso.
Em 1976, o compromisso de Emerson era com a Fittipaldi, escuderia fundada com seu irmão Wilsinho, que já corria pela equipe em 1975. Uma família de pilotos. Nos anos 90, Christian Fittipaldi, sobrinho de Emerson e filho de Wilsinho, esteve na Fórmula-1. Hoje, as esperanças são os netos de Emerson.
— O Pietro, de 18 anos, foi o primeiro latino-americano a ganhar um título com a Nascar e agora corre na Fórmula Renault. O Enzo, de 13, pilota kart e Nascar.
Aos leitores da Comunità, Emerson convida para assistir a uma prova em Interlagos, inspirada na famosa 24 Horas de Le Mans.
— No dia 30 de novembro não vou correr, mas sou o organizador das Seis Horas de São Paulo. Seria muito bom termos os conterrâneos lá reunidos.