O pai de Antero Greco, Giovanni, falecido em 1978, e Ernestina, sua mãe, hoje com 88 anos, nasceram em Casalbuono, na província de Salerno, na região da Campânia. No século passado, migraram para São Paulo. A família Greco estabeleceu-se no Brasil em 1926.
— Ganhei este nome em homenagem ao meu avô Antero, como um antigo costume italiano, camponês. Naquele tempo, as mulheres não estudavam. Minhas tias Maria, Rosa e Giovanna vieram ao Brasil junto com meu pai, o quarto filho. Sabe o filme Pai Patrão (Padre Padrone)? Aconteceu com minha família uma coisa parecida. Meu pai havia feito até o segundo ano primário e, com sete ou oito anos, meu avô o tirou da escola para trabalhar na terra. Ele também trabalhou como vendedor ambulante e lixeiro — explica o jornalista.
O avô também andou por Recife. Ele e parte da família retornaram para a Itália, onde nasceu Tommaso, tio temporão do jornalista, um dos sobreviventes dos duros tempos da guerra:
— Tio Tommaso tem 91 anos, ainda trabalha como alfaiate e não tem trauma de guerra. Ele escapou do pelotão de fuzilamento, quando era prisioneiro dos alemães durante a Segunda Guerra, por roubar casca de batata. Em cima da hora, alguém o tirou da lista dos que seriam fuzilados. Foi o tio Tommaso que apresentou meu pai à minha mãe, em 1949, em Casalbuono. Em 1950, meu pai voltou para o Brasil, trazendo minha mãe.
Os pais de Antero começaram a prosperar em São Paulo, quando montaram uma quitanda nos fundos de casa no Bom Retiro e os filhos do casal puderam ter um nível mais elevado de educação:
— Caterina, minha irmã, e eu estudamos em colégios católicos. Eu, no Coração de Jesus. Ela, no Santa Inês. Apesar de estudarmos em colégios particulares, o dinheiro era contadinho. Havia também disposição de não desperdiçar as coisas. Comer tudo, não deixar nada no prato, limpar o molho da comida com pão. Em casa havia muita cozinha italiana. Massa três ou quatro dias por semana. Mas meu pai orgulhava-se de dizer que os filhos nunca precisaram colocar dinheiro em casa — recorda.
Outra paixão dos pais do comentarista era o Palmeiras, desde os tempos em que o alviverde paulista chamava-se Palestra Itália. O clube teve de mudar de nome em 1942, quando o Brasil entrou na Segunda Guerra ao lado dos aliados. Qualquer alusão às forças do Eixo, como a então inimiga Itália, era proibida:
— Meu pai era “palestrino” de carteirinha. Minha mãe até discutia futebol com os fregueses da quitanda. Ela até brincava: “Quer uma cioccolata, um chocolate, então diga ‘viva o Parmera’!” Eu recebia muitos pacchi dos meus tios e primos da Itália. Para eles, o Brasil tinha cheiro de café e bombom sonho de valsa, que recebiam de nós. Para mim, a Itália tinha cheiro de bombom Baci Perugina, da pepe, pimenta, da nonna. Adorava o sanguinaccio, doce feito do sangue de porco.
Giovanni, seu pai, conhecido como João ou “Joá” em São Paulo, morreu em 1978. Giuseppe, tio por afinidade de Antero, que era parceiro de seu pai nos tempos da quitanda, foi o segundo marido de sua mãe, entre 1986 e 1991:
— Ele até veio pedir minha permissão para se casar com minha mãe como o homem mais próximo da família, como mandava a velha tradição. Eu disse que sim, claro — conta Antero.
A língua italiana também foi importante na vida de Antero. De 1981 a 1994, trabalhou como correspondente do jornal romano Corriere dello Sport:
— Estudei no Istituto Dante Alighieri. Mas aprendi mais com a convivência com parentes e amigos. Lia livros e comprava discos em italiano. Só fui ao país pela primeira vez em 1982, depois da Copa do Mundo da Espanha. Hoje, leio muito e escuto rádios em italiano na internet. Sei distinguir bem os falares toscano, romanesco, napolitano. Além de mim, Leila, minha esposa, e meus filhos João e Cristina têm passaportes italianos. A Cris, formada em História da Arte, vive na França.
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