Os primeiros tempos de Bernardo, em São Paulo, não foram fáceis, como para muitos imigrantes. Viveu também no Brás, bairro de italianos. Exerceu várias atividades. Trabalhou como mascate e motorista de táxi. Foi até homenageado pelo filho no filme Chofer de Praça. Bernardo rodou muito nas suas andanças pelo interior paulista. Morou em Taubaté (SP), onde, em 1911, conheceu Clara Ferreira, que viria a ser sua esposa e mãe de Amácio. Residiu também em Sorocaba, onde tinha armazém de secos e molhados. Enquanto isso, o filho único de Bernardo queria ser artista e até fugiu de casa para realizar seu sonho, indo para Curitiba encontrar o tio Domingos, irmão do pai, nome aportuguesado do italiano Domenico, que se tinha estabelecido na capital paranaense, como relata André Luiz:
— Desde os oito, nove anos de idade, Mazzaroppi queria ser artista. Aos 15 anos, fugiu para Curitiba, onde ficou dois anos. Aos 17, conheceu o faquir Silque e fugiu de novo, voltando para São Paulo. Trabalhou como assistente do faquir. Depois, no Teatro Oberdan, cantava a Canzonetta Napolitana. Lá pelos 21 anos de idade, Amácio Mazzaroppi já tinha aprendido com Sebastião e Genésio Arruda a fazer o personagem Jeca. Foi então que o pai dele fechou o armazém em Sorocaba e passou a acompanhar o filho no teatro. Na década de 1940, Mazzaroppi era já sucesso na Rádio Tupi. Em São Paulo, montou um pavilhão de teatro de emergência com barracão de cinco para espetáculos nos bairros periféricos da capital e no interior — revela.
Na década de 1950, o típico caipira começou a ser representado por Mazzaroppi no cinema. O filho de Bernardo fez seu primeiro filme, lançado em 1952, Sai da Frente, produzido pela Vera Cruz, interpretando Isidoro, dono de um caminhão, apelidado de Anastácio. A comédia fez muito sucesso na época e tirou, mesmo que provisoriamente, a produtora Vera Cruz das dificuldades financeiras. Em muitos filmes encarnou o caipira Jeca. Mas não viveu a tempo de realizar um filme com o ator americano Telly Savalas, que fez sucesso com a série televisiva Kojak, detetive policial da década de 1970.
— Mazzaroppi fez 32 filmes no total — revela André Luiz.
Em oito, trabalhou como empregado e produziu 24. Em 1958, criou a PAM (Produções Amácio Mazzaroppi) Filmes. O último deles foi Jeca e a Égua Milagrosa. Ele queria até fazer um filme com o Telly Savalas, que se chamaria Kojeca. De 1958 a 1981, levou mais de 206 milhões de pessoas aos cinemas.
A herança deixada pelo caipira oriundo é ainda hoje motivo de polêmicas, mesmo mais de três décadas após a sua morte:
— Fui o único dos cinco filhos que ele criou não incluído no testamento, no hospital. Um testamento que ele nunca assinou. Ninguém era filho natural ou oficialmente adotivo dele. Mas ainda vou contar essa história num livro. Vivi com ele seus últimos dez anos. Porém, herdei o melhor dele, sua arte, a marca Amácio Mazzaroppi, o direito de exibição de 18 filmes, os direitos da PAM Filmes. Comprei alguns direitos e outros me foram cedidos pelos herdeiros e outros adquiridos pelo espólio da Clara, mãe do Amácio, que morreu um ano e meio depois dele — conta.
André afirma que já realizou 1625 mostras de cinema dedicados ao ator de origem italiana, e não só:
— Tenho já shows agendados relativos a ele para 2016 e 2017. Hoje, Mazzaroppi tem milhões de admiradores não só no Brasil, mas também no Japão, na Europa, na América Latina, nos Estados Unidos. Mesmo 34 anos após sua morte, a maioria dos fãs tem de oito a 25 anos de idade.
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