Comunità Italiana

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Seus antepassados chegaram ao Brasil em 1875, numa das primeiras levas de imigrantes italianos que vieram morar em Santa Catarina. De Besenello — hoje município da Província de Trento, na época pertencente ao Império Áustro-Húngaro — estabeleceram-se no sul do Brasil, desbravando as matas. E lá fundaram Nova Trento. Juntamente com os ancestrais de Wilson Sgrott, que contou a saga da família e dos imigrantes ao repórter Maurício Cannone, veio para terras catarinenses Madre Paulina, a primeira santa radicada no Brasil.

rancesco Sgrott e Caterina Battisti, avós de Wilson, cruzaram o oceano com suas famílias em busca de uma vida melhor. Naqueles tempos, os imigrantes eram seduzidos por informações fantasiosas sobre as condições maravilhosas que encontrariam no Brasil. Existia o mito do país da Cocanha, Paese di Cuccagna, onde haveria comida farta e ninguém precisaria trabalhar.
— Aqui não havia estradas, pontes ou casas. A mata era virgem no Vale do Itajaí, no Vale do Tijucas, com animais ferozes e índios que atacavam. Era natural que isso acontecesse, assim como em outros lugares do Brasil, pois seres estranhos chegavam às terras deles. Os imigrantes construíram tudo. Não havia cidade. No norte da Itália havia o domínio austríaco. Os trentinos que vieram para cá eram oficialmente austríacos, como estava em seus passaportes, mas se consideravam italianos — conta Sgrott.
Trento passou para as mãos italianas oficialmente em 1919, ano seguinte ao fim da Primeira Guerra Mundial. Mas em Santa Catarina, os imigrantes já podiam orgulhar-se de Nova Trento, um pedacinho de Itália no Brasil meridional. E é impossível falar da cidade sem falar de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, canonizada em 2002 pelo Papa João Paulo II. Nascida em 16 de dezembro de 1865, em Vigolo Vattaro, na região do Trentino-Alto Ádige, como Amabile Lucia Visintainer, a então futura Santa Paulina imigrou para o Brasil, país que adotou quando tinha nove anos. E em 1890, juntamente com sua amiga Virginia Rosa Nicolodi, formou a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Cuidava de pobres, doentes, idosos. Hoje, Wilson vive na casa que já foi habitada pela santa:
— Em 1890, elas deixaram a casa paterna e foram para uma choupana cuidar de uma senhora com câncer. Em 1894, vieram para o centro de Nova Trento numa casa em que recebiam jovens, viúvos, doentes. A casa acabou ficando pequena para tanta gente e precisou ser reformada. Em 1896, vieram para esta casa em que moro. O local passou a ser chamado Salamanca. Mas nada tem a ver com a cidade da Espanha onde há uma universidade. Perguntaram na época o que faltava na casa e foi respondido: il sale manca (o sal falta). Então, ficou sendo Salamanca. A casa pertencia ao imigrante Giuseppe Trainotti e meu pai a comprou de seus herdeiros em 1924. Meu pai morou com minha mãe aqui, onde fez sua alfaiataria. Éramos 14 filhos. Fui o 13º e nasci no fim da II Guerra Mundial para trazer a paz — comenta.
Ainda sobre a madre, que se tornaria Santa Paulina, Wilson Sgrott revela que suas atividades não se limitavam às quatro paredes de um convento:
— Os imigrantes plantavam milho, mandioca e açúcar, e extraíam madeira. Criavam bicho-da-seda como na Itália, onde tinha havido uma praga que o prejudicava. Paulina também participava dessas atividades com outras madres, incentivando também a criação da espécie.
Hoje, na famosa casa Salamanca, il sale non manca più. Lá está o escritório do comerciante Wilson Sgrott, que, aos 71 anos, mantém viva a memória da família e procura divulgar a história da cidade, que também recebe muitos turistas de vários cantos do Brasil e da Itália, mantendo o conhecimento da língua dos antepassados e suas tradições. O Santuário de Paulina é uma das etapas obrigatórias dos devotos que visitam Nova Trento. E o município catarinense mantém intercâmbio com a Trento do Bel Paese, onde uma das filhas de Wilson foi aprofundar seus conhecimentos:
— Karluza estudou na Universidade de Trento. A Província oferece cursos para o qual é preciso antes fazer prova de conhecimento da língua. Trento também oferece o soggiorno, um passeio cultural no qual o jovem fica hospedado numa casa de família com o compromisso de receber outro jovem italiano em sua casa no Brasil — afirma.

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