Quem era criança na segunda metade da década de 1960 e via televisão certamente lembra-se do Capitão Furacão, um programa que fez muito sucesso na TV brasileira. Mas poucos sabem que aquele herói da meninada que comandava os Grumetes Dinâmicos nasceu na Itália e emigrou ainda criança para o Brasil. Pietro Mario Francesco Bogianchini, registrado em Omegna, município da província de Verbano-Cusio-Ossola, no Piemonte, onde nasceu em 29 de junho de 1939. Ele contou algumas de suas aventuras da vida real e de artista ao repórter Maurício Cannone.
Maiolo Martino Bogianchini, pai de Pietro Mario, já havia saído da Itália para o Rio de Janeiro antes de seu filho nascer, em 1938, antes de eclodir a Segunda Guerra:
— Ele veio trabalhar no Copacabana Palace a convite de Giovanni Camurati, tio-avô da Carla Camurati. Meu pai era chef de cozinha. Trabalhou em grandes hotéis e restaurantes, como o Miramar. E aposentou-se no restaurante Mesbla, em frente ao Aterro. Em 1947, quando a guerra já havia terminado, eu vim para o Brasil com minha mãe, Teresa Rosa. Viajei num navio-hospital que era utilizado na guerra. Não era um navio dividido: havia uma classe só. Quando cheguei ao Rio, meu pai então pôde me conhecer. Eu tinha sete anos. No tempo da guerra, meu tio Pierino, um partigiano, defendeu minha mãe de seus próprios companheiros porque meu pai era fascista, embora eu achasse que ele estava do lado errado. Meu tio disse na ocasião: “Ai de quem tocar a minha cunhada”.
No Rio, Pietro Mario cresceu e entrou para a carreira artística. Tentou a Rádio Nacional, a grande emissora da época, mas foram outras as portas que se abriram:
— Trabalhei na TV Continental e na TV Tupi, onde fiz a novela Gabriela Cravo e Canela, antes daquela versão exibida na Globo. Meu primeiro filme foi A Noite de Meu Bem, de Jece Valadão, com a atriz Joana Fomm. Também corri para a dublagem, que estava começando no Brasil, de filmes, de desenhos, de tudo.
Mas o personagem que mais o marcou foi mesmo o Capitão Furacão, pelo qual ainda hoje é reconhecido na rua. Personagem que o fazia parecer ter muito mais idade pela barba postiça e a caracterização. Quando começou a interpretá-lo, não tinha ainda completado 26 anos. De 1965 a 1970, alegrou as tardes de muitos meninos e meninas grudados na telinha:
— O programa estreou no primeiro dia em que a TV Globo foi ao ar. Fiz teste e fui aprovado. Estava aguardando a minha inclusão no departamento de dramaturgia quando Abdon Torres me chamou e disse que tinha o personagem Capitão Furacão. Queria produzir um programa vespertino para crianças, mas não pretendia simplesmente jogar os filmes e desenhos. Eles precisavam ser apresentados. Ele me perguntou como imaginava o personagem. Eu disse que imaginava um velho lobo do mar que não navegava mais e contava suas histórias. Desde cedo, percebi que não tinha jeito de galã. Sempre interpretava personagens mais velhos do que eu.
O mesmo programa ajudou a tornar conhecida uma famosa atriz, então uma menina de 12 anos:
— Em 1966, a Elizângela já trabalhava no programa da Edna Savaget, que ia ao ar antes do meu. Em 1967, Walter Clark, diretor da Globo, a colocou no Capitão Furacão. Ela demonstrou muito talento. Era responsável por comemorar os aniversários do dia. As crianças acabavam com o bolo, os refrigerantes. Também havia homenagem aos países nas datas nacionais e saudações a eles.
O Capitão Furacão foi até 1970 na Globo. Pouco depois, Pietro Mario fez um programa parecido em outra emissora, que durou pouco:
— A TV Rio já estava indo para o brejo — explicou.
Posteriormente, Pietro Mario atuou em filmes, como Copacabana, de Carla Camurati, no qual interpreta Enrico, personagem inspirado no avô da diretora. Também participou de peças e continuou a fazer dublagens. Sua voz pode ser ouvida em Harry Potter, Star Wars e Rei Leão. Ano passado, contracenou com o ator Ednei Giovenazzi no teatro em O Canto do Cisne. O filme mais recente foi Maresia, de Marcos Guttmann, no qual interpreta Cabrera, um homem misterioso que diz ter sido amigo de Emilio Vega, pintor desaparecido há 50 anos, papel vivido pelo ator Júlio Andrade.
Em breve, Pietro Mario pretende ir à Itália para visitar a irmã Rosetta, que nasceu no Rio e hoje reside em Agrano, fração (uma espécie de distrito) do município de Omegna. O mesmo lugar onde a família Bogianchini morava, às margens do Lago d’Orta, antes de partir para o Brasil.
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