Há 140 anos, uma família deixava o norte da Itália para estabelecer-se em Garibaldi, no Rio Grande do Sul, e depois fixar-se em Nova Pádua, também em terras gaúchas.
Alvirio Tonet, 43 anos, fiscal tributário da prefeitura de Nova Pádua e estudioso da imigração, relembra a história de seus ancestrais ao repórter Maurício Cannone.
Corria o ano de 1876. Emilio, bisavô de Alvirio, com apenas cinco anos, cruzava o Oceano Atlântico. Veio em companhia da irmã Angela, dos pais, Antonio Tonet e Catterina Iseppon, trisavós de Alvirio. Eles migraram de Combai, frazione de Miane, na província de Treviso. Os antepassados do gaúcho trabalhavam com madeira. Os avós paternos de Alvirio, Emilio Tonet, da antiga colônia Conde D’Eu, em Garibaldi, que se casou com Júlia Boz, de Nova Pádua, já nasceram no Brasil.
— Eles seguiam essa rota. Saíam em busca da madeira, dos pinheiros, atividade que já praticavam na Itália, onde também tinham uma osteria (taberna). Não trabalhavam com agricultura. A minha família do lado paterno fixou-se primeiramente em Garibaldi. Cerca de 30 anos depois, lá pelos idos de 1910, mudou-se para Nova Pádua, mas antes disso estiveram em Farroupilha, na época Nova Vicenza. Meu avô comprou seis colônias em Nova Pádua. Terras com muitos pinheiros, muita araucária. As famílias dos imigrantes tinham seus lotes. Meu pai Anacleto, já falecido, deixou um pedacinho de terra para mim e meu irmão, mas nenhum de nós dois tornou-se agricultor. Minha mãe, Maria Pilati Tonet, hoje com 83 anos, também é de origem italiana — conta, com orgulho, Alvirio.
A família pelo lado materno, de sobrenome Pilati, é originária de Bassano del Grappa, na província de Vicenza, também no Vêneto. Cerca de 80 por cento dos descendentes de Nova Pádua têm origens vênetas, informa Tonet, embora também haja oriundos de outras regiões, como Lombardia e Friuli.
— Os imigrantes costumavam desembarcar no porto de Santos ou do Rio. De lá, iam a Porto Alegre, depois de barco até Montenegro, também no Rio Grande do Sul, e andavam uns 100 quilômetros a pé até Nova Pádua. Não havia luz nem estradas. Havia núcleos de imigrantes vindos do Vêneto que trabalhavam em conjunto. Num dia ajudavam a construir as casas de alguns companheiros. Depois os que já tinham suas casas construíam as dos outros. Os imigrantes vênetos davam muita importância à religiosidade e à coletividade — narra Tonet.
Em 21 de maio, uma festa vai comemorar os 130 anos da imigração italiana, que começou com a vinda de sete famílias do Vêneto, cujos patriarcas eram: Francesco Mantovani, comerciante; seu irmão Carlo Mantovani, professor; Giovanni Zanini, ferreiro; Pietro Sartor, Francesco Menegat, Pietro Menegat e Pasquale Pauletti, estes últimos agricultores. Chegaram em 1886 à 16ª Légua do Campo dos Bugres — atual Nova Pádua — que já pertenceu aos municípios de Caxias do Sul e Flores da Cunha, a ex-Nova Trento (não confundir com a homônima de Santa Catarina). A cidade tornou-se município em 1992. Inicialmente chamava-se Nova Padova, com o último nome original da cidade homenageada. Porém, na década de 1940, quando o Brasil entrou na II Guerra Mundial ao lado das Forças Aliadas, não eram permitidos nomes em línguas de países do Eixo. Por isso, virou Nova Pádua, na versão em português.
— O aniversário da imigração ocorre na verdade em junho. Mas, devido a compromissos da nossa paróquia, vamos comemorá-lo em maio. Haverá um filó, encontro noturno de comes e bebes, com muita batata, pinhão, frutas de época, bergamota, focaccia, amendoim, bolo de fubá, salame, queijo, vinho, música. Também vamos fazer um concurso com estudantes para desenhar o monumento do município — explica Tonet.
No Sul do Brasil fala-se com frequência o talian, que mistura o português com dialetos italianos, principalmente o vêneto. Mas Tonet também se diz afiado com o idioma de Dante:
— Falamos mais o talian. Mas fui “só” 18 vezes à Itália. Sou apaixonado pela história do país, onde mantenho laços de amizade com meus primos. Vou viajar para lá no dia 30 de maio. E também sou vice-presidente do Comitato Veneto do Rio Grande do Sul e presidente da Associação Vêneta de Nova Pádua. Portanto, mantenho contato com o italiano — finaliza.
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