Conceituado biólogo nascido no Rio, filho de pai friulano de coração e mãe napolitana, ambos imigrantes do pós-guerra. O personagem deste mês é Mário Moscatelli, 52 anos, que contou um pouco da história de sua família ao repórter Maurício Cannone, a quem também demonstrou sua indignação com a falta de preservação do meio ambiente na Cidade Maravilhosa em plena Olimpíada.
Cada um dos pais tem origem diferente no Belpaese, mas os dois vieram tentar a sorte no Brasil vindos da cidade eterna, onde Michele, avô paterno de Mário, trabalhava na época de um Papa que ficou na história por ter promovido muitas mudanças na Igreja:
— Meu avô era engenheiro civil. Trabalhou com manutenções no Vaticano no tempo do Papa João XXIII. Giuseppe, meu pai, chegou com 20 e poucos anos ao Rio em busca de oportunidades com minha mãe. Ambos vieram de Roma. Na verdade, meu pai nasceu no Cairo, filho de Michele Moscatelli e Anna Bastianutti, pois meu avô trabalhava no Egito por volta de 1924, mas são da cidade de Udine. Depois voltaram para a Itália, onde, quando jovens, minha mãe, Maria de Matteo Moscatelli, e meu pai se encontraram em Roma, na Piazza di Spagna. Romântico, não é? — comenta.
Nas décadas de 1960 e 1970, ele ia periodicamente a Roma para visitar a irmã Ana Maria, que morava lá.
A questão ambiental preocupa bastante o biólogo. Ele via nas promessas olímpicas a chance para a cidade resolver problemas. Hoje está decepcionado:
— Eu era um dos maiores defensores da Olimpíada. Hoje sou um dos maiores críticos. O descaso dos poderes públicos em nível municipal, estadual e federal é grande, com cinco bilhões de pessoas olhando a nossa cidade. Não adianta o prefeito colocar o filho feio no colo do governador num ano de eleição porque a responsabilidade também é dele. Prometeram um Lamborghini e nos deram uma bicicleta sem rodas. Se fossem pessoas sérias, fariam alguma coisa. Em mobilidade urbana parece que vai ficar algum legado para a cidade, embora não tenha condições de avaliar. O metrô para a Barra, a Transolímpica, a trans não sei o quê. Em termos ambientais, não — reclama.
As maiores fontes de preocupação de Moscatelli são a Baía de Guanabara, cenário das competições de vela, e a Lagoa de Jacarepaguá, próximo ao Parque Olímpico da Barra. Uma das promessas da candidatura carioca aos Jogos, vitoriosa em 2009, era que 80% da poluição da Baía diminuiria.
— Os lixões continuam se multiplicando. Dos 55 rios da bacia hidrográfica da baía, 47 estão mortos. Por quê? A fonte principal da degradação está associada ao crescimento desordenado do lançamento de esgoto. Há falta de universalização do tratamento. Isso tudo depende das autoridades públicas. Desde 2008 participo desse processo identificando problemas e propondo soluções. Falta política de habitação e saneamento. Falta vontade política — frisa.
Ele lembra que alertou a Itália sobre o problema: há quatro anos, sobrevoou a Baía com Mario Panaro, cônsul italiano no Rio na época.
— Aconselhei que todos os atletas italianos que tivessem contato com água se vacinassem contra a hepatite A. Disse o mesmo para o cônsul americano.
A Lagoa de Jacarepaguá, que recebe o esgoto dos rios, está em condições deploráveis, segundo o ítalo-brasileiro, que a define como “uma latrina às margens do Parque Olímpico”.
A Praia de Copacabana, cenário de provas de maratonas aquáticas e triatlo (esporte com natação, ciclismo e corrida), também preocupa:
— Quando chove é recomendado evitar o banho de mar nas 24-48 horas seguintes por causa da sujeira nas praias. O que devem fazer? Suspender as provas?
Em relação à Lagoa Rodrigo de Freitas, local de competições de remo e canoagem, Moscatelli lembrou que a poluição diminuiu, graças à mobilização da população, mas a mortandade do peixe, velho problema, continua. O biólogo pretende até dirigir-se ao Vaticano:
— Solicitei ao Arcepisbo do Rio, Dom Orani Tempesta, uma audiência com o Papa Francisco. Eu gostaria de entregar a ele um documento sobre a questão ambiental no Brasil e no Rio.
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