Há 140 anos, nas primeiras levas de imigrantes italianos rumo ao Espírito Santo, Vittorio Piva chegava a Santa Teresa proveniente de Castel d’Ario, município da província de Mantova. Ele era trisavô, em outras palavras, o avô do avô, de Rogério Frigerio Piva, professor de história em Nova Venécia, também no Espírito Santo, e estudioso da origem de seus ancestrais que emigraram para o estado. Ele contou ao repórter Maurício Cannone a saga da família pioneira em terras capixabas.
Vittorio Piva, contadino (camponês) na sua terra natal, desembarcava no Brasil nos últimos anos da escravidão, abolida em 1888. Na época, os imigrantes já começavam a substituir os escravos no cultivo do café, como explica o trineto do imigrante:
— Se, na Itália, ele era contadino, no Espírito Santo, virou um pequeno proprietário de terras. Chegou ao Brasil com a minha trisavó Rosa Benatti. Lotes de terras eram distribuídos entre colonos na época.
Rogério Piva criou até um grupo no Facebook para os descendentes dos trisavós, no qual saudou os 160 anos de nascimento de Vittorio:
— Em 3 de maio de 2015, caso estivesse vivo, nosso patriarca completaria 160 anos. Vittorio Emanuele Piva nasceu em Castellaro (hoje Castel d’Ario) no dia 3 de maio de 1855 e era filho de Giovanni Piva e Rosa Dalla Battista. A cidade natal de nosso ancestral fica distante aproximadamente 15 quilômetros da capital da província de Mantova.
— Sua esposa Rosa Benatti, por sua vez, já teria completado 161 anos no último dia 3 de janeiro. Ela nasceu em Villimpenta, cidade mantovana, vizinha a Castel d’Ário, no dia 3 de janeiro de 1854, filha de Giuseppe Benatti e Angelica Bellini.
No dia 17 de novembro de 1875, os dois se casaram na Chiesa di San Michele Archangelo, em Villimpenta, na presença do sacerdote don Luigi Pavesi —pároco — e das testemunhas Luigi Zalli e Baniamino Montagnoli. No ano seguinte, antes de emigrarem para o Brasil, se casaram no civil em Castel d’Ario no dia 12 de agosto de 1876, isto é, a menos de um mês da emissão do passaporte, em 30 de agosto de 1876. Quando de seu casamento, Vittorio tinha 20 anos e Rosa, 21. Todos os filhos do casal nasceram no Brasil, no atual município de Santa Teresa (ES).
O grupo também narrou a chegada de Vittorio ao Brasil:
“Em 26 de outubro de 1876, aportou no antigo cais do Porto dos Padres, na outrora Rua do Comércio (trecho da Av. Florentino Ávidos entre a Rua General Osório e a Av. República, onde hoje se localiza o Supermercado São José), na “cidade da Victória”, capital da antiga “Província” do Espírito Santo, o navio de guerra da marinha brasileira Werneck, que, procedendo do Rio de Janeiro, trazia a bordo 744 colonos italianos, vênetos e lombardos, que se destinavam à Colônia de Santa Leopoldina, mais precisamente ao Núcleo do Timbuhy (hoje município de Santa Teresa), que havia sido oficialmente criado em 1875.”
Nova Venécia (ES): não confundir com Nova Veneza (SC)
A confusão enganou até representantes do governo fascista de Benito Mussolini há quase um século, revela Rogério:
— Uma réplica do Leão Alado, símbolo de Veneza, foi mandada por engano em 1925 para Nova Venécia, onde enfeita a fachada da Igreja da Matriz de São Marcos, em vez de Nova Veneza, que depois acabou ganhando outra escultura do mesmo tipo. O nome Venécia pretendia referir-se mais à Região do Vêneto do que propriamente à cidade de Veneza. Aliás, Espírito Santo e Santa Catarina têm outros pontos em comum, além dessas cidades com nomes parecidos. Os dois têm capitais em ilhas, colonizações estrangeiras, pequenas propriedades.
Hoje, Rogério procura manter as tradições de seus antepassados em Nova Venécia, que, além do sobrenome Piva por parte de pai, também tem raízes italianas no Frigerio, do lado materno. Entre suas atividades atuais está a coordenação do grupo de canção italiana Augusto Zaché:
— Nosso repertório é variado, mas o foco são as músicas folclóricas tradicionais da Itália, da época da chegada dos imigrantes aqui, a maioria em dialeto, como Funiculi, Funiculà — finaliza.
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