Comunità Italiana

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Anna Rech pode ser considerada a matriarca de Caxias do Sul. A pobre viúva vêneta que não desistiu diante do “não” das autoridades italianas e partiu com os sete filhos rumo ao Brasil criou uma pequena hospedagem para os tropeiros que voltavam do centro de Caxias para os campos. Hoje dá nome à região. O depoimento à repórter Aline Buaes é de Valter Susin, 79 anos, ex-vereador de Caxias do Sul (1977-1989), ex-sub-prefeito de Ana Rech (1972-1976) e um dos autores do livro História do Povo de Ana Rech.

Determinada e cheia de fibra, Anna Maria Pauletti Rech partiu da cidade italiana de Peda Vena, na província de Belluno, rumo ao Brasil, em 1877. Viúva e com sete filhos, um deles excepcional, logo se instalou em uma região na serra do Rio Grande do Sul, que hoje leva o seu nome. O bairro de Ana Rech, uma das regiões administrativas da cidade de Caxias do Sul (RS), tem cerca de 20 mil habitantes e fica a 12 km do centro. O Lote 104 do Travessão Leopoldina, na Colônia de Caxias, porção de terra concedida à imigrante e seus filhos em 1877, logo se tornou um ponto de parada obrigatória para os viajantes da região, que aproveitavam o conforto da sua casa de comércio e hospedagem. A fama da pousada de Anna Rech foi tanta que acabou emprestando o nome para a povoação que cresceu em torno. Mas Anna não fez história apenas em seu bairro. Pioneira e avançada para a época, quebrou muitos tabus. Foi ela quem realizou a primeira adoção legal, na Colônia de Caxias, de uma menina negra, recém-nascida, colocada à soleira de sua casa. Ela também doou terrenos para a construção de igrejas, conventos, um cemitério e um colégio, conquistando a comunidade com suas inúmeras qualidades, solidariedade e serviços prestados. Faleceu aos 88 anos de idade, em 1916. O distrito de Ana Rech foi fundado 11 anos depois. Um dos destaques do roteiro turístico Caminhos do Tropeiros, é conhecida como Vila dos Presépios pela grande quantidade de presépios montados nos jardins, ruas e praças da região na época do Natal.
Anna Maria Pauletti Rech era um viúva na Itália do final do século XIX, que ouviu falar que no Brasil estavam dando terras para os imigrantes. Com 49 anos de idade e passando fome com seus sete filhos, pensou em vir para cá, mas as autoridades não permitiram sua partida. De tanto insistir, acabaram autorizando a sua vinda. Diz a lenda que ela ameaçou se atirar de uma ponte no rio Piave. Como todos os imigrantes na época, primeiro se instalou no barracão dos imigrantes, localizado entre Caxias do Sul e Farroupilha, até que conseguiu um terreno nesta zona onde hoje se encontra o bairro Ana Rech. Foi a primeira família que se instalou na região. Como todos os outros, começou a plantar e fazer a sua vida. Mas, na região onde se encontrava o seu lote, passava uma estrada utilizada pelos tropeiros que voltavam do centro de Caxias para os campos. O terreno de Anna Rech vinha até a frente dessa estrada. Então, ela decidiu abrir uma pequena pousada para os tropeiros passarem a noite. Como o terreno era grande, tinha muito espaço também para o gado pastar enquanto os tropeiros descansavam na hospedaria. Ela também abriu uma pequena bodega, onde revendia ferramentas e alimentos como carne de charque. Logo, ela ficou conhecida na região, pois todos diziam “hoje vou ficar lá na Ana Rech” ou “vou lá negociar com a Ana Rech”. Por isso, seu nome foi usado para identificar a localidade, que atualmente é uma das regiões administrativas de Caxias. Mas eu gosto de chamar de Vila Ana Rech, pois tem características próprias. Temos uma área urbana desenvolvida e uma área rural onde ainda se cultivam hábitos coloniais. Em dezembro de 1977, inauguramos o monumento de bronze baseado em sua fotografia, em tamanho real, em homenagem ao centenário da sua chegada. Na ocasião, vários dos seus descendentes estavam presentes. Hoje ainda vivem aqui dois bisnetos dela, ambos em torno dos 80 anos de idade.