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Cidades com raízes italianas não faltam no Brasil, mas elas são mais comuns no Sul e Sudeste. Só que a região Centro-Oeste tem sua exceção: Nova Veneza, em Goiás, a menos de uma hora de carro da capital Goiânia, um município de cerca de oito mil habitantes. O repórter Maurício Cannone conversou com Luiz Antônio Stival Milhomens, ex-prefeito da cidade, que, durante a sua gestão, introduziu o ensino do italiano, língua de seu bisavô, que emigrou de Treviso, no Vêneto, quase 100 anos atrás.
Luiz Antônio procurou resgatar as origens de seus antepassados nos oito anos em que esteve à frente da Prefeitura de Nova Veneza. Foi eleito em 2004 e reeleito em 2008, permanecendo no comando do governo municipal até 2012. Mandou até pintar postes de iluminação, pontos de ônibus e bancos de praça com as cores verde, branca e vermelha. Atualmente, é presidente da Associação Goiana de Habitação (Agehab).
— Introduzimos o ensino do idioma italiano nas escolas, incentivamos o cultivo da uva. Tínhamos o Museu do Imigrante, que contava toda a história das famílias que se transferiram para cá. Tudo isso para resgatar a cultura dos nossos antepassados e trazer novas divisas para a cidade. Não podíamos deixar nossa língua morrer. Somos a única colônia italiana do Centro-Oeste. Também procurei fortalecer o festival de gastronomia italiana, trazendo mestres de cozinha — cita Stival, citando os intercâmbios que foram feitos com a cidade de Nova Veneza, em Santa Catarina, e os laços estabelecidos com a Embaixada Italiana.
Ele, que estava tentando também intercâmbio entre estudantes brasileiros e italianos, lamenta a administração sucessiva.
— O prefeito que me sucedeu, Valdemar Batista Costa, acabou com ensino do italiano nas escolas, fechou o museu. Mas agora, com minha mulher, Patrícia Amaral Fernandes, eleita para o seu lugar, vamos retomar essas atividades — promete o político oriundo.
João Batista, irmão do avô de Luiz Antônio, também foi prefeito da cidade de 1969 a 1976. Oswaldo, filho de João Batista, governou Nova Veneza de 1989 a 1992 e de 2001 a 2004. A sede da prefeitura, por sinal, hoje chama-se Palácio Municipal João Batista Stival.
Nova Veneza era apenas um povoado, chamada de Colônia dos Italianos por causa dos pioneiros que desbravaram a região. Mais tarde ganhou este nome por causa da cidade de origem de vários migrantes que se estabeleceram na localidade goiana. Luiz Antônio conta um pouco da saga do bisavô Giovanni, João na versão adotada no Brasil, casado com Paschoa Fachim, pioneiros em Nova Veneza:
— Meu bisavô chegou a Goiás na década de 1920. Sou da quarta geração. Muitos imigrantes desembarcavam no Porto de Santos e de lá iam para outros estados. Vários camponeses vieram da Itália para cultivar o café. Era uma atividade próspera dos imigrantes que desbravaram a região. O Brasil exportava café para os Estados Unidos. Havia grande produção na época. O café era moeda forte. Com a crise de 1929, houve declínio na economia. Então a pecuária se consolidou como a principal atividade no lugar do café.
Nova Veneza pertenceu a distritos diferentes. Além do mais, na época, várias instituições italianas tiveram de mudar de nome mais tarde. O Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados e nenhuma alusão a países do Eixo era permitida. Um Decreto-Lei de 31 de dezembro de 1943 mudou o nome do local para Goianás — lembra Luiz Antônio.
A partir de janeiro de 1959, o local voltou a chamar-se Nova Veneza e foi elevado à categoria de município. Antes disso, Goianás pertencia ao município de Anápolis. Quem nasce em Nova Veneza é nova-venezino.
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