Do norte da Itália para o sul do Brasil. Histórias de famílias que fugiam da miséria nas terras do velho continente para desenvolver as plantações além do Atlântico Sul. História também das famílias Moletta e Palù, ligadas por laços de sangue, criaram raízes no Paraná, mas houve até quem voltasse para a Itália, fazendo o caminho inverso dos antepassados. Os primos Susete Moletta e Antônio Sérgio Palù Filho contaram suas experiências e de seus ancestrais, que viraram livros, ao repórter Maurício Cannone.
Corria o ano 1877, época da grande onda de emigração da Itália para o Brasil. Várias famílias vindas com o Padre Angelo Cavalli chegaram ao Paraná em busca de terras férteis para plantar e estabelecer-se. Houve quem se assentasse em São José dos Pinhais, município onde hoje fica o aeroporto da periferia de Curitiba. Outros fixaram-se em cantos diversos do mesmo estado. Susete recordou o caso de seus trisavós que inspirou o livro Da Itália para o Brasil, a história do Casal da Capelinha.
— Eles eram conhecidos como o Casal da Capelinha — conta ela, citando o título do primeiro livro que escreveu sobre a imigração.
Ela conta que a capelinha foi construída no final de 1878 de forma muito simples.
— Reformada posteriormente, hoje é, sim, o único resquício da imigração italiana no bairro Água Verde, em Curitiba. Isso em relação à capelinha que está na frente da Capela. Não confundir uma com a outra. Luigi e Anna eram meus trisavós, uma das famílias pioneiras de Água Verde. Eles imigraram em 1877, com oito de seus 11 filhos. Dez anos mais tarde, em 1888, emigraram mais dois filhos, já casados. Um deles, meu bisavô. Uma única filha permaneceu na Itália.
As histórias dos imigrantes do fim do século XIX viraram até documentário dirigido pelo cineasta Carlos Moletta, primo de Susete: Brava gente italiana.
Mas o Casal da Capelinha tratava mais da saga da parte de pai da família, oriunda de Mussolente, na província de Vicenza. Susete é hoje radicada em Bassano del Grappa, por sinal, na mesma província de onde vieram seus ancestrais e na qual vive agora com o marido italiano Carmine Salvatore Benegiamo. Antes de instalar-se definitivamente em Bassano, ela aprendeu italiano, batalhou para descobrir suas origens, descobriu o caminho das pedras, viajou à terra dos antepassados, conseguiu o passaporte e casou-se, para então depois fixar residência por lá. Muitos da família agora querem seguir os passos de Susete:
— Toda semana há gente pedindo documentos aqui da Itália. A vida no Brasil está muito cara. Todo mundo que vir para cá.
O segundo livro de Susete, Italianos no Novo Mundo, foi feito em parceria com o primo do outro lado Antônio Sérgio Palù Filho, advogado de Curitiba, com quem Comunità também conversou.
— Ele saíram do porto de Le Havre na França e passaram pelo Rio de Janeiro para depois desembarcarem no porto de Paranaguá, Paraná — conta Antônio.
Os 36 membros da família Palù partiram no navio Belgrano com 481 passageiros, em 17 de dezembro de 1877, cruzando o Atlântico em condições duríssimas. A saída da Itália foi motivada principalmente pela miséria e escassez no campo. Foram 26 dias de sofrimentos até o Rio. Do total dos 517 passageiros, 67 a mais do que a capacidade oficial do navio, quatro morreram durante a viagem, entre eles Gaziosa Torresan, casada com Francesco Giuseppe Palù. Do Rio, os imigraram rumaram em embarcações menores até Paranaguá. De lá, instalaram-se na Colônia Nova Itália, em Morretes (PR). Hoje a família Palù tem descendentes espalhados pelo Brasil após quase 140 de imigração.
— Francesco Giuseppe era irmão de meu tetravô Felice Palù e veio junto com ele no navio — revela, orgulhoso, Antônio Sérgio.
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