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Independência da Escócia

Começou nesta manhã (18), a votação que definirá o futuro da Escócia. O país decidirá se continuará parte da Grã-Bretanha ou se irá se tornar um país independente, dando fim a uma união de 307 anos. Quase 4,3 milhões de indivíduos se inscreveram para votar na consulta, o que representa 97% do eleitorado, um número jamais registrado em toda a história eleitoral escocesa. Além disso, é esperado que a presença nas urnas ultrapasse os 80%.

A votação seguirá até às 22h (horário local) e o resultado será conhecido nesta sexta-feira (19). Nas últimas pesquisas, o equilíbrio entre o “sim” e o “não” foi o destaque, com ligeira vantagem do “não” (52%).

Para vencer, aqueles que defendem a independência colocaram táxis à disposição da população que não tem como ir até aos locais de votação. Segundo informações dos próprios separatistas, os automóveis poderão levar até 300 mil pessoas, especialmente jovens entre 16 e 17 anos que estão indo votar pela primeira vez. Eles também distribuíram músicos de gaita de fole por diversos pontos de Edimburgo para chamar a atenção dos eleitores para votar a favor do “sim”.

Já o Banco Central da Inglaterra se prepara para uma “longa noite” para garantir tranquilidade aos mercados caso a Escócia escolha a independência. O jornal Guardian afirmou que há o temor dos escoceses correrem aos bancos para retirar seu dinheiro depositado nas contas bancárias com medo de uma eventual crise econômica. A equipe do Banco se prepara para trabalhar em período integral e evitar uma eventual subida rápida da libra esterlina.

O tenista Andy Murray também se manifestou sobre o referendo através de sua conta no Twitter. Ele afirmou que “hoje é um grande dia para a Escócia. Nenhuma campanha negativa dos últimos dias fez com que mudasse minha opinião. Animado para ver o resultado. Vamos fazer isso!”, escreveu o atleta que é um dos poucos do mundo esportivo a apoiar a separação.

Expectativa
A brasileira Luiza Pires, que voltou da Escócia na semana passada, disse, em entrevista à ANSA, que “deu para notar que Edimburgo estava agitada”. “Havia todo tipo de manifestação, e eu notei que a maioria era a favor da independência”.

Luiza explicou que o que os separatistas querem com a independência é a questão de controle sobre suas próprias riquezas e um governo que não dependa, ou não tenha que responder, a uma rainha que eles não escolheram como governante”.

Os militantes pró-separação defendem que a Escócia é um dos países mais ricos da região, e este seria um dos principais motivos porque a Inglaterra não quer abrir mão deles. Eles ainda querem investir em energia limpa, o aumento de impostos pra garantir melhores serviços públicos e em uma política baseada em igualdade de direitos, inspirando-se em países como Suécia e Noruega, ao contrário da Inglaterra, que se inspira em países “bélicos”, como os Estados Unidos.

“Considerando o quanto eu percebi que eles são tradicionais e amam o país deles (ao contrário da libra da Inglaterra, a deles não tem a rainha estampada), ser independente da monarquia significa muito e vai além dos motivos (fortemente) políticos da questão toda, acho que vai muito para o lado de serem reconhecidos como país, não como mais uma nação que forma o Reino Unido”, concluiu Luiza.

Uma possível vitória dos separatistas assusta as autoridades britânicas. Poucos dias antes da votação, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, fez um apelo pedindo que os escoceses permaneçam no Reino Unido, o qual, segundo ele, “se tornou o que é hoje graças à grandeza da Escócia”. “Por favor, não façam pedaços desta família de nação”, apelou o premier. “A independência da Escócia não será uma separação, mas sim, um doloroso divórcio”, acrescentou.

Além do premier, Nick Clegg, vice-primeiro-ministro e líder do Partido Liberal Democrata, e Ed Miliband, líder do oposicionista Partido Trabalhista, se reuniram nesta terça-feira (16) e assinaram um acordo histórico chamado “O juramento”, que pretende dar mais poderes ao Parlamento escocês caso o “Não” vença o plebiscito no próximo dia 18 e a Escócia permaneça sob asas britânicas.

A rainha Elizabeth II também rompeu o silêncio sobre o tema. De acordo com o jornal “The Times”, a soberana teria pedido para a população da Escócia “pensar com muita atenção sobre o futuro”.

Um representante do Palácio de Buckingham, porém, não quis comentar a possível declaração da monarca, que recentemente disse que não interferiria no referendo, apesar dos apelos de Cameron para que pedisse a vitória do “não”.

A independência da Escócia teria enormes consequências constitucionais, políticas, econômicas e sociais para o país e poderia deixar o país fora de organizações como a União Europeia (UE) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Além disso, o país terá um êxodo de empresas, investidores e companhias financeiras diante das incertezas de uma nova moeda e estrutura de governo.

Além disso, a independência pode ter aspectos negativos para os trabalhistas, que superam amplamente os conservadores na região e contam com 41 deputados no Parlamento britânico, diante de apenas 1 membro do Partido Conservador. (ANSA)