O governo italiano se pronunciou na terça-feira (12) oficialmente a favor das eleições “o mais rápido possível” na Venezuela, mas não reconheceu o opositor Juan Guaidó como presidente interino, em uma moção que gerou reações divergentes
Em uma intervenção perante o Parlamento, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Enzo Moavero, ilustrou a posição de seu país perante a crise no país sul-americano, um tema que provocou fortes tensões no seio do governo de coalizão entre a ultradireitista Liga e o partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E).
O chanceler reconheceu que a Itália “considera que as eleições presidenciais de maio passado na Venezuela não atribuem legitimidade democrática a quem saiu vencedor, ou seja, Nicolás Maduro” e pediu “eleições presidenciais democráticas o mais rápido possível”, mas sem chegar a reconhecer Guaidó como o presidente encarregado para dirigir essa nova fase.
“Não entendemos porque não reconhecem Guaidó. É uma posição incoerente”, reagiu Francisco Sucre, presidente da Comissão de Assuntos Exteriores da Assembleia Nacional venezuelana, da delegação enviada a Roma por Guaidó para tentar conseguir o apoio da Itália, entre os países mais importantes que se negaram a reconhecê-lo como presidente interino.
“Agradecemos que pelo menos o chanceler da Itália tenha dito publicamente que Maduro não tem legitimidade”, reforçou outro expoente histórico da oposição venezuelana, Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas, também integrante da delegação opositora.
O chanceler italiano, que na véspera se reuniu com a delegação enviada por Guaidó, assegurou que a Itália se compromete a “tutelar a segurança e os interesses” da comunidade italiana que reside neste país, formada por mais de um milhão e meio de descendentes.
Medo de uma guerra civil
“A situação é complexa e incerta e existem graves riscos. É preciso evitar que se chegue à guerra civil”, alertou o chanceler.
A posição “neutra” ou “prudente” da Itália é defendida pelo governista M5E, que reiterou nesta terça-feira que “não vamos coroar ninguém que não tenha passado por eleições livres e democráticas”, ao explicar as razões pelas quais se nega a apoiar Guaidó.
A moção aprovada pela Itália inclui de qualquer forma o reconhecimento da Assembleia Nacional como a única instituição legítima deste país sul-americano.
“A Itália sempre teve uma relação muito próxima com a Venezuela. O apoio do Parlamento é fundamental, nos enche de esperança, de força para continuar uma luta que é justa”, comentou Sucre, em tom diplomático, durante uma coletiva de imprensa na qual denunciaram a situação econômica que o país atravessa, castigado pela desnutrição, a pobreza, a falta de medicamentos.
“Estamos do lado certo da história na luta para recuperar a democracia, a liberdade e a prosperidade na Venezuela”, explicou Sucre.
Em carta dirigida aos italianos e em parte publicada pela imprensa, Guaidó pedia à Itália uma posição clara contra Maduro, o apoio a eleições livres e o desbloqueio de ajuda humanitária, o que foi concedido.
A Itália anunciou que vai doar dois milhões de euros para a ajuda humanitária e convidou as partes a “favorecer o diálogo e a reconciliação” para evitar que “atrasem as eleições”.
Para a delegação opositora, Maduro poderia ser candidato em eventuais eleições na Venezuela, embora não descarte que termine com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
“O senhor Maduro é livre para se apresentar nestas eleições, não como presidente em exercício, mas como ex-presidente. Se seu partido o apresentar, certamente aceitaremos”, explicou Sucre, durante uma coletiva de imprensa realizada na sede dos correspondentes estrangeiros.
“Não queremos substituir uma intolerância por outra intolerância”, reforçou.
“É como dizer que o diabo vai à missa. Porque Maduro foge de eleições livres. Também tudo vai depender se vai acontecer o mesmo que com [o ex-presidente] Lula no Brasil”, comentou Ledezma.
Sucre, Ledezma, Rodrigo Diamanti (encarregado na Europa da ajuda humanitária) e o deputado Gabriel Gallo mantiveram reuniões também com representantes do Vaticano e descartaram toda mediação da Santa Sé.
“Que Sua Santidade ore porque a via do diálogo está fechada”, resumiu Sucre.
(AFP)