Comunità Italiana

Jogos e amizade

{mosimage}Organização vitoriosa marcou os participantes pelos serviços considerados de alto nível, o espírito de fairplay e o apoio do governo local

Não só de esporte — o que não é pouco — foram feitos os Jogos Mundiais Militares. O evento, que reuniu durante nove dias atletas e oficiais de 114 países no Rio de Janeiro, foi uma ocasião para celebrar antigas amizades. Esse foi o caso de Brasil e Itália.

Além de ter trazido a maior delegação ao evento, com 154 atletas e 221 pessoas no total, os italianos foram os únicos a montar uma área de convivência fora das vilas e arenas, aberta à visitação pública. Além de celebrar e receber os atletas — não apenas italianos, mas de todos os países que participavam da competição — o Base Itália, montado no Forte Copacabana, promoveu exposições e workshops dedicados aos jogos sustentáveis.

Ascensão e estabilidade

O Brasil tem muito a comemorar no esporte. Além de ter hospedado com sucesso o evento, que não registrou nenhum incidente, o país deu um salto na sua história esportiva e deixou para trás os fracos resultados das últimas edições, como o 33º lugar em 2007, na Índia: superou as expectativas e terminou em primeiro lugar no quadro de medalhas, deixando para trás um gigante nos esportes militares, a China. 

Nos primeiros dias da competição, quando os brasileiros apareciam em segundo lugar, atrás da China, o presidente da Comissão Desportiva Militar do Brasil, vice-almirante Bernardo José Pierantoni Gambôa, contou à Comunità que “já estava superada, e muito, a nossa atuação nos jogos da Índia de 2007”. Adido militar na Itália de 1998 a 2000, Gambôa, ao final do evento, classificou como uma bela surpresa o primeiro lugar do Brasil.

— É lógico que sentia nos nossos atletas que eles estavam vibrando, mas apostei no terceiro lugar. De repente, veio o primeiro. Eles treinaram muito forte, participaram de todos os mundiais do Conselho Internacional do Desporto Militar (CISM) no ano passado e de outros torneios neste ano. Não foi fácil. Todas as medalhas foram conquistadas ponto a ponto, mas a preparação foi acertada — afirmou.

A ascensão fulminante do esporte militar brasileiro pode se explicar pela política das Forças Armadas em relação ao esporte a partir de 2009, ano em que foram publicados editais do Exército e da Marinha convocando atletas de alto rendimento interessados em ingressar como militares. Estabilidade na carreira através de um salário mensal e a disponibilidade de estrutura adequada para os treinos são algumas das vantagens do atleta militar.

Dezenas de esportistas tornaram-se marinheiros, soldados, cabos e sargentos, a exemplo da Waleskinha do vôlei, campeã olímpica em Pequim (2008), que se tornou sargento do Exército e terminou os jogos militares com a medalha de ouro após a vitória das brasileiras sobre a seleção chinesa por 3 sets a 1, e de Jadel Gregório, ouro no salto triplo no Pan-Americano de 2007. Oficial da marinha desde o início do ano, Gregório, devido a uma lesão no joelho, terminou em sexto lugar na competição militar, cujo pódio mais alto foi ocupado pelo triplista brasileiro e sargento Jefferson Sabino.

— Servir às Forças Armadas está sendo muito gratificante. Ficarei na Marinha até quando eu for produtivo. Em comparação com as competições anteriores, posso dizer que agora vou atuar com ainda mais disciplina — contou à Comunità o atleta.

A experiência italiana mostra o papel das Forças Armadas no apoio dos esportes menos prestigiados por patrocinadores e pela mídia, confirma o general de brigada Rinaldo Sestili, chefe da delegação italiana junto ao Conselho Internacional do Esporte Militar.

— Esportes como futebol e vôlei contam com um amplo budget econômico que permitem o treinamento dos atletas. Em outras modalidades, ele é obrigado a conciliar trabalho remunerativo e esporte. Nesse caso, eu chamaria as forças armadas de “braço armado do esporte”. Porque todas aquelas modalidades menores, de qualquer forma, agregam valor através das medalhas conquistadas. E, para as forças militares, é garantia de prestígio apoiá-los junto às suas conquistas — analisa.

Encanto

Apesar de terem sido derrotadas com facilidade (sets de 25/6; 25/5; 25/9) pela equipe feminina de vôlei do Brasil — que acabaria terminando a competição com o ouro — no quinto dia dos Jogos, as italianas saíram da quadra do Maracanãzinho sorridentes. Além de terem ficado encantadas com a torcida brasileira, que aclamou as jogadoras azzurre aos gritos de Itália, Itália, elas elogiaram a beleza da cidade e afirmaram não esperar uma vitória diante das anfitriãs.

— A equipe brasileira é muito forte, imbatível, com jogadoras estupendas. Somos militares e jogamos vôlei no nosso tempo livre. Quando podemos estar juntas, jogamos, por cerca de três semanas por ano. Damos nossa alma e fazemos o máximo que podemos. Claramente, não estamos no nível do Brasil — contou à Comunità a capitã Cristina Zonca, que já havia estado na cidade durante o campeonato mundial de vôlei, dois anos atrás — Sinto muito apenas por ficar tão pouco tempo — completou a piemontese.

China e Brasil formaram as duas equipes mais fortes, na opinião do técnico da equipe brasileira, Hélio Griner.

 — O campeonato está em um nível mais abaixo de China, Brasil e Alemanha. Por isso, os jogos acabam sendo muito fáceis. Os outros países não devem investir tanto na disciplina da equipe militar, e talvez não encarem a competição como nós — analisou.

Favoritismo

Brasil e Itália se enfrentaram no vôlei de praia feminino no dia 18 de julho. Em plena segunda-feira, as areias de Copacabana receberam as brasileiras Camila Fonseca e Rachel Nunes e as italianas Marta Menegatti e Greta Cicolari. Com excelente performance no Circuito Mundial, a dupla italiana chegou como favorita na competição. No dia anterior, vindas da Rússia, não chegaram a tempo para a partida contra a China. Perderam de W.O.

— Estávamos em Moscou, fomos às semifinais e perdemos na disputa do terceiro lugar. Correu tudo bem com o voo, mas realmente não dava para chegar a tempo para a estreia no Rio. Até pouco antes da competição, não sabíamos se poderíamos vir ao Rio por causa desta questão delicada — afirmou Menegatti.

A questão a que a atleta se referiu foi o caso Cesare Battisti, onde uma onda de protestos do governo e do povo italiano sobre a permanência do ex-ativista no país lançou a dúvida se a Itália participaria ou não das competições no Brasil. Decisão tomada, Cicolari e Menegatti chegaram em solo carioca e venceram a dupla brasileira (sets de 21/12 ; 21/11).

— Eu esperava o jogo um pouco melhor. Demos o nosso máximo, mas não ganhamos. É um time que está em quarto no Circuito Mundial, a gente já esperava que fosse difícil — observou a brasileira Camila, após a derrota.

As italianas comemoraram o bom resultado, deixando a modéstia de lado, afirmando ser “muito difícil jogar depois de uma viagem longa”. Menegatti ainda disputou outro posto: o de musa dos Jogos Militares. Com apenas 20 anos, a oficial da Aeronáutica chamou atenção do público não só pela beleza como pela simpatia. Ela, entretanto, prefere que as pessoas observem seu desempenho em quadra.

— Espero que as pessoas não vejam só a beleza, mas também a maneira como jogo — disse.

O vôlei de praia participou pela primeira vez das competições do CISM nos 5º Jogos Mundiais Militares. A modalidade foi disputada por 11 duplas masculinas e oito femininas, com medalhas de ouro e bronze para o Brasil nas duas categorias. As duplas chinesas ficaram com as de prata. A dupla formada pela sargento Leão e pela sargento Ângela venceu a dupla Camila e Rachel. A dupla masculina Rogério e Roberto, após vencer a dupla angolana, saiu vitoriosa em partida contra os atletas militares Rathna Pala e Perera, do Sri Lanka. A conquista da medalha marcou a despedida do Sargento Rogério, conhecido como Pará.

— Só tenho a agradecer ao Exército Brasileiro por ter me dado a oportunidade de me aposentar em um torneio desse porte — afirmou.

Para Roberto, foi uma satisfação muito grande participar do evento, na sua cidade natal.

— A sensação é muito boa. Essa é a segunda vez que consigo jogar no Rio. É a minha cidade, onde nasci, onde sempre treinei — revelou.

Embora valesse medalhas e títulos, as partidas foram marcadas pela harmonia e comportamento amistoso de ambos os lados. A torcida aplaudia, gritava, incentivava independente de quem fizesse os pontos. O importante ali era verdadeiramente participar.

— É um evento grande que conta com a presença de vários atletas renomados. Estou gostando muito de participar e representar o Brasil. Somos adversários dentro de quadra, mas fora somos amigos e todo mundo se fala — conta Camila Fonseca.

Teste para o Rio

Considerado um teste de organização para a cidade sede das Olimpíadas de 2016, a quinta edição dos Jogos Mundiais Militares — Rio 2011 — foi considerada pelo presidente do Conselho Internacional de Esporte Militar (CISM), o coronel Hamad Kalkaba Malboum, a melhor das realizadas até hoje. Presente no Base Itália, o oficial camaronês, que também é membro do comitê da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), afirmou à Comunità que estava muito satisfeito com o evento no Brasil. Ele elogiou a cerimônia de abertura, que classificou de “bonita e colorida”, e ressaltou “os serviços de alto nível, o espírito de fairplay e amizade, e o apoio do governo local”.

Apesar da avaliação positiva geral, os atrasos no transporte das vilas até os locais de competição e a falta de espaço nos arredores do estádio do Engenhão foram comentados por membros de delegações e atletas. O chefe da delegação italiana, Rinaldo Sestili, elogiou a estrutura e os serviços das vilas olímpicas – todas situadas na zona oeste da cidade – mas lembrou que de lá até os bairros do centro e da zona sul, sedes de várias competições, o trajeto durava pelo menos uma hora, sem contar com engarrafamentos. Ele também elogiou as instalações do Engenhão.

— A viabilidade em torno do João Havelange (o Engenhão), um estádio de primeiríssima qualidade, com certeza será resolvida. Levamos muito tempo para chegar ao local por causa do trânsito e das ruas estreitas, mas certamente encontrarão uma solução. E rever o Maracanã, atualmente em obras de reestruturação, foi como ver um pedaço da história. O maior estádio do mundo será ainda maior e mais bonito — comentou o general Sestili.