{mosimage}Mostra na Triennale de Milão reúne 300 objetos inspirados no instinto da vida, como móveis em forma de órgãos sexuais e porcelanas antigas com figuras humanas em plena relação
A exposição dos objetos de expressão sexual iluminou de vermelho uma das alas do museu do design, o Triennale, em Milão. Entre as duas estátuas que abrem e fecham a mostra — esculturas de madeira de indígenas de ilhas do sul do oceano Pacífico que retratam a fertilidade masculina — está uma coleção de cadeiras, sofás e armários que celebra os órgãos sexuais, externos e internos, do homem e da mulher, sem falar nos artigos de cama, mesa e banho, além das fotografias e instalações que remetem à representação da sexualidade em diferentes sociedades do Ocidente e do Oriente. Nomes ilustres como o de Salvador Dalí, dos designers Gaetano Pesce, Ettore Sottsass e Fabio Novembre, Nendo, Nigel Coats, Matali Crasset, Italo Rota, Andrea Branzi e Betony Vernon, entre tantos outros, são alguns dos integrantes deste mosaico de objetos reunidos na mostra Kama, Sexo e Design, que vai até 10 de março.
A curadoria é de Silvana Annicchiarico, que decidiu censurar a exposição para menores de 18 anos.
— Eu acho que esta mostra é para pessoas maduras. É preciso ter uma certa vivência para compreender melhor esta exposição. A função dos objetos selecionados é antes de tudo comunicativa: deve anunciar alguma coisa — explica Silvana à ComunitàItaliana.
A curadora encontrou as obras em museus europeus, coleções privadas e galerias de arte e conta que a seleção das peças, que cobrem um arco de tempo que vai dos gregos e romanos antigos aos dias de hoje, não foi fácil. Vasos com figuras humanas em plena relação sexual, retratadas dois mil anos atrás, e até manilha de armário em forma de um pênis em ereção traçam o roteiro da interpretação do sexo segundo os costumes e os meios de comunicação de um ou de vários períodos históricos, como objetos realizados na época da revolução sexual, no final dos anos 1960 e no começo da década seguinte. Dos afrescos de Pompeia e da cerâmica etrusca a modernos lampadários, o sexo e o mundo de Eros ganham contornos concretos e explícitos. E mais do que em lojas de “sex-shop”, estes objetos que retratam o desejo e/ou os caminhos para alcançá-lo estão presentes em locais acima de qualquer suspeita pornográfica, sempre que o limite entre o bom e o mau gosto possa ser traçado de forma imaculada, até porque a fronteira entre um e outro é uma questão muito pessoal e, muitas vezes, pouco coletiva.
Pés de cadeira em forma de pernas de mulher, encosto de sofá desenhado como os grandes lábios de uma vagina (o famoso sofá Mae West, de Salvador Dalí) e pratos de porcelana chinesa com desenhos eróticos mostram que, assim como no sexo, a imaginação para representá-lo não conhece limites. Saborosos doces, criados e desenhados à imagem e semelhança de seios, ou “inocentes” peças fálicas remetem o espectador a um mundo que ainda vive de tabu e se contorce entre o direito ao prazer e o dever da reprodução da espécie.
Para quem usa e para quem projeta e produz, o sexo é uma fonte inesgotável de transpiração. O “deus” indiano do prazer, Kama, a palavra sexo e o vocábulo inglês design compõem as pilastras de uma mostra que indaga, no inconsciente coletivo, a projeção realística e a transposição concreta das ideias e das emoções que têm origem no erotismo, nos prazeres carnais e espirituais. A exposição foi articulada em oito seções. A primeira chama-se Arquétipos e a ela seguem-se Priapo, Origem do Mundo, Seios, Glúteos, Orifícios, Acasalamentos, Erotic Food Design. Os corredores abrigam Obsessões Magistrais (com imagens e desenhos de Carlo Mollino, Ettore Sottsass e Piero Fornasetti).
Os órgãos genitais e sexuais são explorados com a criatividade de um artista e servem de ponto de partida para as obras de livre expressão. Ao todo, são 300 objetos em exposição que revelam a relação do design com o instinto da vida. E um deles, The Great Wall of Vagina, de James McCartney, traz uma grande muralha de gesso com os moldes das vaginas de 400 mulheres apresentando o órgão sexual como uma identidade própria e única de cada uma das infinitas origens do mundo.