Uma fábrica de marron-glacé
Tudo bem que em Roma não se encontra o famoso Montblanc da Doceira Angelina de Paris. Mesmo sendo um doce muito apreciado em Roma, não é o forte da cidade. Mas quem é viciado em castanha, marron-glacé e afins, pode se consolar na Giuliani, uma antiga fábrica que existe desde meados do século passado. Eles realizam os doces de maneira completamente artesanal.
E também criam diversos tipos de chocolate. Imperdível o marron-glacé coberto com chocolate. Fica na Via Paolo Emilio 67, no bairro Prati.
Roma e Paris: paixão e amor
Acabo de voltar de umas férias em Paris e Londres. Se Roma é meu grande amor, aquele que veio para ficar, Paris foi e continua sendo minha paixão. Peço desculpas ao leitor se faço uma pausa na coluna deste mês e deixo de falar só da Itália. Na realidade, eu vim parar em Roma por acaso. Minha intenção, há dez anos, quando deixei o Brasil, era ir a Paris, e não a Roma. Paris, onde eu tinha morado por meio ano quando tinha 23 anos. Paris, onde me descobri pela primeira vez. Mas apesar de ter uma possibilidade de emprego por lá como professora, eu queria mesmo era escrever um livro sobre a cidade e meu editor já tinha encarregado um jornalista de escrever um guia sobre Paris. Ora, mas teria outra cidade que você teria interesse em mapear? Ele me perguntou. Não titubeei: Roma. E Roma foi. Mas a capital francesa sempre ficou no sonho e vira e mexe me pego sonhando em morar na Cidade-Luz. Morando em Roma, cidade com poucas opções de cozinhas de outros países, sinto saudades de tantas delícias francesas. Do croissant salgado que derrete na boca, para começar. Afinal, na Itália, o croissant é doce. Sonho acordada com os doces franceses, que parecem joias expostas nas vitrines. Sonho o Montblanc da Doceira Angelina na Rue de Rivoli. Sonho os macarons do Pierre Hermé, principalmente o de sabor jasmim e de chocolate com maracujá. Penso com nostalgia nos sanduíches deliciosos franceses, tanto os sanduíches na baguette quanto os eternos croque monsieur e croque madame. Ah, como morro de saudades de tarte tatin e de crème brulé, minhas sobremesas favoritas. E o que dizer dos inúmeros restaurantes árabes e vietnamitas… E dos azulejos do metrô com os cartazes imensos de propaganda. E das mostras de arte e fotografia grandiosas. Das plaquinhas nas ruas dizendo aqui morou fulano de tal. Dos museus desconhecidos e infinitos. Dos parques impecáveis. Das cadeiras de vime dos cafés. Dos concertos de música clássica em algumas igrejas. Ah, tantas vezes, em sonho, vou à França. Toda vez que posso dar um pulinho neste amigo e rival da Itália (um pouco como paulistas e cariocas!) vou sem pensar duas vezes. Minhas idas a Paris são sempre compostas de duas partes: peregrinar e escavar. Peregrinar significa visitar os lugares amados e pra lá de conhecidos. Escavar significa descobrir lugares novos, desbravar caminhos por onde nunca passei antes, e Paris, por ser infinita, permite sempre isso. Nesta viagem foi assim também.
Penso em Paris e penso na primeira paixão da minha vida, que, é claro, aconteceu em Paris. Durou pouco, mas permaneceu a lembrança intensa no tempo, depois de todos esses anos. Talvez porque não tenha sido completamente concretizada, tornando-se convivência, o sentimento não tenha se exaurido. Permaneceu tão forte quanto meu amor por Paris. Ambos ficaram idealizados, parados no tempo, não consumados pelo dia a dia, quando podemos perceber defeitos por meio do cotidiano.
Talvez seja melhor assim. Paris, parada no tempo, de quando havia 23 anos e adorada para sempre. Roma, às vezes amada, às vezes detestada, como um amor real, com os altos e baixos do cotidiano.
Satisfeita com minha conclusão, perambulando pelas ruas da minha cidade idealizada, fui tomar um vinhozinho para comemorar esta constatação. Fui deixando meus passos escolherem o lugar mais propício e, quando me dei conta, parei na frente de uma brasserie, perto da Gare St Lazare que não poderia ter nome mais apropriado: Brasserie Paris Rome. Uma grande paixão e um grande amor. Que mais se pode querer na vida?