Falseum
Na Itália, onde não faltam museus, não poderiam deixar de inaugurar outro, recentemente. Dessa vez, um museu dedicado à mentira, ao falso. Localizado na cidade de Verrone, na região de Piemonte, conta como o homem, com afirmações e atitudes falsas, mudou a rota da história. Desde que o mundo é mundo, o homem inventa mil artimanhas para enganar. O objetivo do museu é educativo, pois é através das mentiras do passado que podemos distinguir entre a verdade e as mentiras do presente.
Exagerados!!!
Os italianos são famosos pela teatralidade e pelo exagero. Concordo. E até gosto disso. Uma pitada de exagero não faz mal a ninguém. Dá cor e sabor às coisas. Mas, ultimamente, percebo que meus conhecidos italianos têm usado a teatralidade para tudo, até para maus propósitos.
A começar por um de meus médicos. Por conhecer seus atrasos, decidi marcar consulta sempre no primeiro horário do dia, para diminuir a probabilidade de ficar esperando. Mesmo assim, ele continuava chegando atrasado. A cada vez inventava uma desculpa daquelas bem esfarrapadas. Da última vez, vendo que eu estava com cara de brava, depois de uma hora de atraso, ele já foi se defendendo:
“Estou aqui por puro milagre. Tive um derrame hoje de manhã”.
Ouvi tudo pacientemente, mas, cá entre nós, não acreditei muito. Porém, me senti um pouco em culpa por duvidar da palavra dele.
Existe outra pessoa em Roma que dramatiza até não poder mais. Ele está me devendo dinheiro por vários textos que escrevi para a sua empresa. Cada vez que eu ligo para cobrar é a mesma ladainha: “Estou com 40 graus de febre, uma gripe daquelas!” Andei pressionando tanto ultimamente para obter minha soma, que as desculpas têm se multiplicado como o milagre da multiplicação dos pães e peixes. Da última vez, esgotado o número plausível de gripes que uma pessoa pode pegar, ele apelou para a minha compaixão: “Tive um colapso nervoso, não posso sair de casa por um mês”. Obviamente, a consequência disso é que o nosso encontro e o bendito pagamento foram para o brejo. Serei maldosa de pensar que era mais uma mentira cabeluda?
E olha que, além dos casos mencionados acima, teria muitos outros para contar. Mas vou parar por aqui. Não quero chorar pitangas. Senão, meu caro leitor vai achar que, depois de mais de uma década de convivência com os italianos, eu também tenho um pé no melodrama.